Londres, 30 de setembro de 2025. Noite fresca, ideal para um bom chá inglês, uns biscoitos, e talvez um pontinho honroso para o Benfica, pensavam os benfiquistas.

O Benfica de José Mourinho entrou em Stamford Bridge com a confiança de quem vai visitar a sogra e promete a si mesmo “vai ser rápido, são só 10 minutinhos”, mas sai de lá três horas depois, cansado e com má cara.

Do outro lado, o Chelsea, essa equipa que tem um plantel maior do que o ego do Numeiro, mas que ainda assim quase conseguia ter mais jogadores indisponível do que aptos para este jogo.

O incrível é que mesmo com um plantel tão grande e vasto o Chelsea ontem nem precisou que nenhum deles marcasse para ganhar, levar os três pontos e mais uns milhões para a conta que se si já é pequena.

Era suposto ser uma noite épica o regresso de José Mourinho a Stamford Bridge. A verdade é que quando o "Special One" está lá, o Chelsea é feliz. Mourinho o homem que deu títulos, frases míticas e provavelmente 60% das rugas a Roman Abramovich, as restantes foram a ex-mulher a levar metade da fortuna, também, quem não faria o mesmo?

O estádio até o recebeu com aplausos nostálgicos, porque os ingleses respeitam a memória. No entanto a vida tem humor negro, Mourinho voltou, mas não saiu a sorrir. É como voltar à escola secundária para dar uma palestra inspiradora e escorregar nas escadas logo à entrada.

Num jogo repartido mas com maior ascendente para os londrinos, chega ao minuto 18 o momento que decide a partida.

Richard Ríos, o craque que veio das américas latinas a mostrar o porquê de ser um dos grandes nomes do futebol europeu. Bola cruzada tensa para a área e o colombiano, sem hesitar, frente a frente com o redes fuzila as redes da baliza. Foi na própria, tudo bem, o que interessa, mas é um golo de matador ao alcance dos puros génios e predestinados do futebol e quiçá do estrabismo.

Talvez tenha sido um tributo aos tempos em que jogava futsal, talvez um "bug" da vida real ou a resposta pura e dura a quem dizia que para o que tinha custado tinha pouco golo nos pés.
Agora mais a sério, Ríos, coitado, só queria desaparecer. Se houvesse naquele momento uma escavadora disponível no relvado sem ser o Barrenechea, ele tinha cavado ali um buraco tipo túnel do Metro de Lisboa para não ver mais ninguém.

Depois do autogolo, o Benfica até tentou e tentou muito. Meteu pressão, empurrou, fez cruzamentos, remates, tabelinhas, passes bonitos que acabavam invariavelmente… nos pés errados. Aursnes corria, Sudakov tentava as suas fintas vintage, mas a verdade é que o Chelsea estava lá só para segurar e a jogar de faca nos dentes.

O Chelsea de hoje é tipo aquele aluno que não estuda nada, mas passa nos testes porque o professor se cansa e lhe dá 10 à justa. Jogaram para o 1–0 e pronto. Para quê mais? É a Liga dos Campeões, mas ninguém disse que tinha de ser divertido e neste fim de semana há jogo para a Liga Inglesa que por vezes é bem mais complicada do que uma jornada de "Champions".

Nos últimos minutos, João Pedro decidiu que o jogo estava muito aborrecido e tratou de ver cartão vermelho. Tentou matar uma mosca com os pitons na testa do Leandro Barreiro e o árbitro não achou a técnica muito adequada para o momento.

Com esta derrota, o Benfica mantém a consistência na Liga dos Campeões, soma zero pontos em dois jogos. Está no fundo da tabela, acompanhado pela depressão dos adeptos, pelas piadas dos rivais e por alguns clubes com nomes difíceis de pronunciar. Enquanto isso, o Chelsea já respira melhor, finalmente com uma vitória na prova, ainda que tenha sido oferecida.

No balneário encarnado, fala-se que Mourinho prometeu aos jogadores uma palestra motivacional, 4 horas seguidas de histórias de 2003, 2004 e 2010 Alguns já estão a fingir lesões para não ter de assistir.

Apesar da tragédia em Londres, os benfiquistas têm motivos para acreditar:

- Primeiro, porque pior que perder com um autogolo… só perder por dois.

- Segundo, porque José Mourinho ainda sabe dar aquelas conferências em que transforma derrotas em vitórias morais.

O futebol, meus amigos, é isto, muito drama, azar, comédia involuntária e por vezes divina. José Mourinho voltou a Stamford Bridge para ser protagonista, mas o guião decidiu que a estrela da noite seria o azar de Richard Ríos.

O Chelsea agradeceu a oferta, ficou com os 3 pontos em casa e agora vai fingir que está numa campanha épica para conquistar a Champions. O Benfica volta a Lisboa de cabeça baixa, mas já a pensar no próximo jogo que será no Porto com o atual líder da prova.

Nós, pobres mortais, ficamos com aquilo que mais interessa, as piadas, os memes e a certeza de que o futebol sem personagens não tem graça nenhuma.