Quando Roberto Mancini liderar a Itália na final do Euro2020 em Wembley, este domingo, com o seu querido amigo Gianluca Vialli bem perto, os dois vão inevitavelmente pensar na sua maior desilusão como jogadores, naquele mesmo local.

Os dois nasceram com poucos meses de diferença e eram conhecidos como o 'I gemelli del gol', os gémeos do golo, durante oito anos gloriosos juntos na Sampdoria.

Mancini e Vialli jogaram juntos numa equipa da Samp que venceu a Taça dos Vencedores das Taças e que levantou a Coppa Itália três vezes, antes da joia da coroa, o Scudetto em 1991, o único título da Serie A do clube até hoje.

Poderiam ter sido ainda mais gloriosos, mas a Sampdoria perdeu a final da Taça dos Campeões Europeus de 1992, graças ao livre de Ronald Koeman no tempo extra em Wembley.

Depois disso, Vialli - o melhor marcador da Serie A na época em que conquistou o título - saiu para a Juventus e a parceria terminou.

Os dois acabaram por terminar a carreira em Inglaterra e ambos treinaram na Premier League. Continuaram a ser amigos próximos e agora estão juntos na equipa técnica italiana, a preparar a forma de derrotarem os anfitriões na final.

Mancini tornou-se selecionador italiano em 2018, encarregue de retomar as glórias de uma equipa que falhou o apuramento para o Mundial daquele ano.

Foi bem-sucedido e com estilo, com a Itália num recorde nacional de jogos sem perder que aumentou para 33, depois da vitória nos penáltis frente à Espanha, na meia-final.

Vialli tornou-se chefe de delegação italiana em 2019 e o abraço emocionado dos dois depois dos Azzurri baterem a Áustria por 2-1 no prolongamento em Wembley, nos oitavos de final, tornou-se uma imagem que define a caminhada do país neste Europeu.

O abraço entre Mancini e Vialli
O abraço entre Mancini e Vialli O abraço entre Mancini e Vialli créditos: EPA/Laurence Griffiths / POOL

"Como um irmão"

"Eu e o Gianluca já nos conhecemos há muito tempo, por isso é natural que seja diferente", disse Mancini quando questionado sobre a amizade com Vialli, antes da meia-final com a Espanha.

"Não crescemos juntos, mas é quase como se tivéssemos. Passámos vários anos juntos e temos uma relação que ultrapassa uma simples amizade. É quase como um irmão para mim, à semelhança de todos aqueles com quem joguei naquela equipa da Sampdoria".

Existe uma forte ligação à Sampdoria na equipa técnica da Itália, para além dos gémeos do golo: o staff de Mancini também incluí os antigos colegas de equipa Alberico Evani e o antigo guarda-redes Giulio Nuciari, mas também Attilio Lombardo, outro membro da equipa que chegou à final da Taça dos Campeões Europeus e que mais tarde jogou e treinou em Inglaterra.

Federico Chiesa, marcador do golo da Itália frente à Espanha, é o filho da antiga estrela da Sampdoria Enrico Chiesa.

Batalha contra o cancro

Mas existe um elemento emocional mais profundo na história de Vialli.

O antigo jogador e treinador do Chelsea, que celebrou o seu 57.º aniversário na sexta-feira, estava a fazer tratamento contra um cancro do pâncreas na altura em que Mancini assumiu a La Nazionale.

Foi só em abril do ano passado que ele recebeu autorização depois de uma segunda batalha contra a doença.

"Reconquistar a minha saúde significa olhar-me ao espelho novamente, ver o cabelo crescer e não ter de desenhar as minhas sobrancelhas com um lápis. Sou um sortudo comparado com muitas outras pessoas", disse na altura, numa entrevista ao 'La Repubblica'.

A sua presença no estágio da Itália no último mês trouxe algo extra a uma equipa que quer conquistar o Campeonato da Europa pela primeira vez desde 1968.

"Existe um relacionamento excelente entre todos, entre os jogadores e a equipa técnica, e o Gianluca está a melhorar, então ficamos muito felizes em ouvi-lo quando ele fala", disse Mancini sobre o seu antigo parceiro atacante.

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