Afinal de contas, ainda é cedo para definir o futuro dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Quem o diz é Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional numa carta dirigida aos atletas.
"Juntamente com todos os responsáveis, começamos hoje discussões detalhadas para completar a nossa decisão face ao rápido desenvolvimento da crise de saúde mundial e do seu impacto nos Jogos Olímpicos, incluindo um cenário de adiamento. Estamos a dar o máximo e estamos confiantes de que teremos uma decisão final dentro das próximas quatro semanas", escreveu Bach.
O presidente do COI afirma que o cancelamento das olimpíadas está fora de questão.
"Tal como vocês, estamos num dilema: O cancelamento dos Jogos Olímpicos iria destruir o sonho olímpico de 11.000 atletas, de 206 Comités Olímpicos Nacionais, da equipa de refugiados do COI e muto provavelmente dos atletas paralímpicos, e para todos os que vos apoias como treinadores, oficiais, companheiro de treinos, familia e amigos. O cancelamento dos jogos não resolveria nenhum problema e não ajudava ninguém. Por isso isso está fora da nossa agenda", afirmou antes de explicar o porquê de um adiamento não ter sido já confirmado.
"Uma decisão sobre o adiamento hoje não poderia determinar uma nova data para os Jogos Olímpicos devido à incerteza nos desenvolvimentos nas duas direções: uma melhoria, como estamos a assistir num número de países graças às medidas severas que estão a ser tomadas, e um agravamento da situação noutros países", explicou.
O Comité Olímpico Internacional garante que a saúde dos atletas e a contribuição no controlo da pandemia é prioritário na tomada da decisão.
"A vida humana é prioritária sobre tudo, incluindo sobre a realização dos Jogos. O COI quer ser parte da solução. Por isso a nossa prioridade será preservar a vida de todos os envolvidos e contribuir para conter o vírus", acrescentou.
Bach admite que a decisão "racional" do COI não vai de encontro ao estado de espírito dos atletas, mas que "espera que possam entender o nosso desafio, e aceitar e apoiar os nossos príncipios que são salvaguardar a vossa saúde, a saúde da vossa família e de todos, e manter o sonho Olímpico vivo".
A rádio espanhola Cadena Ser e muitos outros meios espanhóis avançaram que o Comité Olímpico Internacional (COI) iria anunciar nas próximas horas o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que estavam marcados para este verão. Contudo, do Canadá, pelo canal CBC, surgiu a informação de que o COI deverá dar-se até ao mês de abril até confirmar essa decisão, informação que acabou por se revelar fidedigna.
Contactado pelo SAPO Desporto, João Almeida, diretor geral do Comité Olímpico de Portugal, confirmou que iria existir uma comunicação por parte do Comité Olímpico Internacional relacionada com Tóquio 2020, sendo que o teor do mesmo era desconhecido por parte dos dirigentes portugueses.
A confirmar-se o adiamento, será a quarta vez que as Olímpiadas são canceladas, e pela segunda vez a afetar a capital japonesa, tal como ocorreu em 1940, devido à Segunda Guerra Mundial.
Também para a edição de 1940, o Governo japonês tinha como intenção mostrar um país refeito de uma catástrofe, no caso o terramoto na região de Kanto em 1923, e para Tóquio2020 o plano também passava por mostrar "reconstrução", nove anos após um terramoto, um tsunami e o desastre na central nuclear de Fukushima.
Nesses Jogos, a candidatura japonesa tinha outro objetivo: tornavam-se um meio diplomático para melhorar a imagem no Ocidente, após a invasão da região chinesa da Manchúria em 1931 e da saída da Liga das Nações, em 1933, após esta ter recusado legitimar a ocupação dessa parte da China.
Os Jogos Olímpicos foram iniciados em 1896, em Atenas, e realizaram-se de quatro em quatro anos e, desde então, as exceções ocorreram em Berlim1916, Tóquio1940, quando ainda chegaram a ser transferidos para Helsínquia, antes de serem cancelados, e em Londres1944.
A capital britânica foi anfitriã da edição de 1948, a finlandesa a seguinte, em 1952, e a japonesa em 1964.
Estão também definidas as sedes dos Jogos das 33.ª e 34.ª Olimpíadas, casos de Paris e Los Angeles, em 2024 e 2028, respetivamente.
A realização da última edição dos Jogos no Rio de Janeiro também foi colocada em causa, então devido à epidemia do vírus Zika, no Brasil, depois de a realização de Londres2012 ter sido ameaçada pela ameaça terrorista.
A pandemia do novo coronavírus pode provocar algo que não foi feito com as revoltas militares no México1968, com o atentado terrorista de Munique1972, nem os boicotes das grandes potências em Moscovo1980 e Los Angeles1984.
Mais tarde, em Atlanta1996, um segurança evitou que, em 27 de julho, uma mochila com uma bomba detonasse o Parque Olímpico Centennial, ao retirá-la do local minutos antes da explosão que, ainda assim, matou duas pessoas e feriu outras 111, num incidente que ensombrou o resto da competição.
Para os Jogos de inverno de Vancouver2010, também uma pandemia ameaçou a realização da prova quadrienal, no caso o H1N1, conhecido como ‘gripe A', que também surgiu no panorama mundial a seis meses da prova.
Então, a Organização Mundial de Saúde decretou o fim da pandemia em agosto de 2010, com a prova a realizar-se como planeado, sete anos depois de outra doença surgir na China e ter chegado a ameaçar os Jogos de Atenas2004.
Trata-se do SARS, síndrome respiratória aguda grave, causada pelo primeiro coronavírus, precursor do novo, e que até 2004 causou mais de 700 mortes em vários países, a maioria na China e em Hong Kong.
Em 1916, o Estádio Olímpico de Berlim estava a ser utilizado desde 1915 como hospital de campanha, seguindo as prioridades alemãs, que, então, o Comité Olímpico Internacional acatou.
Os seguintes Jogos cancelados foram de 1940, na capital japonesa, cujo país renunciaria a organizar também os Jogos de Inverno, em Sapporo.
Esta decisão dos nipónicos ocorreu dois anos antes, em plena guerra sino-japonesa, um conflito que antecedeu a II Guerra Mundial.
O COI atribuiu a organização das competições de Verão a Helsínquia, que tinha perdido para Tóquio, e os de Inverno a St. Moriz, primeiro, e, depois, devido a um conflito com a Suíça, a Garmisch, na Alemanha.
Acabaram por ser cancelados em novembro de 1939, dois meses depois da invasão nazi à Polónia, e, em maio de 1940, os que se realizariam na Finlândia, devido aos ataques da União Soviética.
Apesar da guerra, o COI manteve as atividades e, em 1939, atribuiu a Londres os Jogos de Verão e a Cortina, na Itália, os de Inverno. Esta intenção soçobrou em 1942, quando foram definitivamente cancelados.
Depois da Segunda Guerra, St. Moritz, na Suíça, e Londres retomaram a organização das competições, que nunca mais foram cancelados, até agora.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 308 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 13.400 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro de 2019, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu tornou-se o epicentro da pandemia, com a Itália a ser o país do mundo com maior número de vítimas mortais (4.825), o que levou vários países a adotarem medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
Em Portugal, que se encontra em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira, a Direção-Geral da Saúde elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 1.600, mais 320 do que no dia anterior. O número de mortos no país subiu para 14.
*Artigo atualizado às 21h42
**Com LUSA
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