O Benfica vai a votos a 25 de outubro, numas eleições que geram enorme expectativa pela importância que terão no futuro do clube, pelo momento menos bom que as águias têm vivido a nível desportivo nos últimos anos, com apenas um título de campeão conquistado nas últimas seis épocas, e já com cinco candidatos assumidos à presidência do clube da Luz (aos quais se poderá ainda juntar Luís Filipe Vieira).

O Sportinforma esteve à conversa com um dos candidatos, Cristóvão Carvalho, que numa extensa entrevista nos começou por falar sobre a sua paixão pelo Benfica - e como desde muito novo começou a viver o seu benfiquismo (revelando-nos quem foi o seu primeiro ídolo), apesar de só se ter conseguido tornar sócio quando conseguiu pagar, por si, as próprias quotas.

Depois, explicou-nos o que o levou a assumir-se como candidato às eleições que se avizinham, tecendo pelo meio duras críticas à forma como o Benfica tem sido gerido nos últimos tempos, e falou-nos das suas ideias para temas tão importantes como a centralização dos direitos de transmissão, as infraestuturas (com mais críticas a Rui Costa e ao projeto recém-apresentado pelo atual presidente das águias, que apelida de "megalómano"), as modalidades e a formação, deixando uma garantia: com ele, o Benfica será campeão europeu pelo menos uma vez no espaço de uma década.

A ligação ao Benfica: Nasceu benfiquista, mas só se tornou sócio quando teve condições financeiras para o fazer

"A minha ligação ao Benfica é, obviamente, é uma ligação absolutamente umbilical. Nasci benfiquista, apesar de ter nascido em França. Sou filho de imigrantes e vim muito cedo para Portugal, para uma localidade perto de Trancoso, onde vivi com os meus avós durante dez anos. Depois fui para Alcobaça, já com os meus pais, onde estive até sensivelmente aos 20 anos, quando vim para Lisboa fazer a faculdade. Licenciei-me em direito na Universidade de Lusíada", começa por nos explicar, em jeito de apresentação.

"Lembro-me de em criança, naquela aldeia do norte de Portugal, jogar com os meus amigos na rua. E eu era sempre da equipa do Benfica, porque os meus avós eram do Benfica. E o que naquela altura também marcava muito o interior de Portugal, em meados da década de 1970, era a Volta a Portugal. E ver lá o Benfica era uma coisa fantástica. Depois havia os relatos. Eu acompanhava o Benfica pelos relatos. Acho que só vejo o primeiro jogo do Benfica depois dos 10 anos, quando vou para Alcobaça, porque na aldeia onde eu morava não havia luz elétrica e não tínhamos televisão", recorda.

"Jogava na rua com os meus amigos, fazíamos as equipas. Os meus pais ofereceram-me um equipamento do Benfica e era o equipamento do João Alves, o luvas pretas. Não era só a camisola, era tudo: os calções, as meias e as chuteiras. Joguei com aquelas chuteiras até gastar por completo os pitons. E para ser como ele também jogava de luvas. As pessoas que ainda se recordam de mim, passados todos estes anos, porque eu também era o menino das luvas pretas. Foram momentos felizes", lembra.

Cristóvão Carvalho e o seu ídolo, João Alves
Cristóvão Carvalho e o seu ídolo, João Alves Cristóvão Carvalho e o seu ídolo, João Alves

"Depois, quando vou para Lisboa, começo a sentir e a conhecer o Benfica mais por dentro. Só aí vi o meu primeiro jogo no Estádio da Luz, mas a paixão já era profunda. Os meus colegas de faculdade, muitos deles eram também do Benfica e viviam junto ao estádio. E começaram a convidar-me para ir aos jogos. Eu de início não tinha dinheiro para pagar o bilhete, mas é a partir daí que começo a viver e a sentir ainda mais Benfica", prossegue.

"Só me tornei sócio do Benfica quando tive condições financeiras para o fazer, quando comecei a trabalhar"

"Depois, quando começo a trabalhar, desenvolve-se enfim a minha ligação com o sócio ao Benfica. Só me tornei sócio do Benfica quando tive condições financeiras para o fazer, quando comecei a trabalhar. Mas é uma ligação muito forte. E a partir daí interligo-me ao Benfica, participo nas Assembleias Gerais, falando aí e não para fora, porque fora daí eu entendo que se deve defender o clube. Nas Assembleias é onde podemos falar entre sócios.

"E mantenho essa postura em tudo. no que toca a Benfica. Ver os jogos, discutir o Benfica dentro de casa, com as pessoas que são do Benfica, mas não para fora", reforça.

