O antigo futebolista internacional português António Simões afirmou hoje que Eusébio, seu amigo e colega de equipa na seleção e no Benfica, "não morreu, só se ausentou fisicamente" e Portugal é que terá morrido "em parte".
"Eusébio não morreu, só se ausentou fisicamente. Com o seu afastamento, nós é que morremos em parte. No meu caso, uma grande parte. A eternidade rima com ele, rima com imortalidade. Enquanto a bola chora - toda a bola chora -, recordamos o seu sorriso generoso e o sorriso à bola, expressão da nossa tão querida portugalidade", afirmou, no elogio fúnebre, junto ao Panteão Nacional.
O melhor futebolista português do século XX, posteriormente ‘embaixador’ da Federação Portuguesa de Futebol e do Benfica, morreu na madrugada de 05 de janeiro de 2014, aos 71 anos, vítima de paragem cardiorrespiratória, e os seus restos mortais vão ser hoje depositados nos claustros da Igreja de Santa Engrácia, após decisão unânime da Assembleia da República.
"Eusébio era desigual. Ele tinha o que nós não tínhamos. Ele era ele, sempre de todos nós. Ele era ele, sendo mais do que todos nos - com a sua educação, talento, génio em momentos inigualáveis de futebol. Era arte, cultura, deslumbramento absoluto", destacou o ex-extremo esquerdo, vencedor de uma Taça dos Clubes Campeões Europeus, quatro Taças de Portugal e 11 campeonatos nacionais pelo Benfica e 46 vezes internacional pela ‘seleção das quinas’.
Perante uma plateia que contou com numerosas figuras do Estado, Simões referiu-se ao facto de o seu companheiro ser "também um campeão no ‘fair-play’ (desportivismo)", mercedor de uma "unanimidade majestosa", citando ainda personalidades políticas que "o maior herói popular de Portugal no século XX" admirou como Sá Carneiro, Jorge Sampaio ou Álvaro Cunhal, "a despeito das diferenças ideológicas".
"Hoje, eu disputo um dos desafios mais emocionantes da minha vida. Jogo, como sempre fiz, ao lado do Eusébio. Esse lado, que diz vitória, troféu, glória. Não estou a disputar a final dos campeões europeus, nem a meia-final do Mundial, mas estou a homenagear um amigo único, um companheiro inesquecível", tinha começado por dizer o antigo atleta, classificando Eusébio como "o maior e melhor desportista português de todos os tempos".
Simões, depois de se dirigir à mulher de Eusébio, Flora, e aos muitos anos de "sorriso aberto", recordou como era carinhosamente tratado pelo homenageado - "irmão branco" - e fez questão de acrescentar: "és o meu irmão, de todas as cores".
O cantor Rui Veloso interpretou em seguida dois temas - "Nunca me esqueci de ti" e "Mãe África" -, seguindo-se intervenções da Presidente da Assembleia da República e do Presidente da República.
O túmulo de Eusébio vai passar a estar junto dos da fadista Amália Rodrigues, da poetisa Sophia, do escritor Aquilino Ribeiro, do general e opositor ao Estado Novo Humberto Delgado, dos antigos presidentes da República Óscar Carmona, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Manuel de Arriaga e dos também autores literários Guerra Junqueiro, João de Deus e Almeida Garret.
Sob as naves da Igreja de Santa Engrácia existem também monumentos fúnebres às figuras históricas de Nuno Álvares Pereira, Infante Dom Henrique, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Luís Vaz de Camões.
*artigo atualizado às 20h55
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