A La Liga, que há três anos era o monarca indiscutível do futebol europeu, regressa para uma nova época esta sexta-feira depois de um verão traumático que terminou com a joia da coroa a ser entregue a outros.
A transferência a custo zero de Lionel Messi para o Paris Saint-Germain na terça-feira levou a turbulência financeira que vai erodindo o poder do futebol espanhol.
Enquanto Messi é a maior estrela a sair e o seu antigo clube, o Barcelona, tem somado dívidas estimadas em 1.2 mil milhões de euros, o futebol espanhol tem também preocupações financeiras.
A pandemia custou perto de 2 mil milhões de euros aos clubes de topo e o desespero começa a ser visível.
A Liga está a tentar impor um duro teto financeiro enquanto procura por fundos.
Na sua assembleia, esta quinta-feira, vai votar sobre a venda de 10 por cento dos direitos comerciais durante 50 anos ao fundo CVC a troco de 2.7 mil milhões de euros.
O Real Madrid e o Barcelona lutam contra o acordo, afirmando que estão a vender os seus futuros.
Contudo, os mesmos dois clubes não desistem da esperança de uma gigante, potencialmente tóxica, 'cenoura', ainda que nove dos outros clubes da Superliga já tenham desistido do processo e que a fonte do encaixe de 4 mil milhões de dólares, o banco JP Morgan Chase, já tenha pedido desculpa aos fãs.
O Europeu e os Jogos Olímpicos mostraram a quantidade de talento no futebol espanhol e esta pode ser a época dos jovens despontarem porque, com 20 dias para o fecho da janela de transferências, os clubes espanhóis não estão a comparar jogadores.
Real e Barcelona, que entre si conquistaram todas as Ligas dos Campeões entre 2014 e 2018, estão a viver, e a morrer, com transferências a custo zero.
Tal como o Barcelona, o Real Madrid considerou que não poderia pagar um novo contrato ao seu capitão talismã Sergio Ramos. Tal como Messi, Sergio Ramos partiu para um 'jackpot' de final de carreira no Paris Saint-Germain.
Tal é o prestígio do Real e do Barça que continuam a atrair a classe alta dos jogadores sem contrato.
O Barcelona contratou Memphis Depay, Eric Garcia e Sergio Aguero.
Já o Real está, mais uma vez, a ser liga a Kylian Mbappé do PSG. O maior valor pago por qualquer dos clubes foram os nove milhões de euros pagos pelo Barcelona ao Bétis para garantir Emerson Royal.
O Real Madrid substituiu Ramos pela qualidade defensiva de outro íman de troféus, David Alaba.
Os madrilenos têm uma nova liderança, com Carlo Ancelotti a regressar para substituir Zinedine Zidane que, pela segunda vez, saiu frustrado.
O italiano terá de lidera com as consequências do longo 'vício' de compras do clube e perceber o que fazer com estrelas que regressam de empréstimos como Gareth Bale, Martin Odegaard e Dani Ceballos.
Cheirando a fraqueza
No meio da tempestade financeira, ficar quieto pode ser uma vantagem.
O campeão Atlético começa a época com as estrelas e o treinador, Diego Simeone, da época passada.
Fizeram também a maior despesa do verão espanhol, comprando o médio espanhol Rodrigo de Paul à Udinese por 35 milhões de euros.
Real e Barcelona andaram atrás do Atlético na última temporada, mas outros clubes podem estar a sentir a farejar fraquezas.
O Sevilha, sobre o comando do Julien Lopetegui, ficou logo atrás do Barcelona.
Transformaram o empréstimo do extremo Suso numa mudança definitiva, pagando 20 milhões de euros ao AC Milan. Também adquiriram o médio Erik Lamela, do Tottenham, a custo zero.
Monchi, diretor de futebol do clube, está a exibir o seu bem mais valioso, o defesa Jules Kounde à frente dos clubes ingleses. Mas se Monchi vender, provavelmente comprará.
A Real Sociedad, que mostrou potencial, mas não a consistência de top-4, esteve envolvida em 500 mil euros em negócios. Foi a quantia que pagaram ao Bournemouth pelo espanhol Diego Rico.
Se a estabilidade constrói equipas então, depois de três anos e meio com o treinador Imanol Alguacil, o clube de San Sebastian pode estar pronto para desafiar os gigantes.
O Villarreal, com uma façanha europeia ainda fresca na memória ao levar a Liga Europa para Espanha, parece ser o clube mais animado neste verão, somando duas das quatro contratações de dezenas de milhões até ao momento.
Pagaram 15 milhões por Juan Foyth, um preço definido no ano anterior, quando o defesa argentino foi emprestado pelo Tottenham, e 12 milhões de euros por Boulaye Dia, do Reims.
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