Mauricio Moreira consolidou-se hoje como a maior ameaça à revalidação do título de Amaro Antunes na Volta a Portugal, com o ciclista da Efapel a corresponder ao excelente trabalho da sua equipa ao vencer na Senhora da Graça.
O dia mais aguardado da 82.ª edição superou todas as expectativas, com a nona etapa a proporcionar um espetáculo impróprio para cardíacos, num duelo entre os dois homens mais fortes desta Volta só decidido nos 500 metros finais, quando Moreira atacou e o pé do camisola amarela saltou, deixando caminho livre para a estreia do uruguaio de 26 anos a vencer na prova e logo na segunda mais mítica de todas as subidas.
A Efapel esteve perfeita como equipa, ‘sacrificando’ Frederico Figueiredo, ainda terceiro da geral, e António Carvalho para ‘rebocar’ Moreira quando este passou por dificuldades, no Barreiro, e escoltando-o, depois, na Senhora da Graça, para deixar o uruguaio em boa posição para finalizar e ascender à vice-liderança da geral, a 42 segundos de Antunes – os 40 segundos de penalização por duplo abastecimento irregular na Torre podem ser decisivos no desfecho desta Volta.
“Para mim, o nosso líder sempre foi o António e o Fred também. Vinham à Volta com esse objetivo. Hoje, quando vi que eles estavam a hipotecar as suas oportunidades para me ajudarem, senti um bocado de pressão, mas também foi uma motivação para dar o melhor de mim e agradecer-lhes o trabalho que estavam a fazer”, assumiu, dizendo acreditar que pode destronar o algarvio.
Com 20,3 quilómetros para percorrer no domingo, nas ruas de Viseu, o corredor de 26 anos, especialista na luta contra o cronómetro, é uma séria ameaça ao campeão em título, que hoje viu a sua W52-FC Porto tentar decidir a corrida no Barreiro, mas perder-se em táticas confusas, nomeadamente aquela que levou Joni Brandão a cumprir sete dos oito quilómetros da subida isolado na frente para ‘morrer na praia’.
Os 145,5 quilómetros com partida em Boticas eram a última oportunidade para os valentes do pelotão brilharem e, três quilómetros depois da partida real, já o dono da camisola dos pontos, Rafael Reis (Efapel), o líder da montanha, Bruno Silva, e o seu companheiro Vicente García de Mateos (Antarte-Feirense), Joaquim Silva e Pedro Pinto (Tavfer-Measindot-Mortágua), Roniel Campos (Louletano-Loulé Concelho), Aleksandr Grigorev (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) e Juan Diego Alba (Movistar) andavam destacados na frente.
De amarelo, a W52-FC Porto controlou a perseguição, nunca deixando a fuga ganhar grande vantagem, mas permitindo que quer Rafael Reis, quer Bruno Silva, vencedor da classificação da montanha em 2015, tenham garantido já hoje a presença no pódio final em Viseu.
O Barreiro, uma primeira categoria de 10 quilómetros instalada ao quilómetro 101,2, e o ritmo fortíssimo imposto pelos ‘dragões’ condenaram a fuga e abriram as hostilidades entre os homens da geral: Ricardo Mestre reduziu o grupo e as pendentes duras fizeram o resto, com Brandão a quebrar momentaneamente e João Rodrigues a prosseguir o trabalho do vencedor de 2011.
Figueiredo foi o primeiro a destacar-se, na sua pedalada suave, mas os ataques não pararam por aí: atacou Carvalho, respondeu Rodrigues, e o duo até alcançou uma margem próxima de um minuto, anulada por Marque, com Brandão na roda, na descida rumo a Mondim de Basto.
E foi aí, finalmente, que o ‘bluff’ da Efapel foi desvendado: a aposta da equipa amarela não era o assumido líder António Carvalho, mas sim Moreira que, depois de descolar, viu os seus dois colideres descaírem para o rebocarem, num grupo onde também estava Amaro Antunes.
No trio da frente, que chegou ao sopé do Monte Farinha com 30 segundos de vantagem sobre o grupo do camisola amarela, Brandão ia pedindo colaboração a Marque, mas o galego do Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel estava mais do que satisfeito em seguir na roda nos homens da W52-FC Porto – afinal, esta era a situação ideal para ‘Alex’, um dos maiores especialistas na luta contra o cronómetro.
Logo no início da subida, Rodrigues ficou ‘apeado’ e Marque aceitou colaborar com o corredor da W52-FC Porto, que ‘traiu’ o galego a seis quilómetros do alto e foi em busca da vitória na etapa e, quem sabe, do pódio. Mas as pretensões do três vezes vice-campeão da Volta esfumaram-se, por mérito de uma Efapel unida enquanto equipa, e de um Mauricio Moreira soberbo, que ‘sprintou’ até ao alto para cortar a meta com o tempo de 03:47.36 horas.
O camisola amarela ‘salvou’ a jornada, ao perder apenas oito segundos no alto, com Brandão a ser terceiro, a 14. Figueiredo, extraordinário hoje no trabalho para o seu companheiro, foi quarto a 45, enquanto Marque quebrou nos dois últimos quilómetros – foi sétimo, a 01.12 minutos - e hipotecou definitivamente o sonho de vencer a Volta a Portugal.
O galego tem, contudo, legítimas aspirações ao pódio, uma vez que é quinto, a 01.18 minutos de Antunes, mas 23 segundos atrás de ‘Fred’ e 14 atrás de Brandão, dois homens que, habitualmente, não se dão bem no ‘crono’.
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