A semana do Benfica pode ficar resumida numa expressão: E-Toupeira. A SAD dos 'encarnados' já tinha sido constituída arguida na última semana no âmbito deste processo, mas esta semana foi conhecida a tese de acusação. O Ministério Público (MP) acusou dois funcionários judiciais, a SAD do Benfica e um seu colaborador de vários crimes, incluindo corrupção, favorecimento pessoal, peculato e falsidade informática, no caso "e-toupeira". Os mais de 500 acessos de forma ilícita a 26 processos diferentes, e em segredo de justiça, e as centenas de crimes de que os arguidos estão acusados fez esquecer a goleada na Madeira frente ao Nacional e que deu aos encarnados o primeiro lugar do campeonato.

Depois da goleada na Grécia frente ao PAOK que valeu o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões e o acesso aos tão desejados 43 milhões de euros - Bayern Munique, AEK Atenas e Ajax -, a equipa de Rui Vitória tomou o gosto pelas vitórias gordas e marcou quatro golos sem resposta ao recém-promovido à I Liga. Seferovic foi o homem do jogo ao marcar um golo e ao fazer uma assistência para o de Salvio. O suíço voltou a fazer balançar as redes oito meses depois de o ter feito pela última vez e atirou para o banco pelo segundo jogo seguido o argentino Ferreyra. Pizzi voltou a fazer o gosto ao pé - Rafa Silva marcou o quarto golo - e continua a ser homem-golo das 'águias' neste início de época que ainda não viu Jonas e aguarda pela recuperação de Castillo. A paragem para os jogos de seleções poderá ser fundamental para a recuperação dos dois atletas. A propósito da Liga dos Campeões, destaque para as ausências de Luisão e Samaris da lista de inscritos.

Mas centre-mo-nos naquele que foi o grande tema da atualidade benfiquista desta semana. A SAD do Benfica e restantes acusados foram constituídos arguidos por vários crimes, entre eles corrupção passiva (e pena acessória de proibição do exercício de função), corrupção ativa e oferta ou recebimento indevido de vantagem, favorecimento pessoal, violação do segredo de justiça, violação de segredo por funcionário, peculato, acesso indevido, violação do dever de sigilo e falsidade informática. Ainda antes de ser notificada desta acusação, a SAD do encarnados considerou-a "absurda e injustificada", tendo depois dado conta que foi notificada e iria reagir publicamente ao caso.

A gravidade destes crimes levou a que o Ministério Público pedisse uma pena acessória para a SAD dos encarnados por considerar que comportamento da sociedade anónima ameaçou a verdade desportiva.  Se os factos forem provados e o Benfica condenado, o clube 'encarnado' pode ser enquadrado no artigo 4º da lei nº 13/2017 e arrisca a uma suspensão da participação em provas desportivas profissionais por um período entre seis meses e três anos. Além disso, o Benfica poderá ficar proibido de aceder a benefícios e incentivos da parte do Estado durante um período de um a cinco anos.

Com a tese de acusação tornada pública, vários meios de comunicação começaram a divulgar excertos do que estava no documento elaborado pelo Ministério Público. Ficou a saber-se que a SAD do Benfica está acusada de 30 crimes no processo e o seu assessor jurídico Paulo Gonçalves de 79 crimes. O MP acusou a SAD [Sociedade Anónima Desportiva] do Benfica de um crime de corrupção ativa, de um crime de oferta ou recebimento indevido de vantagem e de 29 crimes de falsidade informática. Esta revelação da tese de acusação levou a que o Conselho de Disciplina da FPF abri-se uma investigação ao caso.

Foi revelado que as duas alegadas 'toupeiras' do Benfica, José Silva - está em prisão preventiva há seis meses - e Júlio Loureiro acederam mais de 500 vezes a 26 processos a pedido de Paulo Gonçalves. Os dois arguidos eram 'recompensados' com bilhetes para  jogos, camisolas e lugares de estacionamento no estádio da Luz, tudo alegadamente com a autorização de Luís Filipe Vieira, presidente do clube e SAD encarnada. Além disso, o Benfica terá espiado nove ex-árbitros e a Polícia Judiciária descobriu crimes combinados através de uma aplicação para telemóvel.

Ora, o líder máximo dos encarnados saiu do repouso ordenado pelo médico e garantiu que "não existe qualquer facto que permita imputar à Benfica SAD os crimes descritos". Quem também reagiu foram João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto, que pediu "celeridade" e "justiça" na investigação a este caso e Júlio Loureiro, um dos acusados, que continua a trabalhar no Tribunal de Guimarães e garantiu que está inocente. A defesa da SAD do Benfica já está a ser preparada e não conta com Paulo Gonçalves, que se encontra cada vez mais isolado dentro da sociedade anónima dos encarnados. Nesse sentido, a SAD vai requerer a abertura da fase de inquérito, que irá contar com o Sporting como assistente.

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