A atleta Kimia Yousofi garante que nos Jogos Olímpicos de Paris representará "os sonhos roubados e aspirações" de todas as mulheres afegãs após o retorno dos Talibã ao poder em agosto de 2021.

A velocista, especialista nos 100 metros, foi porta-estandarte da delegação afegã em Tóquio-2020, mas depois fugiu de seu país para escapar à perseguição dos talibãs no poder em Cabul. Ela é uma das cinco atletas, ligadas ao movimento olímpico, que receberam autorização para viajar para a Austrália e que foram acompanhadas pelas suas famílias um ano depois.

"É uma honra representar novamente as raparigas do meu país. Meninas e mulheres que foram privadas de direitos básicos, incluindo a educação, que é o mais importante", declarou a atleta de 28 anos por intermédio do Comité Olímpico Australiano, país onde reside como refugiada. "Represento os sonhos roubados e as aspirações destas mulheres. Aquelas que não têm autoridade para tomar decisões como seres humanos livres", insistiu.

A delegação afegã em Paris-2024 será formada por três homens e três mulheres. Os homens irão competir no atletismo, natação e judo, enquanto que as mulheres irão participar no atletismo e ciclismo. Estes atletas foram selecionados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e com base numa consulta juntamente com o Comité Olímpico Afegão, cuja maioria dos membros está em exílio. Apenas o judoca continua vivendo no seu país e a delegação participará com as cores (preto, vermelho e verde) da antiga república afegã, que derrubada pelos Talibã. Também será reproduzido o hino original do país antes dos talibãs chegarem ao poder, em 2021.

O COI não credenciou qualquer representante do governo talibã. O regime reiterou na segunda-feira que não reconhece Yousofi e as outras duas atletas como representantes do país nos Jogos. "Apenas três atletas representarão o Afeganistão", declarou o porta-voz talibã, Atal Mashwani, referindo-se aos três atletas do sexo masculino.

Os talibãs têm uma interpretação muito rígida do Islão e que priva as mulheres de direitos. Elas são excluídas não só dos desporto mas de muitos espaços públicos, da educação e também de determinados empregos. As Nações Unidas consideram estas restrições como "apartheid de género". O COI já excluiu o Afeganistão dos Jogos Olímpicos em 1999, durante o primeiro período do Talibã no poder (1996-2001), quando as mulheres já eram proibidas de praticar desporto. O país asiático foi readmitido quando os talibãs foram afastados do poder após uma invasão liderada por tropas americanas na sequência dos ataques de 11 de setembro.

Paris-2024 são as primeiras Olimpíadas organizadas desde que o Talibã voltou ao poder. Nesta ocasião, o COI abordou a situação de forma diferente, dando luz verde a uma equipa afegã para garantir que todos os 206 países estarão representados, com atletas que não se teriam classificado de outra forma.

O australiano John Quinn será o treinador de Yousofi, anunciou o Comité Olímpico Australiano. Quinn elogiou a afegã que irá para os seus terceiros Jogos Olímpicos, por considerá-la uma "inspiração para seus colegas de treino". "Desde que chegou aqui, ela melhorou muito tecnicamente na pista e tem uma grande equipa ao seu redor", disse o treinador. "Mas se  levar em conta também tudo o que ela teve que fazer, o treino, aprender um novo idioma, trazer a família e tudo mais, é incrível. Sem dúvida, seus esforços inspiraram seus companheiros de equipa. Agora ela estará mais uma vez no cenário mundial em Paris", concluiu.

O Afeganistão, que possui o terceiro maior contingente de exilados do mundo, também será representado por cinco atletas na equipe olímpica de refugiados (EOR), entre eles a ciclista Masomah Ali Zada, que será capitã da delegação.