Este artigo tem mais de 11 anos
O treinador português revela o que disse aos jogadores do Sporting no dérbi de 1986, e lembra a importância da mística no balneário neste tipo de jogos.
Na véspera de mais um dérbi da 2.ª Circular, o antigo treinador de Sporting e Benfica recordou ao SAPO Desporto a vitória dos “leões” no estádio da Luz, por 1-2, na temporada 1985/1986.
Com um palmarés invejável, em que se destacam quatro Liga dos Campeões Africanas, Manuel José é um dos técnicos portugueses com mais troféus conquistados no futebol mundial.
Depois de uma carreira de futebolista, com duas passagens pelo Benfica, Manuel José iniciou a carreira de técnico no Sporting de Espinho, clube onde terminou a carreira de jogador em 1979 para abraçar a paixão de treinar equipas.
Em 1985, o presidente do Sporting, João Rocha, contrata Manuel José para o cargo de treinador com o intuito de recuperar o título de campeão nacional que já fugia aos leões desde a época de 1981/1982. O Sporting de Manuel José dominou por completo a primeira volta do campeonato nacional, e na Taça UEFA chegou aos quartos-de-final, onde acabaria por ser eliminado pelos alemães do Colónia, finalistas vencidos dessa edição competição pelo Real Madrid.
Mas como no futebol tudo pode mudar de um domingo para o outro, o Sporting chegava à penúltima jornada da temporada 1985/1986 sem possibilidades de chegar ao título e fora ta Taça de Portugal. A 13 de abril de 1986, o estádio da Luz vestia-se de gala para celebrar mais um título de campeão, em caso de vitória sobre os eternos rivais, mas dois golos leoninos, na primeira parte, calaram por completo os 120 mil adeptos encarnados presentes nas bancadas para mais um dérbi emotivo.
«Quando fomos ao Estádio da Luz, a equipa já ia sem responsabilidades e ia jogar perfeitamente tranquila frente a um Benfica que se ganhasse era praticamente campeão. O último jogo do Benfica era no estádio do Bessa, com o Boavista, e como há, como sempre houve, aquela rivalidade entre Sporting e Benfica íamos jogar no Estádio da Luz antigo, com 120 mil sócios, cheio que nem um ovo», começou por dizer Manuel José ao SAPO Desporto.
«Terminava a época oito dias depois e os jogadores iam para a seleção nacional para disputar o campeonato do mundo no México, e portanto havia também ali uma série de circunstâncias com uma grande responsabilidade por parte do Benfica», acrescentou o treinador sobre as expectativas que havia para o dérbi de 1986.
Com o terceiro lugar no campeonato assegurado, o Sporting jogava na Luz com a pressão toda do outro lado e com a memória do afastamento da Taça de Portugal às mãos do rival. O Benfica estava a um pequeno passo de recuperar o título, e os adeptos encarnados preparavam-se para fazer a festa à conta dos “vizinhos”, mas os leões, por uma questão de boa vizinhança e de história, não quiseram ficar em segundo plano na “festa encarnada”, e ao intervalo já venciam por 2-0.
«Jogámos com a pressão do Benfica. Procurei dizer aos jogadores que quando começássemos a jogar tínhamos de calar os adeptos do Benfica pois ninguém aceitava de forma nenhuma um empate ou uma derrota do Benfica. Portanto, eles estariam debaixo de uma pressão muito grande. Já tínhamos perdido o campeonato, íamos ficar em terceiro lugar e portanto tínhamos condições para criar surpresa no Estádio da Luz», recordou Manuel José com o SAPO Desporto.
E a surpresa começou a desenhar-se nos pés de Morato, aos 11’ minutos, e de Manuel Fernandes, aos 22’ minutos. O Sporting vencia por 2-0 e o Estádio da Luz «mais parecia um túmulo», partilhou Manuel José.
«Aquilo nos primeiros minutos parecia um túmulo, porque não se ouvia uma voz e porque era o Sporting que mandava no jogo. Marcámos cedo também mas foi uma vitória por 2-1, magra para aquilo que fizemos. E com essa vitória, o FC Porto jogou em Setúbal, ganhou 1-0, com um grande golo do Futre, com o pé direito, e praticamente assegurou o título», afirmou o técnico de 67 anos.
Comentários