Em entrevista à Lusa, Avelino Coelho, presidente do Partido Socialista Timorense (PST), explicou que o partido defende igualmente maior descentralização, uma recuperação das 'knuas', as bases tradicionais da organização do país e melhorias na educação, inclusive na promoção e fortalecimento do ensino do português.

"Esta pátria não foi libertada por um unicórnio, foi uma luta popular. Mas depois da independência discriminámos a sociedade, criámos uma sociedade de privilegiados e outra de não", referiu, criticando a legislação "muito discriminatória" de atribuir um estatuto especial aos combatentes da libertação.

"Como é que alguém tem 24 anos de luta? Tínhamos três frentes. Mas ninguém guerreava 24 horas, ou todos os dias. Quem o fazia todos os dias, sim, eram os camponeses, os agricultores. Esses sim lutaram 24 anos, produziam, alimentavam a guerrilha, protegiam tudo. Mas o estatuto dos combatentes não lhes atribui nem o direto nem o reconhecimento", vincou.

Por isso, e porque "ninguém lutou sozinho", o Estado timorense não deveria reconhecer uns e não reconhecer os outros, especialmente porque os apelidados de "veteranos" dizem: "nós é que somos donos da independência", acrescentou.

"Esta mentalidade, a querer dizer que o Estado é deles. É como o Estado cubano que é propriedade do partido comunista. Como se pode dizer que o estado é propriedade dos veteranos? Este estado é propriedade de todo um povo", sublinhou.

"Atribuir estas categorias criou discriminação. Para entrar nas universidades os filhos dos veteranos têm mais acesso do que os filhos de camponeses. Têm mais acesso a projetos. E isto é correto, num Estado de direito democrático? Temos de acabar com os privilégios dos veteranos", enfatizou.

Avelino Coelho criticou ainda a perda do que foi a luta contra as classes sociais, do passado, afirmando que em 1975 se dizia que se "apontava o dedo a um amigo" a dizer que os portugueses "eram todos colonialistas e fascistas".

"Mas depois da independência a nossa agricultura está totalmente paralisada. E agora a culpa é de quem? O colonialista já não há, quem é agora o neocolonialista ou neofascista, que paralisou uma agricultura de todo um povo", questionou.

Aspeto, disse, que torna incompreensível que o Governo tenha aprovado mil milhões para os veteranos, ou apoio para as artes marciais "para mobilizar votos", mas não mil milhões para a agricultura, o trabalho, a educação, desperdiçando a maior riqueza do país, o seu povo.

"E por isso 20 anos depois encontramos fome, crianças na rua a vender fruta, os campos abandonados", vincou.

 Avelino Coelho disse que o PST quer devolver a terra às 'knuas', as estruturas originais de organização comunitária, impedindo o modelo atual em que "o Estado dito democrático é controlado por uma minoria organizada para explorar a maioria", num modelo de "manifestação da irreconciliabilidade dos interesses das classes sociais".

Acusou o Governo de "não saber ou não querer" desenvolver a economia, especialmente a agricultura, e de permitir que os campos ficam esvaziados, com a "exportação de mão-de-obra", para depois, no futuro, taxar as terras dos "velhos que não têm força para produzir" e não as conseguirão pagar e assim "avançar para a expropriação, para nova rapina das terras".

No passado, disse, havia mais produção nacional do que há agora, mas 20 anos depois da independência, "com milhares de milhões gastos, não se produz nada", continuando-se a vincar "as mesmas ideias, os mesmos comportamentos em instituições políticas diferentes".

O líder partidário defendeu a descentralização mais acelerada, a "devolução do poder às comunidades", planeamento estruturado da produção agrícola com indústrias associadas, levando os jovens a voltar às suas terras.

Quer ainda uma aposta séria na língua portuguesa, "com medidas concretas", intercâmbio de professores com a lusofonia, melhor formação dos docentes.

Um conjunto de propostas que o PST vai levar a todo o país, numa votação, considerou, em que os cinco maiores partidos "podem perder alguns lugares", com a população a "votar menos em figuras que exploram a ignorância e a emoção" e a apostar mais em programas concretos de desenvolvimento.

Mostrando-se confiante em eleger deputados, Avelino Coelho deposita confiança na rede de jovens e estudantes, "mais virados para o conhecimento, para uma outra interpretação do mundo", estimando que se houver "três a cinco mil com esta visão, a convencer as famílias", o PST entra no Parlamento.

O dirigente recordou a extensa história do partido, explicando que a sua herança vem de forças da década de 1980 como a Organização da Juventude e dos Estudantes de Timor-Leste (OJETIL), a Liga Estudantil Patriótica (LEP) e a Frente Estudantil Clandestina, que em 1991 se transformaria na Associação Socialista de Timor (AST).

"Em 13 de maio decidimos transformar a AST em PST e assim nasceu o partido", referiu.

Um dos partidos na Assembleia Constituinte - obteve 6.483 votos (1,78%) e elegeu um deputado - o PST registou sempre uma votação reduzida, que se ficou pelos 3.982 votos em 2007 (0,96%), subiu para o melhor resultado de sempre em 2012 (11.379 votos e 2,41%) e caiu novamente para 4.891 votos e 0,86% em 2017.

Nas legislativas antecipadas de 2018 o PST fez parte do Movimento Social Democrata (MSD), uma coligação de quatro forças políticas, que foi a candidatura menos votada, com apenas 3.187 votos (0,51%).

 

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