As acusações de irregularidades, que levaram a duras críticas por parte da Agência Mundial Antidoping, levaram o governo espanhol a substituir o diretor da Agência Antidoping Espanhola (Celad), José Luis Terreros, por Silvia Calzón.
"O Conselho de Administração da Agência Espanhola de Luta Antidoping no Desporto aprovou na sua reunião desta sexta-feira a nomeação de Silvia Calzón como diretora-geral da organização", afirmou a agência, em comunicado.
A substituição de Terreros foi feita após este recusar a demissão, solicitada no início do mês pelo presidente do Conselho Superior de Desportos (CSD), José Manuel Rodríguez Uribes, devido ao "dano reputacional" que Terreros estava a causar ao desporto espanhol.
Uribes pediu a renúncia de Terreros após encaminhar, para a Procuradoria, os resultados de uma investigação "a partir de uma denúncia de supostas irregularidades no uso de fundos públicos e no controle e sanção antidoping" por parte do Celad.
Ao mesmo tempo, foi adicionada a publicação na imprensa de supostas irregularidades, que incluíam resultados positivos não sancionados, controles realizados de maneira irregular ou dúvidas nos passaportes biológicos.
O passaporte biológico de um atleta permite monitorizar diferentes parâmetros sanguíneos durante um período prolongado. Desta forma, é possível identificar possíveis violações das regras antidoping.
"Consequências significativas"
A Agência Mundial Antidoping (AMA) tinha criticado a Celad e feito ameaças com "consequências significativas para o desporto espanhol" se os casos de doping não fossem tratados "de maneira rápida e eficaz".
"Somos muito conscientes dos problemas profundamente enraizados no antidoping espanhol. Estou decepcionado com o nível de cooperação que recebemos da Celad e procuraremos melhorar o sistema para os atletas espanhóis", disse o presidente da AMA, Witold Banka, citado nm comunicado da agência, a 5 de janeiro.
Acusada de ignorar alguns casos em Espanha, a AMA defendeu-se em comunicado das acusações da imprensa e citou algumas medidas tomadas.
Entre elas, o organismo antidoping mundial afirmou que, em 2023, "tomou uma medida muito incomum de retirar três casos de passaportes biológicos da organização e entregá-los às federações internacionais envolvidas, para que os tratassem no seu lugar".
"Em outros dois casos relacionados com passaportes biológicos, a AMA impôs prazos rigorosos para que a Celad publicasse os resultados", destacou.
Em 10 de janeiro, ainda sob a direção de Terreros, a Celad defendeu-se de qualquer irregularidade, garantindo que as informações a esse respeito eram "suposições interessadas e tendenciosas".
A resistência de Terreros, que comandava a agência antidoping desde 2017, levou o governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez a substituí-lo por uma pessoa próxima para reforçar a luta contra o doping.
Experiência na gestão da pandemia
Médica de profissão, a nova diretora do Celad foi secretária de Estado de Saúde entre agosto de 2020 e novembro de 2023, período em que teve de administrar os piores momentos da pandemia da Covid-19.
O governo dá, assim, um passo em frente num país frequentemente acusado, no passado, de laxismo na luta contra o doping.
Em 2016, a AMA afirmou que Espanha não estava em conformidade com seu código antidoping, e o próprio presidente do Comité Olímpico Espanhol (COE), Alejandro Blanco, considerou que a Espanha era "uma referência negativa em matéria de doping", prejudicada pela falta de legislação específica.
Neste panorama, a Espanha aprovou em 2021 uma lei destinada especificamente à luta antidoping. Entretanto, embora a AMA tenha apoiado essa nova legislação, voltou a expressar dúvidas no seu último comunicado.
"Embora a AMA tenha apoiado a aprovação desta legislação, parece desde então que a forma como é interpretada e aplicada, não está de acordo com as disposições do Código Mundial Antidoping", afirmou a AMA, reservando-se o direito de solicitar correções.
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