Bastaram seis minutos do encontro com o Chaves para que a primeira de duas (supostas) crises em Alvalade ficasse resolvida. Bas Dost regressava aos golos após um jejum de seis jogos - o maior desde que assinou pelos 'leões'. Fê-lo com um hat-trick, algo que não acontecia desde a receção da época passada ao... Chaves. Marcou, deu início à jogada do terceiro, e ainda deu a marcar o quarto.

Quem também tirou a barriga de misérias foi o Sporting, que nos últimos seis jogos só havia festejado uma vez, contra o Oleiros, para a Taça de Portugal. Jorge Jesus fez questão de realçar que as únicas derrotas da equipa tinham ocorrido frente a colossos como o Barcelona e a Juventus, para a Liga dos Campeões, e que os números dos 'leões' no campeonato estavam à vista: seis vitórias (agora sete) e dois empates em oito jogos.

E disse mais: “Neste momento, há interesse em criar focos de instabilidade nos rivais. Dois estão lá em cima... e convém ir buscar qualquer coisa. Nada temos a ver com a crise dos outros." Ora se os "outros" estão, efetivamente, em crise, não é para aqui chamado. Mas o treinador 'leonino' acabou por ter razão quando desvalorizou os últimos resultados da sua equipa. Era difícil pedir mais a este Sporting, não só pelos golos mas pelo futebol com nota artística com que brindou os seus adeptos este domingo. 

Podence no apoio a Bas Dost: aposta ganha

Numa entrevista a um jornal desportivo, há umas semanas, Bas Dost partilhou um episódio caricato sobre o momento em que conheceu Daniel Podence. O 'miúdo' tinha acabado de regressar a Alvalade, em janeiro, depois de ter sido emprestado ao Moreirense, e a primeira característica que chamou a atenção do 'gigante' holandês foram os seus 1,62 metros - Bas Dost mede 1,96m.

"Perguntei a quem estava ao meu lado quem era aquela criança e o que estava a fazer ali", contou o ponta de lança 'leonino', admitindo, depois, ter ficado bastante impressionado com as capacidades do extremo. Daniel Podence está longe de ser criança, porém, a forma como se apresenta em campo tem todos os traços de uma: imprevisível, irrequieto, capaz de criar estragos numa defesa. O jovem, de 22 anos (celebrados na véspera), foi tudo isto e muito mais no apoio a Bas Dost. O abraço entre ambos, depois do segundo golo do holandês, um cabeceamento ao segundo poste após cruzamento 'com régua e esquadro' do internacional sub-21, disse tudo. 

Jesus foi igualmente feliz quando decidiu recuar Bruno Fernandes para o 'miolo', a fim de impulsionar a dupla da frente - Battaglia, que havia jogado em Turim, ficou no banco. Mesmo sem golos, o médio voltou a estar em grande, dando consistência e rasgo ao meio-campo 'leonino'. O Desportivo de Chaves ainda tentou contrariar o caudal ofensivo dos 'leões', nunca abdicando dos seus princípios - ter bola e jogar no campo inteiro - mas pagou caro o facto de ter sofrido dois golos tão cedo na partida. Ainda assim, nota positiva para a equipa de Luís Castro, por ter resistido sempre à tentação de 'acampar' junto à baliza de Ricardo.

O cunho de Acuña

Não fosse esta a noite de Bas Dost e o título de homem do jogo teria sido, provavelmente, atribuído a Acuña. O internacional argentino estreou-se a marcar no campeonato e logo em dose dupla: primeiro aos 39', a encostar uma bola oferecida por Gelson Martins, numa excelente jogada do ataque sportinguista, iniciada pelo atacante holandês; depois, já na segunda parte, a rematar com o pé esquerdo para o fundo da baliza flaviense, após assistência do camisola 28. Este último golo, de resto, surgia minutos depois de um falhanço de Platiny - aqui a colmatar a ausência de Willian, melhor marcador da equipa - a perder no duelo com Rui Patrício, já depois de ter fugido a Mathieu. 

Ou seja, mesmo quando tinha bola, o Chaves raramente conseguiu perturbar o guardião 'leonino'. Nesta altura, a equipa de Luís Castro tinha subido mais no terreno, cenário que agradava ainda mais aos 'leões'. Foi, portanto, com naturalidade que Bas Dost chegou ao quinto da noite, terceiro da sua conta pessoal, todos eles de cabeça, após cruzamento de Piccini. O resultado (5-0) tornava-se ainda mais doloroso para os visitantes, que na época passada também haviam saído de Alvalade vergados a uma goleada, mas por 4-1. 

Doumbia, lançado para o lugar de Gelson, fez Alvalade gritar golo pela sexta vez, mas o lance acabou por ser invalidado por Rui Costa, na sequência de posição irregular de Bas Dost. Não marcou mais o Sporting, marcou o Chaves, já em tempo de compensação: excelente jogada individual de Davidson, a tirar dois adversários do caminho e a 'sacar' um belo chapéu a Rui Patrício. Um pequeno prémio pela atitude demonstrada em campo pelos homens de Luís Castro.

A polémica

Aos 31 minutos, Gelson cai na área, com o árbitro a admoestar o extremo 'leonino' com a cartolina amarela, entendendo que houve simulação. Face à monumental assobiadela que se fez ouvir em Alvalade, o juiz da AF Porto decidiu ele próprio analisar as imagens junto ao relvado. Acabou por mandar seguir.

A figura

Bas Dost: Uma noite de antologia, a fazer lembrar a temporada passada, quando o holandês se sagrou o melhor marcador do campeonato e ombreou com Lionel Messi pela Bota de Ouro. A fome de golos - que durava desde 8 de setembro - acabou por traduzir-se em fartura: três golos para a sua conta pessoal e uma assistência. É preciso dizer mais?

Têm a palavra os treinadores:

Jorge Jesus, treinador do Sporting

"Atualmente há duas equipas que estão melhores [FC Porto e Sporting como confirmou de seguida], mas isto muda com muita facilidade e sobretudo para os ‘três grandes’. Este é um problema enorme, mas que está em todos os clubes. Hoje estamos na luta, confiante e a jogar bem. Só temos de continuar este caminho"

Luís Castro, treinador do Desportivo de Chaves

"Podia dizer que perdemos apenas três pontos, mas perdemos mais do que isso. Perdemos a confiança que vínhamos a acumular após quatro jogos sem derrotas. O Sporting esteve melhor e não fomos capazes de contrariar o jogo deles. Concedemos demasiados espaços que o Sporting aproveitou”.