António Simões está muito satisfeito com a época de Rui Vitória, com a conquista da dobradinha, da qual se destaca a conquista do tetracampeonato. Em entrevista exclusiva ao SAPO Desporto, o antigo extremo do Benfica refere que Rui Vitória confirmou o sucesso da primeira época, com “coerência e inteligência”.
“Vi bem a época de Rui Vitória. Foi a confirmação que estamos perante um homem competente e, ao mesmo tempo, sobretudo, um homem coerente e inteligente. A inteligência sempre existiu por aí. A coerência parece que desapareceu. E este senhor Rui Vitória foi capaz de ter sucesso através da competência, inteligência e também da coerência. Esta simbiose e combinação, conseguida através de um grande equilíbrio emocional, mostrou o reflexo do sucesso”, referiu o antigo jogador, que não acredita que o sucesso vem de egos exacerbados.
“Não é preciso arrogância nenhuma para ter sucesso. O que é preciso é ter inteligência emocional, ter humildade. Ser humilde não está ao alcance de todos. Infelizmente há gente que é muito pouco inteligente mas que tem muita arrogância, que é o que vemos muito hoje na sociedade. E o senhor Rui Vitória mostrou exatamente o contrário e, por isso, foi premiado”, explicou António Simões, que acredita que a segunda época do treinador português foi mais desafiante para Rui Vitória.
“Este ano foi muito mais complicado. Até porque ele tinha o grande desafio de ter de confirmar que a equipa que ganhou o ano passado não foi por acaso, não foi por acidente. Tinha essa responsabilidade. E, ao mesmo tempo, teve uma época com mais problemas, mais complicações, mais lesões. Teve de gerir aquilo tudo, teve de ir buscar todos os recursos disponíveis, que não eram todos, e conseguiu sempre ter o grupo pronto para trabalhar. E também não entrou em euforia quando ganhou”, afiançou o antigo ‘magriço’.
António Simões acredita que Rui Vitória tem a legitimidade para pensar na conquista do inédito pentacampeonato e, para o treinador português, a conquista de três campeonatos por um técnico do Benfica, algo que nunca aconteceu neste novo século.
“Eu acho que o treinador do Benfica tem a legitimidade para pensar dessa maneira. Eu não estou a dizer que ele vai conseguir isso, o que estou é a dizer que ele e o clube têm toda a legitimidade para pensar que pode voltar a ganhar. Porque criou condições para isso, criou a base de sustentação para continuar a ganhar, para ter a legitimidade de pensar que pode voltar a ganhar. Isto não diz que vai ganhar. Há quem diga que vai ganhar, e depois não ganha. E durante os últimos tempos, há muita gente a dizer isso, inclusivamente jogadores e treinadores e ex-jogadores e ex-treinadores. Toda a gente diz uma quantidade de disparates mas neste país nunca acontece nada, porque também ninguém confronta com esses disparates. A comunicação social quer é fazer perguntas e a questão da resposta fica por aí, e fica assim sempre, nunca há problema. Enquanto o Benfica se organizou, inovou e se estruturou os outros ficaram agarrados a modelos que já não existem. Portanto, a partir de agora, o Benfica tem toda a legitimidade que pode ganhar com este treinador e com esta estrutura toda que criou, as condições que criou”, referiu, dando destaque ao papel que Rui Vitória teve desde o princípio ao fim da época.
“Acho que o treinador do Benfica nunca alterou os seus critérios de exigência e da relação com todos, quer os de cima, direção, presidente, quer os seus jogadores, a sua equipa técnica e mesmo em relação aos adeptos. Ele disse sempre o óbvio, ele nunca tentou descobrir qualquer coisa diferente para se evidenciar, ele pegou no óbvio, que é a verdade, não inventou e fez disso a base do seu comportamento. E muitas das vezes nós temos a verdade, que é o óbvio, à nossa frente e andamos à volta de uma quantidade de coisas à procura de qualquer coisa que não existe só para dizer que é diferente e que foi ele que inventou. Esse é um complexo de superioridade que não interessa nada. E ele fugiu sempre a isso, não tem a ver com a personalidade dele, o perfil dele é bem diferente. Mas é um perfil seguro, honesto, transparente que estuda a competência. Ora, se vai para um clube que tem essa estrutura e que sustenta tudo isso, arriscam-se outra vez a continuar a ter sucesso. Qualquer dia o Benfica tem de pedir desculpa porque ganha sempre”, reiterou o ex-atleta ‘encarnado’.
Benfica venceu Taça em jogo equilibrado e Nélson Semedo fará falta
António Simões ficou satisfeito com a vitória do Benfica na Taça de Portugal, naquele que foi um jogo muito equilibrado.
“Vi bem o jogo da Taça de Portugal. Foi um bom jogo apesar de ter menos qualidade do que previsto. Foi uma partida equilibrada, com o Benfica a entrar muito bem na segunda parte e a fazer dois golos. Acabou por ser feliz e teve capacidade para contrariar o Vitória de Guimarães”, analisou, referindo que vai ser difícil substituir alguns dos jogadores que estão a ser apontados à saída, como Ederson, Nélson Semedo e Lindelof.
“Há posições que são mais difíceis de encontrar no mercado. Acho que a posição de central e de guarda-redes, a este nível, não são nada fáceis de encontrar. É claro que o Nélson Semedo, por exemplo, vai fazer muita falta porque é um lateral com uma dinâmica fantástica e muito rápido. Vai sentir-se um pouco a falta dele, sobretudo no início. Mas há posições como guarda-redes e ponta de lança e centrais, porque são posições mais determinantes, vai ser talvez mais difícil de encontrar os seus substitutos. Mas o Benfica tem tido essa política, creio que a tem feito bem, não vai vender por acaso. Vai vender porque o mercado assim o obriga. Mas deve estar com olho de gente nessas posições para repor os que vão sair”, explanou o antigo jogador.
António Simões foi um dos melhores jogadores da história do Benfica, tendo jogado no clube da Luz entre 1961 e 1975, contabilizado 445 partidas e 72 golos marcados. Venceu uma Liga dos Campeões, dez campeonatos nacionais e cinco Taças de Portugal.
Durante a sua carreira conta também com passagens pelo Estoril Praia, Boston Minutemen, San Jose Earthquakes, New Jersey Americans, Dallas Tornado, Detroit Lightning, Chicago Horizons e os Kansas City Comets.
Fez também parte do grupo dos ‘magriços’, a seleção portuguesa que chegou às meias-finais do Mundial de 1966, tendo caído apenas frente à Inglaterra, que acabou por vencer essa mesma competição.
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