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Rui Costa falou do carinho que o “pantera negra” nutria pelo ex-médio do Benfica.
O ex-jogador e atual diretor do Benfica Rui Costa revelou hoje um episódio desconhecido, quando Eusébio o fez chorar no dia em que se apresentou na Luz com mais 500 miúdos para tentar um lugar nos infantis.
“Estavam 500 miúdos naquele dia, todos queriam jogar, mas pouco depois de ter tocado algumas vezes na bola, o Eusébio tirou-me da equipa e disse ‘tu, menino, já chega’. Saí a chorar, a pensar que não ficaria, mas, no dia seguinte, soube que iria treinar com a equipa de infantis e do choro passei para a alegria num ápice”, contou á Benfica TV Rui Costa, que refere com orgulho que entrou no Benfica “pela mão de um gigante como Eusébio”.
O facto de ter agradado a Eusébio, que seria seu treinador nos escalões jovens, foi decisivo para iniciar a sua carreira no clube do coração e Rui Costa elogia o “rei”, apesar de não o ter visto jogar.
“Infelizmente, não vi, por razões de idade, mas não era preciso vê-lo jogar para saber da sua grandeza. O primeiro contacto com ele foi assustador, foi como estar na presença de Deus, mas, depois, conhecendo-o, mudei de opinião, pela simplicidade, pela forma como falava aos jogadores, pelo ser humano excecional que era”.
Rui Costa falou do carinho que o “pantera negra” nutria por si, pelo facto de “ter entrado para o clube pela sua mão” e por “ter conseguido fazer uma carreira de sucesso” e lembrou os conselhos que dava aos jogadores quando fez parte da equipa técnica da formação principal, em que “treinava os guarda-redes, mas ensinava também os avançados a rematar”.
Confirmou que Eusébio “soprou ao ouvido” do guarda-redes Ricardo, nos quartos de final do Europeu de 2004, na Luz, “o lado para o qual se devia lançar” para defender o último penálti, batido pelo inglês Darius Vassell, que colocou Portugal nas meias finais e lembrou que ele não perdia a oportunidade para, individualmente, dar conselhos aos jogadores para melhorarem “este e aquele aspeto”.
“Só a presença dele, com a toalha na mão, a assistir aos treinos e aos jogos era uma inspiração para nós, jogadores”, disse Rui Costa, para quem Eusébio “era de um país inteiro e não de um clube, um símbolo máximo que vai continuar a ser depois da sua morte”.
O impacto mundial da morte do “rei” não surpreendeu Rui Costa: “Para quem, como eu, viajou com o Benfica e a seleção por quase todos os cantos do mundo, não se surpreende nada o respeito que ele suscitava. Pude testemunhar a grandeza de Eusébio”.
“Nunca mais esqueço num jogo do Benfica em Old Trafford, de comemoração dos 25 anos da conquista da Taça dos Campeões pelo Manchester United, quando Bobby Charlton foi ao relvado e anunciou que ia chamar Eusébio”.
Rui Costa confessa que “nunca viu uma ovação como aquela” que assistiu em Old Trafford, com o estádio todo de pé a aplaudir o “pantera negra”, de tal modo que os jogadores “pararam de fazer o seu aquecimento”, com os do Benfica “orgulhosos por testemunharam uma homenagem arrepiante” a alguém que “era nosso”.
O antigo número 10 encarnado partilhou a última conversa com Eusébio, tida a 17 de dezembro, por altura do lançamento de um livro de António Simões, durante a qual brincaram um pouco, como sempre acontecia.
“Brincávamos com ele, picávamo-lo, dizendo que se ele jogasse hoje não fazia golos a ninguém e ele respondia-nos que se jogasse hoje que nos atropelaria. Voltei a brincar com ele e pareceu-me bem”, contou.
Entretanto, Rui Costa revelou a intenção do Benfica de dar continuidade à Eusébio Cup, quer seja através de um jogo só ou de um quadrangular, sendo certo que o critério de “escolher adversários com uma grandeza à sua altura se vai manter no futuro”.
“Todas as homenagens a Eusébio são poucas para o quão grande que ele foi”, observou Rui Costa, que não teme o impacto da sua morte no clube, a despeito do “enorme vazio que vai ser sentido”, ao mesmo tempo que acredita que “uma pessoa tão grande como ele só pode ter morrido feliz”.
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