De há uns anos para cá a cidade de Madrid rendeu-se a um português de seu nome Cristiano Ronaldo. Uma visita de médico pelas ruas da capital espanhola e saltam à vista os cartazes publicitários, as camisolas do jogador, e mesmo as conversas em torno do futebol não conseguem deixar de fora o português.
Ora nos últimos meses, há outro português que tem dado que falar em Madrid. Também chegou com o rótulo de craque, também faz suspirar quem o vê com a imprevisibilidade dos seus movimentos, tem os mesmos 28 anos de Cristiano Ronaldo e também marca golos. Estamos a falar de Ricardinho, o jogador de futsal que chegou ao Inter Movistar e depressa conquistou os amantes locais da modalidade.
Em conversa com o SAPO Desporto em Madrid, o internacional português reconhece que a experiência de jogar naquela que é para ele «a Liga mais competitiva do mundo» está a «ser espetacular». E as suas exibições em Espanha têm levado a inevitáveis comparações com Cristiano Ronaldo, e à inevitável colagem do futsal ao futebol.
«Já ouvi um pouco de tudo. Eu cheguei a Madrid e o que mais me impressionou, foi o facto de se falar do Ronaldo em todo o lado. É impressionante. Encheu-me de orgulho porque ele é português. A mim já me chamaram de Ronaldo, de Cristianinho do futsal. Essas comparações surgem porque sou português, porque me veem a fazer aquelas fintas. Isso deixa-me obviamente feliz», disse por entre sorrisos.
Uma receção com pompa e circunstância
A expectativa que se criou em torno da sua chegada foi tanta que o próprio se assustou. Não chegou para encher o Santiago Bernabéu como Cristiano Ronaldo, mas foi montado um circo mediático pouco normal no futsal.
«Sinceramente não estava à espera da forma como fui recebido. Ser recebido em Espanha como o craque do campeonato, um nome incontornável, no início assustou-me. Fui entrevistado pelo jornal Marca, pela Rádio Marca, e até fizeram um documentário comigo, o primeiro do género feito pela LNFS (Liga Espanhola de Futsal). Mas acho que consegui corresponder ao longo dos jogos e calar algumas pessoas que diziam que eu só fazia o que fazia porque jogava na Liga japonesa ou na Liga portuguesa», atirou.
Um sonho bem real
Para Ricardinho, chegar a Espanha e ao Inter não foi apenas e só mais uma etapa da sua carreira como outros desafios que já enfrentou. Falamos de algo mais profundo, de um sonho e de uma promessa que estava por cumprir desde 2007. O desejo do jogador e do presidente do clube ficou expresso numa troca de palavras de ocasião. A verdade é que das palavras aos atos passou-se um período de seis anos. A história é nos contada pelo protagonista.
«Em 2007, joguei em Portimão pelo Benfica um torneio intercontinental. O Inter participou nesse torneio e jogou como nunca. Era uma equipa brilhante com jogadores fantásticos. Num dos jogos que disputei pelo Benfica perdi 2-1 para o Sporting. Óbvio que estava triste depois do jogo, e sentei-me no chão perto da quadra. O presidente do Inter, José Maria Garcia, passou, naquela altura, por mim e disse-me: ‘Um dia ainda vais jogar no Inter’. Eu prontamente respondi-lhe: ‘Eu sei que vou jogar no Inter um dia. Agora, vamos ver é quando’. Eu sempre quis jogar no Inter, até porque cada vez que os defrontávamos, eles cilindravam-nos. Jogávamos em casa e perdíamos, íamos a Espanha e perdíamos. Eu sempre considerei esta como a melhor equipa».
Uma travessia no deserto
O sonho é hoje uma realidade, e Ricardinho chegou numa altura em que o clube mais precisava dele. O Inter enfrenta uma seca rara na sua história. O último título conquistado foi uma Supertaça em 2011, tudo o resto tem rumado à Catalunha para a sala de troféus do Barcelona. Este ano parece que algo está a mudar.
«Estamos em primeiro no campeonato e ainda só perdemos um jogo. Foi no prolongamento (Barcelona/Taça de Espanha) numa casa onde já ninguém ganha há mais de um ano. E perdemos, na minha opinião, contra a melhor equipa da atualidade que é o Barcelona. Mas temos uma palavra a dizer no campeonato. Fizemos a melhor primeira volta de sempre da Liga espanhola e queremos continuar assim».
Os primeiros meses têm sido de sonho para ele, ou melhor, bem reais, face aos números apresentados. O Inter lidera o campeonato com 40 pontos, estando com oito de vantagem sobre os rivais Barcelona e El Pozo. Agora é preciso esperar pelo resto da temporada para se saber se Ricardinho conseguirá aliar às boas exibições, os títulos que os adeptos tanto esperam, e até desesperam, nas últimas épocas.
Comentários