O ex-candidato à presidência do Sporting Sérgio Abrantes Mendes disse hoje não estar surpreendido com a situação de falência técnica do clube revelada por uma auditoria, sublinhando que já o tinha denunciado e por isso foi rotulado de «profeta da desgraça».
«Dá impressão que é uma grande novidade. A situação financeira é muito grave, mas já o era antes, quando alertei para a mesma vezes sem conta e fui acusado de ser um profeta da desgraça. Estou à vontade», disse Abrantes Mendes, em declarações à agência Lusa, responsabilizando também pela situação a massa associativa do Sporting.
Para o antigo presidente da Assembleia-Geral do clube, os sócios foram «caucionando através do voto e do seu apoio», nos últimos 13 anos, as sucessivas gerências que «lesaram o clube e o deixaram na situação de falência técnica» em que se encontra.
Abrantes Mendes acusa a comunicação social de se limitar ao longos dos anos a «veicular publicamente as posições oficiais» das várias gerências e a «desprezar aqueles que alertavam e denunciavam a degradação da situação», nomeadamente em relação «às políticas desastrosas de contratações».
«Dei a cara, fui à luta, mas não tive arte e engenho para convencer os sócios do Sporting», desabafou Abrantes Mendes, que confessa agora «sentir alguma superioridade moral para falar» sobre o assunto.
No entanto, Abrantes Mendes entende que não é altura de «apontar o dedo aos responsáveis», mas sim de «olhar para o futuro», elogiando a postura da atual direção que tem «atalhado o problema de frente», nomeadamente o presidente Godinho Lopes que «teve a gentileza» de lhe «apresentar em devido tempo os resultados da auditoria e dar conta do que estava a fazer inverter a situação».
Quanto a esses resultados, lembrou que Nobre Guedes, que já era o responsável pela área financeira na gestão de Soares Franco, «apontava nessa altura o passivo do Sporting para a ordem dos 250 a 260 milhões de euros».
Questionado sobre qual o grau de responsabilidade de cada uma das sucessivas gestões, Abrantes Mendes recusou entrar no que chamou de um «processo de crucificação” e remeteu para a célebre frase do Marquês de Pombal após o terramoto de 1755, ao afirmar que a hora era de “tratar dos vivos e enterrar os mortos».
«Se vamos recuar no tempo, se calhar, teríamos, também, de pedir responsabilidades ao Visconde de Alvalade», contrapôs o ex-candidato presidencial, que rejeitou igualmente comentar a afirmação de outro ex-candidato, Pedro Baltazar, que falou de «decisões e procedimentos pouco éticos que lesaram gravosamente o clube» a propósito dos resultados da auditoria.
Questionado sobre se o investimento de 30 milhões feito pela atual direção em contratações também não contribui para o desequilíbrio das contas e o agravamento do passivo, fez a defesa de Godinho Lopes e seus pares.
«Tinham de fazer esse investimento sob pena de a massa associativa deixar de acreditar. A questão é se o investimento é bem ponderado, adequado e competente, e acredito que seja o caso desta vez, ou se é desastroso, como tem sido em épocas anteriores», disse Abrantes Mendes, que elogia ainda a iniciativa de levar por diante a auditoria, ao invés do Benfica e do FC Porto, cuja situação financeira «é semelhante», mas aos quais «falta a mesma coragem».
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