O Clube de Regatas Vasco da Gama, com sede na freguesia de São Januário, localizado na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, é um dos mais tradicionais clubes cariocas e do futebol brasileiro. Berço de grandes talentos que o mundo conheceu, como Roberto ‘Dinamite’, antigo avançado e maior glória do clube cruzmaltino, com uma fugaz passagem pelo Barcelona na época 1979/1980, e Romário, que dispensa apresentações, o clube de raízes, tradições e nome portugueses foi também a casa onde um miúdo de origem humilde, comum a tantos que tentam a sorte na roda da fortuna que é o futebol, deu seus primeiros pontapés na bola e formou-se como atleta profissional. Phillipe Coutinho, hoje aos 26 anos, é depois de Neymar, o grande nome do futebol brasileiro atual.
Negociado com o Inter de Milão ainda muito jovem, aos 16 anos, a troco de 3,8 milhões de euros, Coutinho chegou ao clube nerazzurro dois anos depois, em 2010. Não emplacou em Itália, onde se joga outro tipo de futebol, muito mais tático e organizado do que em qualquer outra parte do planeta. Sem hipóteses na equipa milanesa, seguiu-se um empréstimo ao Espanhol de Barcelona, até que no verão de 2013, a história de Coutinho no futebol europeu conheceria uma reviravolta, tendo sido contratado pelo Liverpool, que procurava um alento para o seu meio-campo, já que o então capitão e o ‘coração’ dos reds, Steven Gerrard, estava na iminência da aposentadoria. A aposta em Coutinho deu certo, deu muito certo. Nos quatro anos e meio em que esteve em Anfield, Coutinho passou de um promissor e potencial craque à um dos principais nomes do clube, tendo sido vice-campeão inglês logo na sua primeira época ao serviço do Liverpool, num amargo título perdido na última jornada daquela época 2013/2014 para o Manchester City.
Porém, a excelente temporada pelo clube inglês não foi suficiente para que Coutinho integrasse a seleção brasileira de Luiz Felipe Scolari no Mundial de 2014. O futebolista seguiu no Liverpool pelos anos seguintes, tendo o clube inglês resistido o quanto pôde às investidas do Barcelona, até que em janeiro deste ano o talentoso médio acabou por transferir-se para o Camp Nou, onde foi já campeão espanhol e da Taça do Rei pelo clube catalão.
Neste Mundial’2018, Coutinho divide com Neymar e o lateral do Real Madrid Marcelo o protagonismo de uma seleção que busca recuperar-se da hecatombe que foi o desfecho do último Campeonato do Mundo, realizado no Brasil, em que os canarinhos sofreram uma impiedosa e histórica derrota para a Alemanha por 1-7 nas meias de final. Frente à Suíça, na estreia brasileira no Mundial da Rússia, o brilhante pé direito de Coutinho valeu o único golo brasileiro na partida que terminou empatada a uma bola.
O jogo contra Costa Rica, válido pela segunda jogada da fase de grupos, foi mais difícil do que o esperado pelos brasileiros. A seleção de Keylor Navas e Bryan Ruiz segurou o empate até os 90 minutos, resultado que mantinham os costarriquenhos com algumas chances de classificação e pressionava o Brasil de Neymar e Coutinho, que somava o segundo empate seguido e colocava em risco uma ‘obrigatória’ classificação aos oitavos de final. Mas já nos descontos, outra vez o pé direito de Coutinho foi decisivo, após passe de Gabriel Jesus. Neymar, pouco depois, marcou seu primeiro tento no Mundial russo, o segundo do Brasil, que valeu a primeira vitória da Seleção neste grupo E.
Coutinho, nestes dois primeiros jogos do Brasil, mostrou-se o mais decisivo, o mais versátil e com mais ‘samba no pé’ entre os comandados de Adenor Bachi, o Tite. O Brasil está ainda longe de convencer neste Mundial’2018, bem como quase todas as seleções de ponta (veja-se o drama argentino). Até a próxima quarta-feira, dia 27, data do jogo frente à Sérvia, pela última jornada da fase de grupos, que o pé direito de Coutinho possa estar bastante descansado, e que os brasileiros possam respirar aliviados com a classificação aos oitavos.
* Yuri Bobeck é jornalista, com passagens por rádio UEL FM, jornal Lance!, TV Cultura e TV Globo. Escreve para o SAPO neste Mundial’2018.
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