“Já sei que só regresso mesmo no dia 3, não há outra solução”. O discurso de Fernando Santos, na antevisão ao encontro da meia-final com o Chile, é em tudo semelhante às palavras proferidas há um ano, poucos depois da estreia de Portugal no Europeu de 2016, quando a equipa das quinas já havia empatado com Islândia e Áustria na fase de grupos. E o que naquela altura parecia excesso de confiança do técnico acabou por tornar-se na profecia mais bela do futebol português. Portugal sagrar-se-ia campeão europeu, título esse que trouxe agora a Seleção Nacional à Taça das Confederações.

Fernando Santos estava certo na altura e volta a estar certo agora. Independentemente do desfecho da meia-final desta quarta-feira com o Chile, a equipa lusa só regressa a Portugal no dia 3 de julho. Porque mesmo perdendo o duelo em Kazan, ainda terá de jogar a atribuição dos terceiro e quarto lugares, em Moscovo.

“Espero é regressar feliz”. O discurso de terça-feira, bem mais cauteloso, percebe-se. O Chile, também ele um estreante nestas andanças, chega a esta meia-final depois de um percurso pouco consistente no Grupo B – uma vitória e dois empates valeram o segundo lugar -, mas desengane-se quem pensa que a equipa que se apresentar diante de Portugal, esta quarta-feira, será a mesma que se mostrou bastante aquém do esperado no último duelo com o conjunto da Oceânia.

A equipa de Juan Antonio Pizzi chega à Rússia como vencedor da última edição da Copa América (ou das duas últimas, se tivermos em conta a edição especial do centenário), com algum ‘veneno’ para distribuir, principalmente no ataque, apoiado nas suas duas maiores estrelas: Alexis Sánchez, avançado do Arsenal, e Arturo Vidal, médio do Bayern Munique.

O potencial ofensivo da ‘Roja’ sul-americana acaba por apresentar algumas semelhanças com outra equipa do continente americano, a única que conseguiu fazer alguns estragos na baliza de Rui Patrício. O empate com o México (2-2), outro dos seminfinalistas em prova, acabou por ser, até ao momento, o único percalço da equipa lusa nesta Taça das Confederações, a que se seguiram os triunfos diante da anfitriã Rússia e da Nova Zelândia, que valeram a liderança do Grupo A.

Não será fácil, portanto, travar o fulgor ofensivo deste Chile, mas a verdade é que o conjunto de Juan Antonio Pizzi também não parece estar ao seu melhor nível, principalmente no que toca aos processos defensivos e à dependência dos seus laterais. Por outro lado, o regresso de Claudio Bravo à baliza, no último domingo, depois de longa paragem devido a lesão, serviu para perceber que o guardião do Manchester City ainda está longe do rendimento doutros tempos.

Para este encontro, Fernando Santos não fará qualquer operação no onze. Com duas baixas certas – Pepe está castigado e Raphael Guerreiro está indisponível por lesão – há ainda a dúvida em torno de Bernardo Silva, que, mesmo estando apto para o encontro em Kazan, não deverá jogar de início. De resto, nada de novo: Cédric e Eliseu nas laterais, sendo que Bruno Alves deve ser o eleito para fazer dupla com José Fonte no eixo da defesa; André Gomes deve regressar ao meio-campo, com William e Adrien Silva. Nani deverá ser aposta para alinhar mais ou menos ao lado do trio de médios, enquanto André Silva e Ronaldo – está a um golo de se isolar no segundo lugar dos melhores marcadores de sempre de seleções europeias – estão mais do que certos na frente de ataque.

Na conferência de antevisão do encontro, o selecionador português referiu que Portugal é, a par do Chile, um dos grandes candidatos à conquista da Taça das Confederações. “Sempre disse que há um fortíssimo candidato, que é a Alemanha, e que há três equipas que se posicionam como grandes candidatas, que são o Chile, o México e Portugal. Sabemos das valias das equipas, sabemos o peso desta competição na América do Sul e sabemos que é difícil ver uma equipa da Europa a vencer esta competição. Vamos procurar representar bem Portugal e representar bem a Europa", analisou.

Do outro lado, Juan Antonio Pizzi defende que esta meia-final será igualmente difícil para as duas equipas. “O nosso primeiro objetivo era chegar às meias-finais. Conseguimos. Sabemos que vamos ter um jogo muito difícil, mas posso garantir que Portugal também vai ter um jogo muito difícil. A nossa intenção é fazer tudo para estarmos na final”, referiu. E quanto a Cristiano Ronaldo? “É parte da equipa de Portugal e não a equipa de Portugal. Claro que teremos mais cuidado com ele, mas nada de especial”, concluiu o técnico.

No que ao onze chileno diz respeito, há que puxar um pouco mais pela cabeça. É certo e sabido que o sistema preferencial de Juan Antonio Pizzi é o 4x3x3, com um médio mais defensivo, dois interiores e dois extremos mais soltos no apoio a uma referência na frente de ataque - Vargas. Contudo, o técnico deverá apostar no mesmo sistema tático apresentado frente à Alemanha, na fase de grupos, em que a ‘Roja’ conseguiu durante algum tempo encostar a campeã do Mundo às cordas: um 4x4x2 com o meio-campo em losango, que dará maior consistência à equipa ao mesmo tempo que deixa Alexis Sánchez e Arturo Vidal mais livres.

História favorável a Portugal

A equipa das quinas volta a encontrar o Chile, em jogos oficiais, 89 anos depois de os sul-americanos terem apadrinhado a estreia de Portugal nos Jogos Olímpicos de Amesterdão. Desde então, as duas equipas nunca mais se encontraram em partidas oficiais, tendo ainda disputado dois particulares.

O saldo é claramente positivo para a formação lusa: duas vitórias e um empate. Em 1928, a Seleção bateu os chilenos por 4-2; o segundo confronto surgiu em 1972, com Portugal a vencer a ‘roja’ por 4-1, no Torneio da Independência do Brasil; o terceiro e último ocorreu em 2011, em Leiria, sob o comando de Paulo Bento e terminou empatado a uma bola – marcaram Silvestre Varela e Matías Fernández. De referir que este jogo assinalou a estreia de Rui Patrício a titular na seleção principal, lugar que nunca mais abandonou. Aliás, do duelo na Cidade do Lis, apenas o guarda-redes do Sporting, Nani, João Moutinho, Pepe e Quaresma mantêm-se nas opções.

O jogo entre Portugal e Chile está marcado para as 19 horas de quarta-feira, em Kazan, e vai ser arbitrado pelo iraniano Alireza Faghani. A Alemanha, por sua vez, vai defrontar o México na quinta-feira (também às 19h00), em Sochi.