Foi no no Al-Wakrah, do Qatar, que Ruben Amorim pendurou as chuteiras e colocou, cedo, aos 32 anos de idade, ponto final na sua carreira como futebolista. Como treinador teve, aí, o uruguaio Mauricio Larriera, que não poupa lhe elogios nem esconde orgulho pelo que o seu antigo pupilo está a alcançar.

"Na pré-temporada fomos para Itália e lá liga-me o xeque, que era muito futeboleiro e muito boa gente, e disse-me: 'Acabámos de contratar um futebolista, chama-se Ruben Amorim'. Quando me ponho a averiguar, ele tinha estado no Mundial anterior. 'Mas não o podemos incorporar, temos as vagas ocupadas', disse-lhe, mas ele disse que era possível. Ele ia chegar depois de muitas lesões, não estava preparado, não vinha bem fisicamente", começa por recordar, em entrevista ao programa Bola Branca, da Rádio Renascença.

"Quando o conheci, vi que era um tipo fenomenal. Somos latinos, temos muito em comum, vemos o futebol de outra maneira. Ele meteu-se em forma. A equipa não começou bem. Ele entrou nos treinos, aumentou muitíssimo a qualidade dos mesmos. Ele começou a treinar e dava gosto. Obviamente, era um jogador de nível mundial, entendia tudo. No quarto jogo decidi trocar o argentino Gastón Sangoy pelo Rúben Amorim. Tive sorte: quando se estreia o Rúben, ganhámos 1-0 e o golo é dele, fez um jogaço. A decisão legitimou-se pela exibição dele", presseugiu Larriera.

"Jogou sempre muito bem, mas lamentavelmente expulsaram-no em dois jogos. E pediu-me desculpa por isso. São coisas do jogo, mas ele chateava-se até mais do que eu quando as coisas não saíam", acrescentou.

"Ajudou-me a executar alguns exercícios de alta complexidade. Vivíamos no mesmo sítio, bebíamos umas canecas de café preto e ficávamos horas a falar, a partilhar muitas coisas. Permitiu-me conhecer um ser humano excecional e um futebolista de nível de classe A. Eu via que ele tinha muito interesse nos nossos planos todos, de jogo, de tudo, mas não imaginava que estava a pensar ser treinador. Ele retirou-se lá e creio que tinha 32 anos, era muito jovem. Eu queria que ele ficasse lá e não ficou", contou ainda, antes de dar nota da sua satisfação pela carreira que Amorim tem tido como treinador e por o ver chegar agora, ainda tão jovem, ao leme do Manchester United.

"Espero que lhe tenha ficado algo, sobretudo do lado humano, deste modesto treinador. Chamou-me muitíssimo à atenção o que fez como treinador. Fiquei muito contente por ver que é possível. Não tenho o objetivo de chegar à Europa, pode acontecer, gosto de alguns países, como Espanha, Portugal e Grécia. Ver o Ruben, que fomos companheiros e vejo-o como companheiro de trabalho, a chegar a esse nível, depois do que fez com o Sporting, e fez o mesmo com outras equipas, foi uma escalada… fico muito orgulhoso de o ter conhecido, mais ainda de ter trabalho com ele. Acontecer isto tão jovem e com tantos treinadores a querer chegar àquele lugar...fico muito contente. É um grandíssimo ser humano, foi um grandíssimo futebolista e transformou-se num grandíssimo treinador", concluiu Larriera, que se encontra atualmente sem clube, depois de ter deixado em junho último o comando técnico dos argentinos do Newell´s Old Boys.