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Treinador do Vitória de Guimarães diz que fim dos fundos vai obrigar clubes a apostar na formação.
O treinador do Vitória de Guimarães, Rui Vitória, defendeu hoje que a competitividade financeira dos clubes "grandes" vai sofrer um "duro golpe" com o fim dos fundos, sendo por isso "urgente" apostar mais na formação de novos futebolistas.
"Os fundos vão acabar e os clubes vão ter muitas dificuldades em comprar jogadores com qualidade. Deixam financeiramente de ser competitivos. Por isso, é preciso cada vez mais apostar na formação de jogadores e também na formação de formadores. Só assim os clubes vão ter hipótese de ter jogadores de qualidade.", afirmou Rui Vitória na conferência "Falar de Futebol", a decorrer em Lisboa.
Para o treinador dos vimaranenses, que na última temporada levou o emblema minhoto à conquista da Taça de Portugal com uma equipa formada em grande parte por jogadores das escolas do clube, a crise financeira acabou por "abrir a perspetiva" que a formação será a única forma de sustentabilidade do clube.
"Em Portugal, grande parte dos treinadores que trabalham na formação estão danados para passar para o futebol sénior. Lá fora não é bem assim e isso também tem que mudar. Nos jovens também se vê que se perdeu a cultura e a paixão pelo jogo, embora os miúdos sejam mais profissionais e têm mais cuidado, principalmente com o corpo", referiu.
Nesse sentido, o técnico do Vitória de Setúbal, José Couceiro, que esta temporada também foi "obrigado" a apostar na formação devido a problemas financeiros, lamentou a "pressa" que os jogadores têm em dar o salto para outros clubes, acabando muitas vezes por prejudicar a própria carreira.
"O Ruben Vezo saiu muito cedo para o Valência. Fez 10 jogos na equipa principal do Vitória de Setúbal. Corre o risco grande de estar a jogar na equipa B na próxima temporada. Devia ter continuado. O crescimento do jogador faz-se a jogar e não só a treinar. Se não joga, não se desenvolve", considerou Couceiro.
Para o antigo dirigente do Sporting, é preciso com urgência "criar mecanismos para reduzir a diferença para os mais poderosos, não só financeiramente, mas também a nível estrutural".
"Como querem formar quando nem relvados temos para trabalhar. Os mais poderosos serão sempre os mais poderosos, mas é preciso dar mais condições aos outros", frisou.
Também Marco Silva, treinador do Estoril-Praia, lamentou a "cratera enorme" que existe a nível orçamental e estrutural entre os clubes, embora tenha considerado que o futebol português está "mais competitivo".
"Prova disso é as carreiras que os nossos clubes têm feito nas competições europeias", lembrou.
Os três treinadores mostraram-se ainda a favor do alargamento da Liga a 18 clubes, algo que já devia ter acontecido "há mais tempo".
"Em Portugal treina-se muito e joga-se pouco. Às vezes fazemos 10, 12 treinos para preparar apenas um jogo. Felizmente esse cenário deverá mudar com o alargamento", concluiu Rui Vitória.
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