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A opinião de Pedro Gomes sobre o dérbi lisboeta que terminou com a vitória dos encarnados por 1-3 sobre os Leões.
Este jogo foi um filme de vários episódios. Os realizadores escrevem o guião, escolhem o elenco de forma a que os interpretes façam o seu papel. Antes da filmagem, os técnicos anunciam convictos que o filme que premeditam vai ser bom, ou até excelente.
Mas uma coisa é o argumento, outra é o guião, outra são as alterações do realizador, e ainda a interpretação dos autores. A temática desta película aborda vários contextos do futebol. Capacidade mental, condição física, técnica e tática.
Jesus, mentalmente, anteviu que a sua equipa iria repetir o que fez em Barcelona, mas o Sporting, mesmo este Sporting, não são os meninos da equipa B dos catalães. Na realidade, talvez pensasse que «cuidados e caldos de galinha não fazem mal a ninguém». Por isso, na primeira metade, o Benfica entrou expectante, sem o ritmo dos anteriores jogos, e o futebol das águias voou baixinho.
Vercauteren disse que o jogo começa zero a zero e que a equipa tem condições de ganhar ao Benfica. Referindo-se à questão da recuperação física, disse que em nada ia influenciar. Contudo, a realidade foi diferente, pois os quatro jogadores que jogaram de início contra o Videoton, Boulahrouz, Insúa, Rinaudo e Capel indiciaram fadiga a partir de uma hora de jogo.
Na primeira parte houve imenso nervosismo em ambas as equipas, dada a importância e a necessidade de uma vitória. O Sporting optou por uma aglomeração defensiva sempre que não estava na posse de bola e saía rapidamente para o contra ataque. Este período foi alternado, com vários pontapés para a frente por parte dos defensores. Contei 16. E Com momentos de bom futebol, nos quais o Sporting marcou, após excelente combinação entre Capel e Wolfswinkel. O Benfica podia ter marcado nos remates de Cardoso e de Lima.
Quanto à condição física, o Sporting na segunda parte não aguentou o ritmo que imprimiu na etapa inicial. Para além dos quatro jogadores já referenciados, também Carrilho, Elias, Eric, Pranjic e Wolfswinkel demonstraram quebra física.
O mau planeamento do pré época do Sporting e a tardia retificação refletem-se na condição física e até anímica, porque os jogadores, mesmo que queiram, muitas vezes não podem. Neste aspeto o Benfica está melhor, embora Sálvio, Ola John, Maxi Pereira, e Malgarejo não tenham demonstrado o fulgor habitual.
Falar de técnica de jogadores profissionais de alto gabarito como são os intérpretes deste clássico há pouco a criticar. Mesmo que o falhanço de Elias, quando isolado perante Artur, o merecesse. Assim como a má abordagem de Garay no lance do golo do Sporting. O mesmo se pode dizer de Rojo no primeiro golo de Cardoso e da inoperância de Eric nos desarmes, pois, em vez de pressionar o adversário, recuava.
Na primeira parte. o Sporting foi superior no meio campo porque tinha três elementos nesse setor, mas não aproveitou por falta de mudanças de velocidade. Os três médios atuavam em velocidade cruzeiro. A ausência de um jogador com ideias no meio campo do Sporting também é uma falha técnica.
O Benfica ficou fragilizado no corredor do meio quando Matic, na fase inicial da evolução atacante, recuou para central. Só André Gomes ficou na zona média. Embora Lima, um pouco mais adiantado, se prontifique como recetor. Sabe-se que as saídas do Benfica para o ataque fazem-se maioritariamente pelos corredores laterais. Mas Capel e Carrilho neutralizaram os defesas flanqueadores. O Benfica teve dificuldade de organizar o jogo. Daí o futebol direto.
O primeiro quarto de hora da segunda parte foi um período deslumbrante no qual, em simultâneo, as equipas praticaram futebol de alto nível. Momentos de equilíbrio e de resposta. Lima esteve perto marcar. De seguida Elias poderia ter arrumado o jogo. E Cardoso forçou Rojo a empatar!
A partir deste momento a reação mental das equipas foi antagónica. Enquanto o Benfica respirou de alívio e empolgou-se, o Sporting, perdido face ao cansaço físico e psíquico, foi massacrado pelo Benfica, e na última meia hora só teve o remate de Ínsua ao poste. Enquanto o Benfica marcou mais um par de golos e teve oportunidades para marcar pelo menos mais dois.
A diferença de estilo dos realizadores é enorme. Os filmes de Jesus são muito superiores aos de Vercauteren, têm como base a qualidade, o prazer e a alegria que empolga os espectadores. Está sempre nomeado para os óscares, mas ultimamente tem sido superado. Este ano está de novo nomeado. Mas como todos os cineastas também já realizou filmes que deram imenso prejuízo. Como o caso recente do fracasso da Liga dos Campeões.
Ontem, Jesus estava receoso das ausências de Luisão e de Enzo. Mas afinal, André Gomes e Jardel foram, logo a seguir a Cardozo, os melhores do Benfica. Só surpreende porque é que o miúdo não é titular, pois representa melhor que Enzo! Aliás o Benfica tem jovens talentos de grande valor que colmatam e superam os titulares, e as vendas rentáveis. Já ninguém recorda Javi ou Witsel.
Vercauteren veio substituir realizadores que falharam. Contudo, o estúdio leonino continua a fazer filmes cinzentos, tipo Fassbinger. Os atores até são bons, mas porque não escreve e explica bem o guião? Ou porque não prepara bem os artistas? Ou porque não tira o máximo rendimento dos intérpretes? Ou porque escolhe mal o elenco? Ontem voltou a errar com as opções. Eric é central, o miúdo não pode jogar a lateral, porque é lento. Ontem não fez um desarme, nem avançou uma só vez pelo corredor lateral. Prajnic é outro elemento fora do contexto. Não organiza, nem defende. O cenário está cada vez mais negro!
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