Um jogador denunciou à Lusa incumprimentos salariais de temporadas anteriores, por parte de União da Madeira e Portosantense, clube que já teve 14 atletas beneficiados pela causa solidária de futebolistas do Campeonato de Portugal durante a pandemia de COVID-19.
“Não passamos fome, mas falta-me um ordenado para sobreviver no dia a dia. Apesar das constantes promessas, ainda não resolveram nada e já não sei para que lado é que me viro quando chega a hora de liquidar as contas”, partilhou à agência Lusa um dos 14 jogadores a viver na sede do emblema insular, sob anonimato, por medo de represálias.
Há uma semana, o atleta manifestou dificuldades de subsistência ao treinador Ricardo Cravo, que deixou os ‘profetas’ em janeiro para ser coordenador técnico do Fátima e solicitou o apoio da iniciativa “Do Futebol para a Vida”, cujos promotores transferiram fundos, na quarta-feira, para a compra de alimentos num “momento nada fácil”.
“Estou num espaço com vários quartos e boas condições, rodeado de jogadores estrangeiros e acompanhados pelo responsável máximo do clube, que tem a responsabilidade de agir por bem connosco. Desta direção nada tenho nada a dizer, já que cumprem tudo o que prometem. Falta é ajustar contas com o passado”, frisou.
Sem especificar as quantias relacionadas com os dois clubes madeirenses, o futebolista chegou a trabalhar durante o verão num bar para atenuar despesas, antes de passar a viver com colombianos e argentinos na sede do Portosantense, que voltou a representar em setembro e pelo qual somou 12 derrotas e dois empates em 14 encontros.
“Os novos administradores chegaram cá esta época e acordaram que não iam contribuir com salários, à exceção de algumas ajudas de custo, como gasóleo ou alimentação”, esclareceu o futebolista da formação ‘azul e branca’, que jogou pela última vez em 08 de março, sofrendo novo desaire para o campeonato distrital frente ao Camacha (2-0).
Seguindo as diretrizes da Federação Portuguesa de Futebol para as competições não profissionais, a Associação de Futebol da Madeira ditou a conclusão antecipada da prova em 16 de abril devido ao novo coronavírus, sem aplicar o regime de subidas e descidas que penalizaria o Portosantense, 12.º e último classificado, com apenas dois pontos.
Mesmo sem desafios programados para os próximos meses, o regresso dos 13 estrangeiros aos respetivos países vai depender do levantamento do estado de emergência em Portugal, cujo terceiro período de 15 dias termina em 02 de maio e prosseguiu as restrições impostas ao tráfego aéreo desde meados de março.
“Tem sido uma situação aborrecida, mas estamos a respeitar a quarentena e a aguardar pela autorização do Governo regional para cada um viajar. Devemos esperar até ao último momento para agir, mas é preciso normalizar estas situações antes de pensarmos na próxima época”, referiu à agência Lusa o administrador da SAD Cristiam Borda.
Em conjunto com o sócio Cristián Guerrero, o representante da academia Galaxy FC International visitou as instalações do Portosantense em agosto e ficou interessado em investir na sociedade anónima do clube insular, demorando menos de um mês a formalizar uma parceria focada na promoção de jovens jogadores colombianos.
“Temos 22 atletas e a ideia é continuar por cá todo o tempo que seja possível. Para já, o presidente da academia [Henry Barón Baquero] está a coordenar tudo a partir da Colômbia, esclarecendo as situações de cada jogador”, elucidou, acerca de um projeto que tem como um dos rostos o ex-internacional brasileiro Ronaldo.
Apesar das quebras de receita originadas pela paragem competitiva, Cristiam Borda aguarda pelas indicações da Associação de Futebol da Madeira para “gerir ajudas”, consciente dos “obstáculos” com que se vai deparar o grupo de investidores, que também controla os andorranos do Jenlai e a academia colombiana Scorpions.
Certo é que as dívidas reivindicadas pelo atleta funchalense não serão liquidadas pela atual administração do Portosantense, coletividade fundada em 1948 e que constituiu a SAD há quase três anos, ao abrigo de um protocolo semelhante celebrado com os nigerianos da Diamond Academy, de Martin Apugo, que se revelou um fiasco.
Já o centenário União da Madeira foi da I Liga à insolvência em igual período e vê a crise financeira agravar-se de forma quase irremediável, tendo a pandemia de COVID-19 obrigado o Governo regional a adiar a regularização de oito subvenções públicas, estimadas em cerca de 130 mil euros, mais 40 mil relativos a viagens.
Essas tranches ajudariam a aliviar os compromissos da SAD azul e amarela, que deve três ordenados desta temporada e cinco meses da anterior a atletas, técnicos e funcionários, mas concluiu a Série A do Campeonato de Portugal no 13.º lugar e recebeu este mês 11.400 euros do fundo de garantia salarial do Sindicato dos Jogadores.
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