Pep Guardiola concedeu uma extensa entrevista à Reuters na qual fez o balanço daquela que foi a sua primeira temporada sem títulos no Manchester City desde 2017.

Guardiola quis distanciar-se da ideia de que a época, que terminou com o City a quedar-se pelo terceiro lugar na Premier League, tenha sido um fracasso completo: "A felicidade é julgada pela vitória. O sucesso é julgado apenas por vencer. E isso é um problema. Não me vou julgar a mim próprio ou à minha equipa pelas boas ou más épocas... Talvez terminar em terceiro lugar numa época e nunca desistir, em vez de baixar os braços e terminar em décimo ou décimo segundo, seja uma época melhor do que quando ganhámos a nossa quarta Premier League consecutiva", observou.

Guardiola destacou os problemas que o Manchester City teve ao longo da temporada, assumindo a responsabilidade por isso: "Enfrentámos muitas dificuldades, agravadas por lesões, desleixo, falta de qualidade... por várias razões. Talvez a análise que faça seja de que a época passada foi melhor. Mas qualificámo-nos para a Liga dos Campeões quando estivemos em risco de não conseguir."

Pep Guardiola continuou a refletir sobre o sucesso, citando o ex-presidente uruguaio José Mújica, recentemente falecido: "O sucesso mede-se pela quantidade de vezes que nos levantamos depois de uma queda."

"Cair, levantar. Cair, levantar... Esse é o maior sucesso", observou.

O técnico espanhol sublinhou que "os vencedores são aborrecidos" e que as entrevistas pós-jogo com os jogadores e treinadores das equipas derrotadas são muito mais interessantes de observar: "É bom ver como reagem os derrotados. Aprende-se sempre algo com isso."

Pep Guardiola surpreendeu na entrevista quando questionado sobre o seu excecional historial de títulos: "Achas que me sinto especial por ter conquistado tantos títulos? Não! Esquece! Sinto que especial é o médico que salva vidas. Ou quem inventou a penicilina. Esse é que era um génio. Eu? Génio? Qual quê...!"

E prosseguiu: "Não quero fingir humildade: claro que sou bom! Tenho provado isso ao longo dos anos... Mas pelo sucesso que tive fui escolhido, em certos momentos, para liderar Leo Messi e os outros, para estar com este tipo de lugares. Construí equipas incríveis... Mas outros treinadores, no momento certo, naquela posição, talvez pudessem ter feito o mesmo."

Sobre a forma como lida com a derrota, Guardiola explicou: "Quero sofrer quando não ganhar jogos. Quero sentir-me mal. Quero dormir mal. Quero que isso me afete quando a situação se agravar... Quero isso!", frisou Guardiola.

E resumiu o que sente nos momentos das derrotas: "Fico zangado... a minha comida sabe pior... Não tenho vontade de comer muito porque preciso de sentir essa raiva. Porque, senão, qual seria o sentido? Ganhar ou perder... Estamos neste mundo para viver experiências diferentes, estados de espírito diferentes..."

Quanto à pressão do papel de treinador, constantemente julgados pelo público, Guardiola disse: "O stress está sempre lá porque se é julgado diariamente, mas é o que é. Ninguém me apontou uma arma para me obrigar a escolher este trabalho. Eu escolhi-o... Não há jogador de futebol profissional que ganhe sempre, porque é simplesmente impossível. Foi o que aconteceu na época passada... aceita-se, melhora-se, aprende-se, e haverá boas lições para o futuro", terminou.