Em Cabo Verde já o apelidam como o "Special One Crioulo", mas Lúcio Antunes assume que é especial mas para a família, amigos e colegas de trabalho: "Especial há só um e não é em Cabo Verde".
Domingo último, Lúcio Antunes escreveu a maior página do futebol cabo-verdiano, ao conseguir, diante da poderosa seleção dos Camarões, um inédito apuramento para a fase final de uma Taça Africana das Nações (CAN), cuja próxima edição decorrerá em janeiro e fevereiro de 2013 na África do Sul.
Numa entrevista à agência Lusa, o técnico de 46 anos, natural da Cidade da Praia e antigo futebolista - ainda por cima goleador -, recusa protagonismos, defendendo que a evolução no futebol no arquipélago cabe, antes de mais, a um ambicioso projeto da Federação Cabo-Verdiana de Futebol (FCF), intitulado Cabo Verde 2008/2014.
«[O apuramento] foi graças a um projeto sério da FCF, em que teríamos de passar por várias fases para tentar conseguir uma qualificação para a fase final de uma CAN ou de um Mundial. Felizmente conseguimos a CAN e antecipámos os nossos objetivos, em um ano, que era e é a qualificação para o Mundial2014 [a realizar no Brasil]», disse.
O projeto, salientou, passa pela melhoria das condições de trabalho - os estádios em todas as ilhas deixaram de ser pelados e são atualmente de piso sintético -, pela formação contínua de «todos os treinadores de todos os clubes» e pelo surgimento de dezenas de escolas de futebol pelo país.
«Os jogadores têm agora melhor ritmo competitivo e jogam já em boas equipas na Europa. Tudo isso contribuiu para que o nosso futebol chegasse a este ponto», justifica o homem que foi adjunto do antigo selecionador de Cabo Verde, o português João de Deus, e que subiu a treinador principal há dois anos.
Qualificação para Mundial2014 está mais complicada
Questionado pela Lusa sobre quais as suas ambições, Lúcio Antunes mostrou-se despreocupado, salientando que a sua profissão é a de controlador aéreo, em Cabo Verde, e que as portas que se podem abrir com o apuramento de Cabo Verde para a CAN13 vão inteiras para a seleção.
«Para já, penso que as portas poderão estar a abrir-se para a seleção de Cabo Verde. Estou concentrado no meu trabalho e na federação e na próxima fase final da CAN13, nada mais. Estou há dois anos com uma licença sem vencimento para me dedicar exclusivamente ao cargo de selecionador. O meu contrato termina após a CAN e vamos ver se vou continuar ou se vou regressar à torre de controlo», disse.
Sobre até onde pode ir a seleção na África do Sul, Lúcio Antunes salienta que, com a qualidade dos jogadores, com a ambição de todos e com «boas condições de trabalho, Cabo Verde poderá jogar "de igual para igual" contra qualquer equipa».
A qualificação para o Mundial2014, porém, está mais complicada, assume, lembrando que, apesar de ter perdido os dois primeiros jogos - na Serra Leoa, por 2-1, e em Cabo Verde, com a Tunísia, também por 2-1 (a outra seleção do grupo é a Guiné Equatorial) -, a recuperação é possível.
«Depois da CAN haverá uma equipa mais experiente, com maior qualidade, apta a jogar de igual para igual com as outras equipas e garantir o apuramento», disse.
"Special One" só há um
E ser considerado o "Special One Crioulo", tal a comparação que a imprensa faz com José Mourinho, o técnico português do Real Madrid?
«Não. Special One só há um e não é de Cabo Verde. Considero-me uma pessoa especial, mas para a minha família e para os meus amigos. Sou um homem tranquilo, que gosta da família que tem, dos amigos, da profissão que tem, do futebol e que gosta sobretudo de Cabo Verde. Não fico à espera de uma recompensa», concluiu.
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