O canoísta Fernando Pimenta esteve à conversa connosco para fazer um balanço do seu período de confinamento e sobre como encarou o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
O atleta multi-medalhado, agora com 30 anos e já com vaga assegurada para Tóquio2020, continua a treinar, em vários locais perto da zona de residência, apenas com o treinador, a alguma distância, sendo que estar longe dos que gosta é o que mais lhe afeta.
Natural de Ponte de Lima, onde se encontra atualmente, Fernando Pimenta revela que vai treinando um pouco no rio Lima, também na Ponte da Barca, no Gerês ou em casa.
Em tempos de isolamento e de forma a impedir a proliferação da pandemia, Fernando Pimenta vê-se assim, tal como quase todos nós, confinado em casa ao lado da namorada. Ainda assim, o campeão português não prescinde dos treinos em casa e de uma boa alimentação.
SAPO Desporto - Como tens vivido este período de isolamento?
Fernando Pimenta - A parte do distanciamento social é a que custa mais. Estávamos habituados a uma rotina, ainda por cima eu, que gosta de estar com as pessoas. Como estou em Ponte de Lima, na minha terra, não posso comunicar com as pessoas da forma que eu quero, e isso custa-me. Isto afeta-me mais nas questões de relacionamento, de não poder visitar os meus avós, tal como eu gostaria, por exemplo… Antes de isto [pandemia] começar, estive fora do país, então já são quase três meses sem os poder abraçar. A única forma que tenho é conversar à distância. Eles na varanda e eu na rua.
SD - Como tem sido as tuas rotinas de treino?
FP - Manter-me isolado o máximo possível, mantendo as minhas rotinas, os meus treinos, da forma como estava planeado. O ginásio está fechado, mas tenho acesso para lá ir fazer treinos, sozinho, e o resto faço em casa. Como a canoagem é um desporto que permite estar isolado, consigo manter os treinos, assim como as corridas, faço-o sozinho. sempre em locais isolados ou com menos gente. Tudo com mais cuidado.
SD- Mas ainda treinas no rio?
FP - Quando foi decretado o estado de emergência, no decreto de lei, os atletas de alta competição, que estavam em preparação para os Jogos Olímpicos, tinham permissão para continuar a treinar, desde que de forma isolada e sem frequentar espaços fechados.
SD- Como encaraste o adiamento dos Jogos Olímpicos?
FP - Quando soube da notícia, fiquei muito triste, até porque tínhamos já mais de metade do percurso percorrido [referindo-se à preparação]. Faltavam quatro meses para os Jogos Olímpicos e, de repente, passou a ser mais de um ano. Quando vemos todo o esforço que fizemos nestes últimos meses, longe de casa, a abdicar de coisas em prol de um grande resultado nos Jogos Olímpicos, chegamos a este ponto e recebemos a notícia, ficamos desiludidos. Acho que a pior fase foi o anúncio da possibilidade de adiamento dos Jogos Olímpicos. Toda essa incerteza causou uma grande ansiedade e nervosismo. Depois, fomos tomando consciência das coisas e soubemos encarar de forma positiva, porque temos mais um ano para trabalhar e que, felizmente, no nosso caso, podemos treinar. Outras modalidades tem maiores restrições.
SD- Como é o teu dia-a-dia?
FP - Por causa da ansiedade não foi fácil manter os hábitos no início, mas depois comecei a focar-me novamente e a retomar os mesmos horários. Treino de manhã e à tarde. No ginásio procuro manter o ritmo de três vezes por semana e o resto do trabalho é no rio, para onde vou diariamente.
SD- E nos tempos livres, o que fazes?
FP - Estar em casa, ver séries e filmes. Estive a ver a mais recente (4.ª) temporada da La Casa de Papel e agora também estou a ver a Peaky Blinders.
SD- Tem sido fácil manter a linha ou tens cedido à tentação da entrega de comida ao domicílio?
FP - Não temos Uber Eats em Ponte de Lima (risos), mas temos muitas pizzarias que fazem entregas em casa. Mas não, tenho mantido a mesma alimentação. Há duas semanas eu e a minha namorada fizemos um piza em casa. Tentamos fazer o mais caseiro possível. No outro dia compramos comida take away, mas não é algo que façamos habitualmente, só quando nos sentimos mais cansados.
SD- A nível psicológico, achas que este período pode afetar o rendimento de um atleta de alta competição?
FP - Claro que afeta sempre em termos psicológicos, mas temos de ter consciência de que ainda há tempo para recuperar mentalmente. Ainda falta mais de um ano para os Jogos Olímpicos e precisamos de reerguer-nos moralmente. Precisamos é de voltar o quanto antes, retomar a rotina normal e competir para sentir a adrenalina.
SD- Na tua opinião, as competições desportivas devem ser retomadas este ano?
FP - Eu espero competir este ano, precisamos de ritmo competitivo. Há atletas que têm compromissos e objetivos com os seus patrocinadores e que até já sentiram um grande corte orçamental. E acho que os portugueses também precisam de boas notícias, precisam de ver um bom espectáculo desportivo, nem que seja na televisão. É importante, de certa forma, haver competição, seguindo, claro, as diretrizes da Direção Geral de Saúde: manter o distanciamento social e as regras de higiene.
SD- Achas que mundo vai ser diferente quando tudo isto passar?
FP - Sim, acho que vai ser diferente para melhor. As pessoas tomaram consciência de que um simples vírus pode mudar muita coisa. As pessoas estão a reagir muito bem. Espero que não se desleixem agora, precisamos de erradicar completamente o vírus no mundo.
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