O treinador alemão Roger Schmidt deixou o comando do Benfica, com o qual tinha contrato até 2026, na sequência do empate com o Moreirense, na I Liga de futebol, anunciou hoje o presidente do clube, Rui Costa.
“Roger Schmidt já não é treinador do Benfica. Chegados ao fim de quatro jornadas, decidimos que era o momento de trocar de treinador, face aos resultados e às exibições que não conseguimos obter e que ambicionávamos nesta altura", disse Rui Costa, em conferência de imprensa, no centro de estágios do clube, no Seixal.
Na sexta-feira, as 'águias' empataram 1-1 em Moreira de Cónegos, na abertura da quarta jornada da I Liga, depois de terem perdido na estreia com o Famalicão (2-0) e, pelo meio, vencerem Casa Pia (3-0) e Estrela da Amadora (1-0), ambos em casa.
De amado a contestado em apenas meia época
Os primeiros sinais de divórcio entre o técnico e os adeptos começaram ainda no primeiro ano do alemão na Luz, mesmo com o título conquistado. O Benfica começou bem, a arrasar, mas a parte final da época, após a saída de Enzo Fernandez em janeiro, não foi do agrado da exigente massa adepta. As derrotas caseiras com FC Porto, Inter Milão e a com o GD Chaves fora de casa, todas seguidas, deixaram os adeptos encarnados de pé atrás e a tecerem duras críticas a Schmidt.
O empate com o Sporting, conseguido quase a terminar, em Alvalade, fez tremer um título que era dado como certo, e que só seria confirmado na última jornada, na receção ao Santa Clara. Schmidt era campeão no ano de estreia no Benfica, mas apenas com dois pontos de vantagem sobre o FC Porto.
O segundo ano foi tudo menos pacífico. Apesar de ter começado da melhor forma, com a conquista da Supertaça diante do FC Porto, o Benfica viu fugir todos os outros títulos, tendo terminado no 2.º posto na I Liga, atrás do Sporting.
Foi na Liga dos Campeões que a equipa mais caiu, depois de uma primeira época do alemão onde esteve perto das meias-finais (eliminado pelo finalista Inter Milão nos quartos de final). Os encarnados, que saíram do Pote 1, do sorteio, o pote dos favoritos, salvaram-se de uma humilhação na derradeira jornada, com um golo de Arthur Cabral que deixou o Benfica no 3.º posto, com os mesmos pontos do Red Bull Salzburgo. A equipa continuaria na UEFA, via Liga Europa, onde era um dos candidatos a conquistar o troféu.
Na I Liga, o Benfica arrancou mal, com uma derrota no Bessa diante do Boavista. Apesar disso, partiu para uma sequência de oito triunfos seguidos, incluindo uma vitória diante do FC Porto na Luz por 1-0.
O Benfica, de altos e baixos, voltaria a deixar os adeptos com os cabelos em pé, quando somou três empates seguidos, com Inter (Champions), Moreirense e Farense na I Liga, intervalados por uma derrota caseira com a Real Sociedad e um empate, também em casa, com Casa Pia. Aos assobios vindos das bancadas, Schmidt recusava a ideia de que o Benfica estava mal. Para o técnico, só o azar impedia a equipa de vencer.
Oito vitórias seguidas parecia devolver um pouco de paz ao alemão, na contestação dos adeptos, mas a eliminação nas meias-finais da Taça da Liga diante do Estoril, nas grandes penalidades, voltou a deixar Schmidt sobre brasas.
Além dos maus resultados, o técnico não conseguia comunicar com a massa adepta encarnada. Criticado pelas suas opções, insultado em alguns jogos, o alemão chegou a dizer quem insultava a equipa e o treinador devia ficar em casa e não ir ver os jogos.
Apesar de ser visto como candidato a vencer a Liga Europa, as exibições mostravam algo diferente. A forma como eliminou o Toulouse, equipa que lutava pela permanência em França, não deixava antever algum sucesso ao Benfica na prova. Viria a cair na ronda seguinte, nas grandes penalidades, diante do Marselha, outro clube francês.
Restaria a Taça de Portugal, mas a derrota nas meias-finais frente ao Sporting afastou a equipa do único troféu interno onde ainda mantinha aspirações. A goleada de 0-5 no Dragão diante do rival FC Porto foi mais uma facada forte na relação entre Schmidt e os adeptos do Benfica. A sua capacidade em adaptar-se ao adversário, em ler o jogo, em corrigir posicionamentos, em ajudar a equipa em campo eram demasiados óbvios para serem ignorados.
Após as derrotas com Sporting, Marselha e Famalicão, a terminar a época, e os 10 pontos de diferença para o campeão Sporting, esperava-se que Rui Costa tomasse a decisão de prescindir dos seus serviços no final da época e iniciar um novo ciclo na Luz. Mas o presidente dos encarnados assim não entendeu, o que deixou ainda mais furiosos os adeptos do Benfica. Rui Costa passou também a ser alvo de contestação, pela falta de coragem em tomar decisões.
A derrota com o Famalicão e o empate com o Moreirense, após duas vitórias sofríveis com Casa Pia e Estrela da Amadora já não podiam ser ignorados por Rui Costa. Quando o Benfica sofreu o 1-0 diante do Moreirense na sexta-feira, o presidente abandonou a tribuna VIP e saiu. Hoje esperava-se uma decisão que chegou: o despedimento de Roger Schmidt.
Começa agora uma nova era na Luz, com o novo treinador a trabalhar com uma equipa que não montou.
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