A profissão de treinador de futebol é uma profissão dependente dos resultados obtidos pela equipa que orienta. As equipas, consoante os seus valores financeiros e o dos seus jogadores, traçam os respetivos objetivos.
Esta época, alguns clubes ficaram aquém do esperado e outros superaram os seus propósitos ao alcançarem novos horizontes. As grandes deceções foram: o Sporting, o qual alcançou a pior classificação da sua história. Tal como o Sporting de Braga que claudicou ao perder o habitual lugar entre os três primeiros, embora tenha vencido um troféu, o que não acontecia há dezenas de anos. Nestes casos de insucesso, os “bodes expiatórios” são os treinadores.
Porém, foram vários os que ultrapassaram as expetativas. Realce para o Paços de Ferreira, que meritoriamente conquistou o direito ao play-off na Liga dos Campeões. O histórico Estoril que vai estar na Liga Europa e o Vitória de Guimarães que conquistou brilhantemente a Taça de Portugal.
Portanto, é natural que o reflexo destes factos esteja na origem do trabalho realizado pelos técnicos que orientaram estas equipas. Em futebol é o momento que conta e por isso não admira que a direção do Benfica, face aos resultados, hesite na continuidade de Jorge Jesus. E que simultaneamente tenha em mente contratar um dos treinadores que nesta época mais se destacaram: Paulo Fonseca, Marco Silva e Rui Vitória.
No futebol o sucesso é efémero e difícil de manter. A distância entre o êxito e o fracasso está na derrota, no empate ou na vitória, na sorte e no azar, na arbitragem que involuntariamente (?) erra a favor ou contra, e de outros imprevisíveis e incontroláveis acontecimentos onde a emoção supera a razão.
Contudo o saber e a competência dos treinadores, mantém-se e até aumenta se refletirem o porquê das coisas não correrem bem. Alguém tem dúvidas do valor de José Mourinho, o qual é para muitos o melhor treinador do Mundo. Mas apesar de ser o mais conceituado, neste ano futebolístico não venceu nada ao serviço do colosso, Real Madrid. Mas vai deixar de ser o Mourinho? Penso que não!
E mesmo o actual campeão da Europa, Josef 'Jupp' Heynckes, na época passada ficou em branco. Este ano, por seu lado, conquistou o campeonato, a Liga dos Campeões e vai disputar a Taça com o Estugarda, 12º na Bundesliga. Se tivesse sido corrido pela ausência de resultados nunca teria brilhado este ano.
Há um mês a esta parte, Jesus era elogiado e idolatrado pela maioria da comunicação social, a qual o rotulava de génio ou mestre. Será que em vinte dias perdeu competência, saber e qualidade? Não. Pois se não tivesse perdido o campeonato nos descontos, nem a final da Liga Europa no tempo extra, talvez não perdesse a Taça de Portugal e continuava por mais dois anos no Benfica! Aliás, taticamente, considero-o um dos dois melhores treinadores portugueses.
Vítor Pereira, outra vítima dos media, era e foi criticado impiedosamente. Já na época passada se dizia, após ser eliminado da Taça de Portugal que, Pedro Emanuel seria o seu substituto. Sim, o mesmo Pedro Emanuel que venceu essa Taça em 2011/2012 e que incompreensivelmente acabou esta época por ser substituído na Académica. Será que este jovem desaprendeu? Não. O futebol é que é implacável.
O até aqui treinador dos campeões, caso o Benfica não tivesse empatado com o Estoril e se o Kelvin não tivesse marcado aquele determinante golo, continuava a ser o “incompetente” como a maioria da praça pública lhe chamava. Venceu o campeonato e hoje é catalogado como um grande treinador. E, apesar de tudo, tem o seu valor, pois não é qualquer um, mesmo no Porto, que ganha dois campeonatos consecutivos!
Os treinadores são diferentes e fazem a diferença no domínio das quatro componentes futebolísticas. Mas, no êxito e no fracasso, apesar de diferentes, são todos tão iguais.
Os treinadores estão sujeitos às análises banais que lhes fazem. Na maioria estas são feitas por alguns indivíduos que falam, falam de futebol, mas pouco dizem. A ligeireza com que alguns geram cenários e avaliam circunstancialmente as equipas e os treinadores... Essa leviandade forja opiniões ridículas por serem totalmente antagónicas. Hoje, diz-se bem, e amanhã contradiz-se tudo o que se afirmou.
Em cada adepto de futebol há um treinador. Mas alguns futebólogos teriam e deveriam ser mais conhecedores deste desporto para fazerem uma análise isenta de forma a avaliar os defeitos e as virtudes, sem imprecisões, nem juízes de valor, os quais não estão ao seu alcance. Não fica bem idolatrar um técnico como um “Deus” quando é conveniente dizer bem, para depois o crucificarem e enviá-lo para o inferno na hora do fracasso. E vice-versa.
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