No futebol de hoje, os negócios e os interesses económicos enfraquecem o poder decisório dos treinadores. As contratações são feitas através de empresários, que auferem e distribuem percentagens. O treinador contemporâneo sujeita-se a trabalhar com o plantel que lhe entregam.

Este desporto ainda, e bem, mantém as exacerbadas paixões dos adeptos. O futebol é o presente, ninguém perdoa os maus resultados e as menores exibições. Os treinadores ficam sujeitos a pressões sociais e patronais. A impaciência não sabe esperar e leva muitas das vezes à destituição dos técnicos.

A exigência a que os treinadores estão sujeitos deve ser um desafio estimulante, para todos. Contudo, infelizmente o futebol é a modalidade desportiva que menos evoluiu, estagnou. Tenho dito e mantenho que o futebol é um jogo imitado por todos os técnicos mundiais. Exceção: Guardiola.

O futebol do presente é a continuidade do futebol do passado (anos 80). Os modelos são sempre os mesmos. Até podem ser, mas deveriam ser diferentes no planeamento, nos princípios de jogo, na organização defensiva e ofensiva. Mas não, é tudo igual, é o que sai.

Além desta desorganizada estrutura podemos falar de outros exemplos. Um treinador sul-americano criou “o cabeça de área” (o trinco europeu), e logo todos os outros copiaram e começaram a jogar com um ou dois “cabeças de área”. Para além desta cópia, existem os lances no seguimento de bolas paradas.

Estas situações são fundamentais pelo aproveitamento, 50%, ou mais dos golos marcados nestes lances. Porém, isto acontece em situações tradicionais e repetitivas. Se os treinadores fossem mais criativos, inventavam jogadas inéditas,  surpreenderiam os opositores.

Se resultam tantos golos nestes livres há que trabalhar posicionamentos e abordagens para os evitar. Mas a maioria dos treinadores diz, temos de trabalhar mais estas situações e temos de ter mais concentração.

Os livres quando existe um bom executante a prioridade é o remate direto, mas pode-se surpreender com uma jogada combinada e inesperada para marcar. Livres ensaiados e inovadores por onde andam? Os poucos que vimos no nosso futebol são os revivalistas (“livre à Camacho”) ou outros que se faziam antigamente, ou os copiados de vídeos de outros campeonatos.

Outros exemplos são os longos lançamentos laterais. Este lance apareceu e todos os clubes os imitam. Também o livre nas laterais, marcado para a área pequena, veio para ficar e todo o mundo futebolístico o repete. É óbvio, que por vezes até resulta. Mas porque é que não se criam alternativas de surpresa, para os anular ou para os tornar mais eficazes?

Conheço um treinador que já em 1977 criou a forma de anular esses livres para a área. Nessa altura, tinha elaborado mais de uma dezena de lances inéditos, de bola parada. Para além disso, criou várias saídas atacantes de forma sincronizada e uma segura recuperação defensiva.

Na última vez que falamos ele explicou-me que um treinador deve ser um investigador, um visionário, um pensador, um fabricante e um concretizador de ideias. Fiquei a saber que neste momento criou e tem à volta de 30 lances de bola parada. E disse-me «há sempre um futebol a inventar, para destabilizar os adversários, introduzindo parâmetros suplementares de surpresa, para neutralizar os sistemas defensivos!».

Como treinador vou seguir como sempre os seus recados. E espero que os treinadores reflitam neste conselho, pensem e criem futebol, valorizem-se. Mais conhecimento, garante maior imunidade ao despedimento!