Quis o destino que a sorte de 2016 não se repetisse. Enquanto que há 5 anos conquistámos o direito de disputar a final do Europeu de futebol jogando contra a Hungria, Austria, Islândia, Polónia, Croácia e Gales, neste Euro-2020 a presença em Londres no dia 11 de Julho será garantida depois de defrontarmos a França (possivelmente duas vezes), a Alemanha, a Bélgica e a Itália. E nestes 1/8º de final iniciamos já o play-off com a selecção número 1 do ranking da FIFA.
A razão para que a Bélgica surja tão destacada relativamente às demais seleções mundiais, tem a ver com a importância dos jogos disputados recentemente, bem como a relação entre o resultado e o resultado esperado dos jogos, e a sua importância. Concretamente, desde 2019 que a Bélgica realizou: (i) dez jogos de qualificação para o Euro-2020, tendo os ganho todos, marcando quarenta golos e sofrendo apenas três; (ii) seis jogos na Liga das Nações 2020, onde ganhou cinco e perdeu apenas um (2-1 com a Inglaterra), tendo marcado dezasseis golos e sofrido seis. Com isto, conquistou o direito de disputar em Outubro as meias-finais da prova com a França; (iii) três jogos de qualificação para o campeonato do Mundo-2022, tendo ganho dois e empatado um, e marcado doze golos e sofrido apenas dois; (iv) três jogos amigáveis, dos quais ganhou um e empatou dois; (v) três jogos e três vitórias na fase de grupos do Euro-2020, tendo sido uma das únicas três equipas da prova que ganhou os seus três jogos, o 2º melhor ataque e a 2ª melhor defesa da prova com sete golos marcados e apenas um sofrido. Em suma, nos últimos dois anos e meio a Bélgica fez vinte e cinco jogos, tendo ganho vinte e um, empatado três e perdido apenas um.
Esta geração belga de jogadores de futebol é absolutamente fantástica. Fruto da sua maturidade e experiência, é considerada por alguns como estando de saída, pelo que verá nesta a última ocasião para entrar na história de um país que nunca ganhou uma competição de seleções. Tem um plantel avaliado em 669 M€ e, se olharmos para os clubes de origem dos seus jogadores, vemos Real Madrid (2), Manchester City (1), Inter (1), Chelsea (1), Dortmund (3), Atlético Madrid (1), Napoles (1), Totenham (1), Leicester (3), Lyon (1), etc. Kevin de Bruyne é a principal estrela da equipa avaliado em 100 M€. Neste europeu, entrou no jogo com a Dinamarca a perder 0-1, e 25 minutos depois já a Bélgica ganhava com um golo e uma assistência suas.
A Bélgica varia entre dois sistemas que têm a mesma matriz de base. Partido de uma linha recuada de cinco defesas e dois médios-centro a construir jogo, tem duas articulações possíveis com os homens da frente: (i) ou jogam com três avançados em linha, ou (ii) jogam com dois avançados no corredor central, e um terceiro nas suas costas. A variante um é muito semelhante ao modelo da Alemanha, por isso nesta fase não sei se isso é bom ou mau. Neste caso, deverá jogar no meio campo Witsel e De Bruyne, e na frente Carrasco e Eden Hazard nas alas, e Lukaku no corredor central. A segunda variante é interpretada com Hazard e Lukaku na frente, e Kevin de Bruyne nas suas costas. Neste caso, os dois médios de construção seriam Witsel e Tielemans. Esta segunda variante seria mais interessante para Portugal, pois os médios em 2:1 (triângulo) da Bélgica encaixariam nos nossos médios em 1:2 na perfeição (triângulo invertido), ficando na zona recuada 2:2.
Esta Bélgica tem uma equipa supra balanceada no processo ofensivo de jogo. Por isso mesmo é importante que Portugal tenha muita posse de bola, não deixando que os jogadores da Bélgica desenvolvam o seu processo ofensivo nas zonas do terreno que mais lhes convém. Ainda em processo ofensivo, deveremos ser letais nas saídas para o contra-ataque aproveitando os espaços deixados nas suas costas. Além do balanceamento ofensivo desequilibrado da sua equipa, os defesas da Bélgica não têm a frescura da idade para acompanharem a velocidade dos jogadores portugueses especialmente com os 34º centígrados de Sevilha. Em processo defensivo, os dois médios-centro da Bélgica têm de ser pressionados de perto por Renato Sanches e João Moutinho, não deixando que construam jogo com tempo e espaço, e que sirvam os seus avançados de forma confortável.
E depois disso, a Itália, mas até lá um problema de cada vez.
Luís Vilar
Pró-Reitor da Universidade Europeia
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