Rúben Amorim. O comboio só passa uma vez?

Rúben, como teu colega, tens de ir.
Não é o momento ideal, é verdade, estás em 1º lugar da Liga Portuguesa e impões um domínio tático evidente em todos jogos. Estás a construir mais uma época vencedora para o Sporting, que pode até posicionar-me como maior treinador da história do clube, mas também é por isso mesmo que deixas um legado incrível no Sporting.

Curiosamente, o Manchester United está um pouco como o Sporting estava quando entraste. A necessitar de uma limpeza, de energia positiva, de comunicação fácil, direta e assertiva. E, acima de tudo, de sentido de Clube e Equipa.

Mais, nós treinadores temos a total legitimidade de sair de um projeto, respeitando questões legais e agarrando a oportunidade para novos desafios. Situação tão normal como ter que sair forçado, mais uma vez legalmente, sem terminar um projeto. O Manchester United paga a cláusula, Sporting fica a ganhar financeiramente e tu sais a respeitar tudo e todos.

Neste momento o Manchester United precisa de uma liderança como a tua; que agregue.

Provavelmente, este comboio ou outro semelhante poderia até surgir na tua carreira, porque és competente, mas tal como escreveu Viktor Frankl , o pai da Logoterapia, “na responsabilidade da decisão está a verdadeira liberdade do ser humano”. E tu és livre de escolher o teu caminho.

O impacto na Equipa e na Estrutura do Sporting:

Tenho alguma experiência neste campo estrutural e organizacional para referir que a preparação da saída de Ruben Amorim deve (ou deveria) ter sido iniciado no momento da sua entrada.

Um Treinador é um elemento fundamental na dinâmica organizacional e de potencialização dos ativos de uma estrutura. Cria uma cultura de comunicação e de filosofia comportamental através das suas decisões.

O clube vive e interage como um ser-vivo, com a dinâmica do Treinador…. e Ruben Amorim foi um ser super-activo na interação com o Clube.

Conseguiu uma unanimidade de opinião positiva entre o universo do Sporting. Funcionários, Jogadores, Adeptos. Criou a sua própria cultura. E que cultura é essa? De superação baseada em humildade, trabalho e coragem.

Pegou em jogadores para vê-los e torná-los melhores. Respeitou-os, potenciou-os, melhorou-lhes a vida. Os jogadores devem-lhe isso.

Seria agora uma ironia os jogadores não entenderem o momento de partida do seu líder.
Este passo, ao concretizar-se, deve ainda mais ser um tónico motivacional para os jogadores, estrutura do clube e adeptos.

Tudo é possível. É só acreditar.

Conselhos para o novo líder:

Um líder forte centra em si as decisões, atenções e responsabilidades. Centra em si o suporte aos jogadores - muitos deles nada habituados às andanças de Liga dos Campeões.

A saída de Rúben Amorim, vai, de forma natural, deixar um vazio.
E esse vazio é a realidade.

Ninguém vai conseguir substituir o Ruben Amorim. Nem deviam tentar.
Mas o próximo líder deve, sim, usar o exemplo do Rúben como a referência motivacional para a superação.

Um abraço e boa sorte Rúben. Tornas-te um dos maiores expoentes internacionais da fantástica escola de treino portuguesa. E isso é um orgulho para todos nós!