Nem só de golos vive o futebol. Os adeptos sabem disso, os jogadores sabem disso e Julen Lopetegui sabe disso. O treinador portista abdicou durante boa parte do jogo de quarta-feira do virtuosismo técnico de jogadores como Ricardo Quaresma e Cristian Tello e apostou num onze pragmático e mais combativo na zona central. A experiência correu bem ao treinador espanhol, já que a magra vantagem trazida de Lille é maior do que o número de golos marcados.
A decisão de deixar Quaresma no banco de suplentes teve honras de destaque nos minutos que antecederam o arranque da partida. Até o próprio Quaresma estranhou. A aposta em Casemiro em vez de Tello surpreendeu mais ainda, mas em boa verdade o técnico espanhol já havia avisado depois do jogo com o Marítimo que a dupla Casemiro - Rúben Neves seria para repetir. Não tardou muito. Com a entrada do médio brasileiro, a zona central ganhou "músculo". Nas alas ficaram dois jogadores que tendencialmente procuram terrenos interiores, Brahimi e Óliver Torres, com o objetivo de controlar por inteiro o meio-campo. O FC Porto terminou o jogo com quase 60% da posse de bola, mas houve momentos em que atingiu os 70%.
Já René Girard, treinador do Lille, parece ter exagerado no conservadorismo. A jogar diante dos seus adeptos e com jogadores talentosos como Kalou, Origi ou Mavuba, a equipa francesa pareceu sempre receosa e expectante perante um FC Porto que não fazia questão de ser explosivo. Só no final do primeiro tempo os jogadores pareceram perceber onde estavam as brechas na equipa portista e chegar com perigo à baliza de Fabiano. Sébastian Corchia teve tudo para empatar o jogo aos 45’, não fosse um corte fortuito de Alex Sandro e a falta de inspiração do gaulês ex-Sochaux.
Mais pressionante, o FC Porto voltou a ter um Rúben Neves em grande destaque, no dia em que o médio de 17 anos quebrou outro recorde: o de jogador mais novo a atuar por um clube português na prova milionária, destronando Cristiano Ronaldo. O "petiz" de Lopetegui surgiu desta vez mais solto no meio-campo, a delegar parte da responsabilidade defensiva para Casemiro. Com isso, Rúben Neves ganhou uma mobilidade que não teve na primeira jornada da Liga, e ousou ser um dos elementos mais atrevidos. Foi dele o primeiro remate de algum perigo do jogo (11’), foi dele o cruzamento para Jackson Martínez que devia ter dado grande penalidade (28’) e foi dele a combinação com Tello no lance do golo portista (61’). Novo sinal mais para o "miúdo" que já é homem.
Nada está resolvido, como realçaram Julen Lopetegui e René Girard, mas com o golo de Héctor Herrera o FC Porto deu um passo importante rumo à fase de grupos da Liga dos Campeões. Depois da vantagem conquistada em França, só um desastre no Estádio do Dragão poderá evitar a qualificação dos “dragões” para a prova milionária. Os azuis-e-brancos têm um grande incentivo para evitar uma reviravolta: são quase nove milhões de euros que podem ficar garantidos nos cofres do FC Porto na próxima terça-feira.
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