Miguel Cal e Ricardo Farinha são dois sócios do Sporting que elaboraram um documento onde fazem uma reflexão estratégica sobre o trabalho realizado pela direção do clube e da SAD leonina e que pretende "contribuir para um debate construtivo e livre em que todos os Sportinguistas se possam envolver".
O documento analisa não só questões desportivas, mas também a política de contratações, a evolução e impacto da formação nos escalões seniores, a aproximação aos sócios ou o relacionamento do clube com as claques.
A "visão estratégica" destes dois sócios começou a circular nas redes sociais em junho, mês de que está datada, e está a dar que falar nos bastidores das eleições do Sporting, marcadas para 8 de setembro.
O documento, dizem os signatários, não tem "subjacentes quaisquer intenções eleitoralistas", mas Miguel Cal, posteriormente à publicação deste relatório, foi convidado pela lista de Frederico Varandas para ser administrador da SAD com o pelouro estratégico e operacional.
O trabalho de Miguel Cal e Ricardo Farinha destaca que existem prioridades para o curto prazo ("Desafios imediatos") e para o médio e longo prazo ("Batalhas de Leão"). Nos "Desafios imediatos" estipulam-se três linhas orientadoras: o processo de rescisão de jogadores; o processo jurídico de corrupção movido contra o Sporting; o descontrolo das claques do nosso clube. Já as "Batalhas de Leão" são: potenciar performance da equipa principal de futebol; maximizar a experiência "Ser Sporting"; ajustar comunicação de forma a valorizar ativos do clube; participar no desenvolvimento ético das estruturas do futebol.
Um dos eixos de intervenção propostos está relacionado com a "política de claques", a qual, defendem, deve ser repensada na sequência dos ataques à Academia de Alcochete. "Deveria também ficar na história que esse evento marcou o fim da Juve Leo como a conhecemos. É necessário refundar a Juve Leo e repensar toda a política das claques", defendem os dois sócios.
"Todos os lugares no estádio reservados às claques deveriam ser colocados no mercado. Não deveria haver qualquer apoio do clube a nenhum grupo de sócios", dizem Miguel Cal e Ricardo Farinha, que defendem a necessidade de ser aplicada "a lei existente de restrição à entrada nos estádios de adeptos com passado violento". "Devemos, do mesmo modo, sancionar fortemente os clubes pelos comportamentos das claques", acrescenta-se.
A política de contratações e a evolução e impacto da formação nos escalões seniores também são analisadas neste documento. Miguel Cal e Ricardo Farinha dizem que a abordagem ao mercado de transferências e política de formação tem sido negativa. "Dez dos 14 jogadores que disputaram a final do Euro 2016 passaram pela Academia do Sporting e apenas Ricardo Quaresma foi campeão nacional connosco", recordam. "Desde 2010, comprámos 28 jogadores por mais de 1 milhão de euros que depois vendemos – perdemos dinheiro em 22 casos destes", pode ler-se. "Há 20 anos que não acertamos", acrescenta o documento.
Cal e Farinha criticam também a estratégia seguida por Bruno de Carvalho, que deixou de lado a formação como base da política desportiva para apostar na contratação de estrangeiros. "A verdade é que nos últimos três anos contratou 42 jogadores, nos quais gastou 107 milhões de euros. No lado da formação, temos visto os resultados a deteriorarem-se. Nos últimos seis anos apenas ganhámos um título de juniores", pode ler-sr no documento, que deixa um alerta. "Os gastos com pessoal ‘consumiram’ 84 por cento das receitas no primeiro semestre deste ano", conclui a análise. Para o futuro, os sócios defendem que a estratégia deve passar por "dois eixos fundamentais" em que "o Sporting tem sido progressivamente ultrapassado: recrutamento e desenvolvimento técnico".
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