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Já são 18 mudanças de treinadores na Primeira Liga portuguesa. Costumamos falar da roda dos treinadores, mas ela só parece estar a aumentar uma vez que os despedimentos e novas contratações são cada vez mais comuns. Apenas Casa Pia, Santa Clara, Estoril e Nacional conseguiram manter os seus treinadores até ao momento. Os três "grandes" não são exceção e todos eles já despediram treinadores ao longo desta época. Todos com especificidades diferentes.
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O Benfica veio de um período de imenso desgaste com Roger Schmidt após uma época sem conquistar títulos (exceção da Supertaça). O treinador alemão, apesar de ser campeão, gerava grande controvérsia dentro da massa adepta, sendo que o grande foco de críticas pairava sobre a sua falta de adaptação aos adversários, para além da falta de adaptação aos novos jogadores (Di Maria como exemplo claro) e comunicação. Bruno Lage trouxe consigo a "mística" benfiquista, alterou o sistema tático para 4-3-3, colocando Aursnes no lado de Di Maria para proteger as suas debilidades defensivas e conseguiu a espaços melhorar a qualidade exibicional do Benfica - sempre com um rendimento intermitente.
No campeonato português, Roger Schmidt fez as primeiras 4 jornadas, totalizando 7 pontos, ou seja, uma média de 1,75 pontos por jogo (base de dados curta para avaliar a fundo o seu trabalho). Na época passada (onde não foi campeão) totalizou 80 pontos em 34 jornada, o que equivale a 2,35 pontos por jogo. Já Bruno Lage, desde a sua chegada, totalizou 46 pontos em 19 jornadas, o que equivale a 2,42 pontos por jogo - superior à média de Roger Schmidt ao serviço do Benfica na temporada passada.
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Já o Sporting vem de uma exigência diferente em consequência das palavras de Ruben Amorim na temporada passada referentes a uma conquista do bicampeonato. O mesmo treinador que deixou o comando técnico leonino para ingressar no Manchester United. João Pereira substituiu o seu antigo treinador, existindo uma queda no rendimento da equipa e na pontuação. Queda evidente porque Rúben Amorim conseguiu 11 vitórias em 11 jornadas, totalizando 33 pontos, isto é, 3 pontos por jogo. João Pereira apenas esteve 4 jogos do campeonato no comando técnico, sendo que fez apenas 4 pontos em 4 jogos, ou seja, em média 1 ponto por jogo.
Números que assustaram a estrutura leonina que rapidamente o substituiu no comando técnico por Rui Borges, uma das grandes surpresas do futebol português após a fantástica caminha na UEFA Conference League ao serviço do Vitória SC. Pelo Sporting, somou 16 pontos em 8 jornadas, ou seja, uma média de 2 pontos por jornada, o que é consideravelmente pouco para uma equipa que luta para ser campeã nacional.
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Também o FC Porto, a par dos seus rivais, decidiu alterar o seu treinador. Vítor Bruno foi a primeira escolha de André Vilas Boas enquanto novo presidente do FC Porto, evidentemente uma escolha influenciada pelo baixo salário do treinador português, consequência de uma crise financeira no clube. Com uma pequena remodelação do plantel, a equipa de Vítor Bruno nunca apresentou bom rendimento, tendo imensas dificuldades para conseguir ter um jogo fluído em último terço. Nas 18 jornadas disputadas, conquistou 40 pontos, isto é, em média 2,22 pontos por jogo.
Já o seu substituto Anselmi também está longe de praticar o melhor futebol, com constantes erros em primeira fase de construção, partindo a equipa, criando espaço para ataques rápidos adversários. Nas 4 jornadas disputadas, o treinador argentino conseguiu apenas 6 pontos, em média 1,5 pontos por jogo. São apenas 4 jogos e uma média que muito dificilmente não será melhorada, mas João Pereira foi despedido ao final de 4 jornadas...
Se olharmos para os números verificamos que Bruno Lage foi o único treinador dos 3 "grandes" que trouxe uma melhoria a nível pontual. Se olharmos a nível exibicional, nenhum dos três treinadores oferece garantias a nível exibicional, muito longe disso. No meio de tantos despedimentos, de tanta falta de gestão por parte dos clubes da primeira liga, fico surpreso que essa ainda exista no mais alto patamar. Sporting despediu o "substituto de Rúben Amorim", o "treinador que em pouco tempo iria estar num tubarão europeu", em apenas 4 jornadas de campeonato. Escolher um treinador sem nível de treinador adequado à realidade geralmente significa que o mesmo tem pouca experiência nas suas funções ou em determinado patamar. Isso não significa que o treinador não tem qualidade, mas tão pouco significa que tem. Rúben Amorim é a exceção, não uma regra. O FC Porto despediu um treinador que estava na casa há 7 anos (quase sempre com adjunto) para colocar um argentino que, até ao momento, muito pouco futebol demonstrou, apresentando evidentes dificuldades individuais para o modelo de jogo idealizado. Já o Benfica contratou um treinador que haveria despedido há pouco tempo atrás. No final, um treinador será bem sucedido porque ganhará o campeonato, mas este é talvez o ano mais paupérrimo a nível futebolístico da última década em Portugal. Os treinadores são sempre os principais responsáveis, mas as gestões destes clubes está longe de ser a melhor.
O Estoril não despediu Ian Cathro depois de péssimos resultados desportivos e agora está perto de ocupar zonas europeias. O Casa Pia deu tempo ao seu treinador e também está perto dessa zona. O treinador do Santa Clara, Vasco Matos, abdicou de treinar o Botafogo para continuar nos Açores. O Nacional não abdica de Tiago Margarido apesar de apresentar rendimento inconstante, mas positivo para os objetivos do clube. Não seria estranho que algum destes treinadores fosse despedido daqui a pouco tempo, mas a verdade é que aqueles que mantêm os seus treinadores são aqueles que estão a ter melhor rendimento desportivo face às suas realidades e expetativas.
Existem dois tipos de treinadores: os que são despedidos e os que estão prestes a ser. Só não contava que neste altura do campeonato já quase todas as equipas tivessem despedido os seus. A gestão de um clube falha quando não cumpre os seus objetivos ou quando despede um treinador. O despedimento de um treinador significa que a escolha do líder para aquela época desportiva não foi um sucesso. E quando se escolhe o mesmo treinador após o mesmo já ter sido despedido há poucas épocas atrás nesse mesmo clube? Bruno Lage não é caso único, observem César Peixoto ao serviço do Moreirense, por exemplo.
Chegamos a números assustadores de despedimentos, de trocas de equipas técnicas e parece que qualquer treinador pode chegar com alguma facilidade à Primeira Liga. Há treinadores que chegam à Primeira Liga sem sequer ter apresentado resultados na Segunda Liga... A "roda" está a aumentar e começar uma época desportiva sem clube não parece ser um problema para os treinadores uma vez que basta esperar algum tempo para algum dos seus colegas ser despedido e assumir o seu lugar.
Ser treinador é cada menos pensar no longo prazo, quando apenas o curto prazo te mantém no cargo. O problema é que quando pensas no curto prazo, o resultado ganha mais importância do que a forma de jogar e, consequentemente, gera mais insucesso do que sucesso.
Os treinadores são despedidos, as direções mantêm-se.
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