Depois do espetacular quinto lugar do Gil Vicente na última temporada, a nova edição do campeonato português também tem candidatos a poder surpreender, quer pelo nível futebolístico já exibido em parte da última temporada, quer pela construção promissora do plantel para a presente época. Por aqui, há algumas apostas quanto às turmas que podem vir a deixar um melhor sabor de boca e quem sabe até alcançar um lugar europeu.
Santa Clara
Depois do brilharete de há duas temporadas, com apuramento europeu garantido, os açorianos partem com boas expectativas, até porque na última campanha voltaram a somar um desempenho bem interessante (7.o lugar). 2021/22 foi uma época confusa, até porque passaram três treinadores pelo banco do conjunto de São Miguel (Daniel Ramos começou a época, sendo substituído por Nuno Campos, que veio a ser sucedido pelo atual técnico, Mário Silva).
A ponta final, com apenas uma derrota nos últimos seis encontros, deixou sinais de ânimo para o que aí vem, provavelmente entre o 4-2-3-1 e o 4-4-2 que foram sendo regulamente utilizados pelo antigo treinador dos sub-19 do FC Porto. No defeso, registaram-se saídas importantes como as dos médios Morita, Lincoln e Nené, além do defesa-central Mikel Villanueva.
Quanto a reforços, destaque para o recrutamento junto dos grandes do futebol brasileiro de jogadores como os médios Victor Bobsin e Rildo (ex-Grêmio), os empréstimos de duas revelações da última Copinha ao serviço do Palmeiras como Pedro Bicalho e Gabriel Silva (este último de características mais ofensivas, com mobilidade, técnica e sentido de baliza) ou ainda a chegada de promessas como o defesa Paulo Eduardo e o consistente médio Adriano do Cruzeiro de Belo Horizonte, a título definitivo.
Além do contingente “canarinho”, destaque também para o ingresso de revelações dos escalões secundários portugueses (Tomás Domingos, ex-Mafra e Martim Maia, ex-Amora) e a manutenção de talentos ofensivos como Tagawa, Allano ou Ricardinho. Há potencial para um campeonato na primeira metade da tabela e quem sabe a almejar a lugares europeus…
Marítimo
Desde a chegada de Vasco Seabra em novembro do ano passado, o emblema madeirense reergueu-se e fechou a temporada no 10º lugar (a dois pontos do sétimo). A pré-temporada foi interessante, quase que a contrastar com um final de época 2021/22 mais atribulado (apenas uma vitória em nove encontros, o que poderá ter hipotecado chances de discutir o acesso à Conference League).
Ainda assim, a aposta neste Marítimo como possível surpresa vai mais no sentido das boas intenções reveladas em vários encontros pela turma de Vasco Seabra, sobretudo com bola. O reforço do plantel foi efetuado de forma cirúrgica e com vistas amplas, procurando promover o recrutamento de jovens promessas e apenas um jogador de maior experiência (João Afonso, ex-Gil Vicente). O criterioso Rafael Brito chega cedido pelo Benfica para se impor no meio-campo e também para a zona intermediária aparece Lucho Vega, jogador com boa técnica e chegada a zona de remate (destacou-se na Liga Revelação pelo Estoril).
Para a baliza, o checo Matous Trmal chega emprestado do Vitória SC para poder assumir a titularidade e no ataque passam a morar duas caras novas (a “promessa estagnada” Pablo Moreno, ex Juventus e Man. City e o atacante venezuelano Jesús Ramírez, emprestado pelos mexicanos do Morelia). Veremos se estes reforços compensam as partidas de craques como Guitane ou Alipour, numa altura em que ainda se suspira por um eventual regresso de Rodrigo Pinho à Pérola do Atlântico - o que elevaria a competitividade do Marítimo na luta pelo quinto lugar.
Casa Pia
É verdade que o histórico emblema lisboeta volta ao escalão principal 83 anos depois, mas a forma como tem contratado no mercado, aliada à prestação na 2ª Liga na temporada passada, geram boas expectativas para a época casapiana - um pouco à imagem do que aconteceu no último ano com o Estoril.
Filipe Martins mantém-se como timoneiro e o 3-4-2-1 que mostrou solidez e fiabilidade em 2021/22 promete ter margem para competir noutro patamar, mais elevado. Jota Silva foi a única figura de proa a sair, mas entraram talentos com golo como Kunimoto (ex-Jeonbuk Motors) ou Diogo Pinto (revelação do Estrela da Amadora) para assumirem o relevo.
A experiência competitiva de reforços como Fernando Varela, João Nunes, Yan Eteki ou Rafael Martins será com toda a certeza uma mais-valia e o central goleador Léo Bolgado (ex-Leixões) e o lateral-direito venezuelano Eduardo Ferreira (destaque pelo Caracas, até na Libertadores) prometem ser duas das revelações do campeonato que se vai iniciar. Valor individual não falta e mantendo-se a base há margem para o Casa Pia continuar a espalhar um futebol vertical e dinâmico pelos relvados da I Liga.
Boavista
A evolução registada em termos exibicionais com Petit em 2021/22 não se traduziu numa classificação soberba (12º lugar apenas). O desafio para a nova época passa por juntar maior eficácia nas duas áreas a um modelo de jogo versátil e que tanto pode privilegiar um bloco compacto a defender com saídas rápidas para o ataque como construções mais elaboradas a partir de zonas recuadas.
A saída de unidades como Porozo ou Musa pode fazer-se sentir, ainda que o ataque ao mercado tenha sido cirúrgico: chegou um novo guardião (César, ex-Bahia), dois centrais (o experiente Sasso e Robson Reis), os criativos Bruno Lourenço e Masaki Watai (mais um jovem japonês de chegada a Portugal) e os atacantes Salvador Agra (para as alas) e Robert Bozenik (astuto nas desmarcações e com sentido de baliza).
O retorno de Ricardo Mangas, associado à manutenção de jogadores como Seba Pérez, Makouta, Abascal ou Yusupha Njie, também pode contribuir para um Boavista capaz de lutar pela primeira metade da tabela e, quem sabe, a ser capaz de sonhar mais alto na presente época.
Rio Ave
A base da campanha da subida permanece quase inalterada, o que pode ajudar um treinador perspicaz e com uma ideia de jogo atrativa como Luís Freire a proporcionar uma época de bom nível em Vila do Conde. Ao previsível trio de ataque com Joca, Yakubu Aziz e Zé Manuel (19 golos apontados na 2ª Liga 21/22, entre os três), veio juntar-se um atacante com nível técnico interessante e capacidade para rematar à baliza como Paulo Vítor (ex-Valladolid B).
Atrás, saiu Hugo Gomes, mas entrou um defesa com andamento de I Liga como Patrick William. A época transata dos vilacondenses teve alguns altos e baixos, mas no final das contas o objetivo prioritário foi atingido com distinção. Espera-se mais um ano de equilíbrio defensivo, argumentos em ataque organizado e de estabilidade nos jogos nos Arcos. Se assim for, podemos ter surpresa na luta pelos lugares europeus…
Comentários