André Villas-Boas marcou presença no salão nobre da Junta de Freguesia de Santa Maria da Feira esta sexta-feira, numa sessão de esclarecimentos aos sócios do FC Porto. O candidato à presidência dos azuis e brancos criticou a atual gestão de Pinto da Costa, principalmente no que toca a comunicação.

Pilares da candidatura: "Assenta em quatro pilares: compromisso com ganhar e ser campeão, que é a parte da Direção desportiva. Em abril vamos anunciar o nome que tomará conta dessa parte. Estamos muito focados em reestruturar a parte financeira, para que a mesma seja reestruturada e haja sustentabilidade a curto, médio e longo prazo."

Aposta na formação: "É preciso um plano que valorize a formação, que encontre os maiores talentos e que proteja e dê o máximo aos treinadores, seja ele o Sérgio Conceição ou outro qualquer que venha a representar o clube. É quando somos suportados por forte direção desportiva que encontramos facilmente o caminho para o sucesso. O treinador, assim, não tem de se dispersar em guerras comunicacionais, de arbitragem... É preciso pessoas com carisma para organizar a casa."

Escolha do Diretor Financeiro: "Tenho muita confiança no Pereira da Costa, a pessoa que escolhi para CFO [Chief Financial Officer ou Diretor Financeiro]. São anos e anos de experiência em mercados financeiros e acho que vai ser enorme mais-valia. Neste caso e como se encontra o clube, era muito importante rodear-me de pessoas com qualidades como o José Pedro tem. Ele pode ser uma grande mais-valia na reestruturação da dívida financeira do FC Porto, que se encontra em 310 milhões de euros e no passivo, de 500 milhões de euros.

Sucesso desportivo não acompanha sucesso desportivo: "Tivemos sucesso desportivo nos últimos anos e infelizmente, no campo financeiro, não competimos com as melhores práticas e as contas entraram em total descontrolo, o que reflete perda de competitividade. Esta perda é fundamental reverter, formar equipas competitivas, assentes em bons projetos de formação e de scouting e que permita ao FC Porto ser campeão todos os anos ou lutar com equipas competitivas. Agora que o campeonato português perdeu um lugar no ranking da UEFA, as coisas podem tornar-se ainda piores. As equipas que entrarão na Champions terão acesso a mais meios, estarão no grande palco e é muito importante que no meu primeiro ano de mandato sejamos campeões, para estarmos nesse palco que dará sustentabilidade futura."

Decisões da atual direção: "O FC Porto vai vender 30 por cento dos direitos comerciais futuros e criar uma nova empresa, e a outra decisão é o caso da Maia, onde duas candidaturas fortes têm opiniões diferentes. É algo que nos custa. Olharemos para contratos a ser assinados à medida que olhamos para o conceito e construção do nosso. A nossa operação parece-nos mais rápida, tem metade do tamanho da outra, é mais eficaz no custo. Queremos apresentar o conceito da Academia a 3 de abril. Com imagens, para se enquadrarem sobre os espaços e relacionados com custo total da obra e tempo de construção."

Aposta nas modalidades: "O atraso é significativo, principalmente nas modalidades femininas. A não ser pela Dragon Force, elas não existem, tirando o recente voleibol feminino, com muito sucesso. A nossa ideia é apoiá-las para manterem a sua capacidade competitiva. Sondámos os sócios relativamente às modalidades que gostariam de ter e houve muita gente que pediu o futsal e o futebol feminino, implementado nos escalões mais jovens, mas falta a transição para o sénior e profissional. Assumi esse compromisso, é algo que quis sentir dos sócios.

Regresso de outras modalidades: "Recebo muita gente na sede que quer o regresso das modalidades perdidas: o remo, a ginástica, o ciclismo, o hipismo... Não podemos chegar a todo o lado, é preciso projetos estruturados. Paralelamente à direção desportiva de futebol, teremos direção de desporto das modalidades, de forma a que se estruturem no feminino e nestas duas que queremos atacar imediatamente. Sobre o futsal há dois caminhos: o parecido com o do voleibol, através de parcerias estratégicas, cedendo o nome a alguém e acaba por ter todos os escalões montados. A outra é implementar progressivamente, que gera mais sentido de pertença com sócios, mas que temos de analisar os compromissos financeiros. Numa base geral, o projeto é apoiar as modalidades existentes, implementar estas duas e pediram o voleibol masculino e o atletismo, de fácil implementação. Gostaríamos de analisar isso quando chegássemos."

Maior ligação aos sócios: "Na parte do associativismo, acabou por desaparecer o sentido de pertença. Isso partiu o coração dos sócios. Temos um amor visceral pela família e pelo FC Porto. Estes amores passam-se de geração em geração, tal como outros, que não foram tocados pela sorte... São agora grandes rivais e líderes do campeonato, serão grandes competidores. A situação atual custa-nos profundamente. Deixamos de ser reconhecidos e de nos relacionarmos com o clube de uma forma semelhante à de outro tempo. Um sócio assiste aos jogos do FC Porto, mas não se sente envolvido pelo seio do associativismo. O FC Porto é dos sócios, sempre foi e sempre será. Ser um clube de associados é uma vantagem competitiva no futebol atual.

Experiência pessoal de associativismo: "Treinei clubes de associados e clubes onde o proprietário está presente. Mas ele não tem vínculo emocional igual. Treinei o clube de coração, trouxe-me dissabores familiares, porque praticamente não existia como pai e marido, vivia 24 horas a função de treinador do FC Porto. No caso das propriedades isso não acontece... Num clube desses, pode estar um proprietário americano, que depois vende a um saudita e depois vende a um russo... Isto não acontece no nosso caso, é uma vantagem competitiva que temos de aproveitar se nos fecharmos nos nossos valores. Ambicionamos mais e melhor. Na apresentação da minha candidatura lancei esse repto ao FC Porto. Porque não um FC Porto fundador da Associação Europeia de Clubes Associados? Como o Barcelona, a Real Sociedad... Há grandes mais-valias a tirar do espírito do associativismo a partir do momento em que os sócios se sentem envolvidos. Estamos a ser afastados de algo que tanto amamos."

A expansão do FC Porto: "É preciso esclarecer que cada meio tem determinado público e vende mais em determinados setores. Obedece a modelos de negócio. O outro lado é a expansão nacional da nossa voz. Entristece-me que 88% dos sócios do FC Porto estejam apenas em três distritos. 12% do nosso universo são os bravos num deserto. Têm uma voz forte, mas precisam de crescer também. Não crescemos nacionalmente em termos de associativismo nos últimos 20 anos como devíamos ter crescido. São dados que me chocam e percebemos porque somos maltratados às vezes. Temos imensos atletas dotados, funcionários, treinadores, que podem expandir o FC Porto internacionalmente e não o fazem."