A direção da Académica do Mindelo vai fazer entrar, no Tribunal de São Vicente, uma providência cautelar para suspender uma decisão do Conselho de Justiça da FCF que deu razão a um protesto do FC Derby.
Em causa está o acórdão nº1 de 2017 do Conselho de Justiça (CJ) da Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF) em que a mesma aplicou a pena de derrota nos cinco jogos em que a Académica do Mindelo utilizou o guarda-redes Ken, por alegada “inscrição ilegal”, no campeonato regional de São Vicente, que entra, este fim-de-semana, na sua última jornada.
Alega o CJ no seu acórdão que existem “discrepância” na inscrição do futebolista em causa uma vez que “ficou provado” que o futebolista Keven Jorge Sousa Ramos, conhecido por Ken, que foi inscrito e licenciado para a época 2016/2017 para jogar na Académica do Mindelo, é o mesmo jogador Kevin Jorge Ramos Sousa, que jogou pelo Nacional da Madeira (Portugal), seu último clube no estrangeiro.
Em conferência de imprensa, o presidente da direção da Associação Académica do Mindelo, Manuel Cabral, anunciou que o seu clube não se revê na decisão, até porque, sustentou, a matéria julgada no acórdão é do foro criminal e não da justiça desportiva.
Sobre o processo, o dirigente considerou que o CJ foi “ligeiro” em constatar que o Ken, nascido em 1989, é a mesma pessoa nascida em 1994, pois a inscrição do futebolista na Associação Regional de Futebol de São Vicente foi feita com base num dossiê que continha todas as peças necessária e exigidas para a sua inscrição.
“O CJ pôs em causa a credibilidade das instituições da República tais como o Arquivo de Identificação de Cabo Verde, o Cartório Judicial e a Casa do Cidadão, porque nós temos documentos originais que provam que o nosso jogador está bem inscrito”, reforçou a mesma fonte.
Assim, a direção da Académica do Mindelo, clube que lidera isolado o campeonato de São Vicente com três pontos de vantagem sobre o segundo classificado a uma jornada do fim da prova, avisa que “não vai tolerar” que um jogador “inscrito legalmente”, com “toda a documentação nacional autêntica”, seja posta em causa.
“Se há ilegalidade cabe à FCF e às instituições da República investigar e eliminar de vez esse mal”, lançou Manuel Cabral, sustentando que a Académica é uma “instituição de bem” e que “nunca iria tolerar mecanismos” que poderiam prejudicar o clube e ser conotado com falsificações.
“Vamos esmiuçar e sacudir todas as poeiras até o apuramento da verdade e se ficarmos prejudicados iremos até as últimas consequências doa a quem”, lançou, pois, sintetizou, se há gente que falsifica documentos há que “limpar o nosso nome” porque não pactuamos com isso.
O assessor jurídico do clube, Armindo Gomes, por seu lado, indicou que a providência cautelar é só o primeiro passo que deve resultar, no prazo de um mês, na ação principal que irá interpor no Tribunal da Comarca de São Vicente.
“A Académica sente-se prejudicada e admite recorrer à FIFA, embora espera não chegar a tal, pois foi a própria Associação de Futebol de São Vicente que a autorizou o jogador a participar no campeonato”, lançou o jurista, lembrando que primeiro vai recorrer ao tribunal de São Vicente para que este “pare” com as ilegalidades cometidas no acórdão do CJ da FCF.
“Como pode um clube, neste caso a Académica, solicitar o certificado internacional de um jogador cujo nome nunca esteve inscrito em Portugal”, questionou Armindo Gomes, sustentando que a decisão não está transitada em julgado e não é definitiva.
“Não cometemos nenhuma ilegalidade, por isso vamos recorrer a todos os meios para repor a legalidade”, concretizou, lembrando que a FIFA não vai gostar de saber que no futebol cabo-verdiano, “em diversas ilhas”, um jogador foi inscrito pela FCF e que ele jogou com um outro nome “talvez”, referindo-se a “dezenas de futebolistas” que poderão estar nessa situação.
“Seria um escândalo nacional, pois iríamos investigar situações anómalas futebol cabo-verdiano no Sal, que sabemos que existem, em Santiago, com certeza deve haver, e em São Vicente também”, concluiu.
O acórdão do CJ da FCF, datado de 21 de Abril, decidiu aplicar a Académica do Mindelo a pena de derrota em todos os jogos (cinco) em que o clube fez alinhar o futebolista Ken, para além de uma multa pecuniária de 25 contos (225 euros). Ao jogador coube uma pena de cinco meses de suspensão.
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