O que o leva a candidatar-se: Um Benfica "a afundar-se" e a desilusão com Rui Costa

Essa ligação crescente ao Benfica e a participação nas Assembleias Gerais e o viver do clube mais por dentro acabaram por levá-lo a participar em tertúlias sobre o clube, discuti-lo com outras figuras proeminentes e, em última instância, depois de no passado ter integrado a lista de Rui Gomes da Silva que nas eleições de 2020, avançar agora ele mesmo com uma candidatura em nome próprio, incentivado por vários apoiantes, face àquilo que apelida de

"Quando estamos por dentro do Benfica, como eu vivi estes últimos anos, temos um conhecimento mais profundo do clube, porque nos interessamos. Interessamo-nos pelas contas do clube e pelos resultados desportivos, não é? Porque é isso que alimenta, de facto, a nossa emoção. Mas temos de olhar para as contas e perceber se existe sustentabilidade. E houve uma altura em que vi o Benfica entrar num caminho que me assusta", salienta.

"Eu e algumas pessoas que estavam e discutem comigo o Benfica, sentimos que no final do mandato do antigo presidente Luís Felipe Vieira as coisas já não estavam a correr bem. O nome do Benfica estava a ser claramente afetado a nível nacional e internacional e os resultados também não correspondiam. E nessa perspectiva nasceu uma vaga de fundo de benfiquistas que sentiam que Vieira não seria a solução para o Benfica. Nessa altura, aceito o convite do Rui Gomes da Silva para o ajudar um bocadinho nesse processo e aí tenho um conhecimento mais profundo de eleições, do sistema, de como é que as coisas funcionam", recorda.

"Depois, parecia que era natural o Rui Costa ser o sucessor, porque todos tínhamos um carinho especial por ele como jogador. Achou-se que poderia como dirigente acrescentar e trazer alguma coisa ao Benfica. Mas chega-se ali ao segundo ano do mandato e percebemos claramente que Rui Costa foi um jogador fantástico, era um menino da casa, mas que não tinha as qualidades necessárias para dirigente e que o clube estava claramente a entrar numa derrapagem financeira perigosíssima e numa ausência de resultados desportivos. Nem naquela parte que nós reconhecíamos ao Rui Costa capacidade e qualidade, que era na parte desportiva, ele estava a funcionar", aponta.

"Começa-se a formar um grupo, com mais pessoas, fomos à procura de um nome para encabeçar este projeto de resgatar o Benfica e para o Benfica ir no sítio certo. Aí surge o meu nome, achavam que eu reunia essas qualidades, como pessoa, como advogado e como consultor internacional. Todos estavam comigo e, a partir daí, as coisas começaram a acontecer, a ganhar volumetria. Eu senti que tenho condições e é o Benfica. O Benfica é inexplicável. Este é o caminho que eu segui e sinto que com a equipa que tenho sei que posso dar a volta ao momento extremamente difícil que o Benfica vive", acrescenta.

Como tem visto os últimos anos do clube e a liderança de Rui Costa: "Um colapso"

A presidência de Rui Costa tem sido então, para Cristóvão Carvalho, uma desilusão, sobretudo os últimos anos do mandato. E são muitas as críticas que deixa ao antigo futebolista.

"O Rui Costa tem - e é importante fazer esta divisão, as duas partes que têm de ser divididas - uma paixão enorme pelo clube e é muito boa pessoa. Isso é inquestionável. E o Rui Costa teve um passado glorioso no futebol e no Benfica. E isso foi o que lhe permitiu convencer as pessoas a que votarem nele nas últimas eleições. Mas se olharmos para o Rui Costa presidente, para o Rui Costa dirigente, para o Rui Costa líder, assertivo e aglutinador, que é tudo o que deve ser um presidente do futebol do Benfica, ele não tem isso. Não consegue sequer agregar pessoas à sua volta", aponta.

"Ganhámos duas taças e um campeonato em quatro anos, num clube da dimensão do Benfica. Isso demonstra o colapso da gestão do Rui Costa!"

"Depois, olhamos para as contas do Benfica, e elas têm piorado de ano após ano. Hoje o Benfica está numa situação financeira incomensuravelmente pior. E olhamos para os resultados desportivos e são absolutamente terríveis: ganhámos duas taças e um campeonato em quatro anos, num clube da dimensão do Benfica. Isso demonstra o colapso da gestão do Rui Costa. Foi um colapso", frisa.

"Foi um gastar dinheiro horrível durante quatro anos. O Benfica gastou durante quatro anos mais de um bilião de euros para ganhar um título de campeão nacional. Nas modalidades, foi um horror de dinheiro gasto e tivemos dos piores resultados de sempre. Eu não me lembro de haver aqui uma situação pior, a não ser que recue muitos e muitos anos, a épocas que não quero recordar no Benfica", continua. "E o Benfica é demasiadamente grande para estar assim".

"Quando uma coisa é demasiadamente grande, temos armas para que ela se consiga elevar, se o soubermos fazer. Mas se não soubermos fazer, esse peso e essa dimensão vão parecer com o Titanic, e afunda a uma velocidade louca. Eu não posso permitir que isso aconteça como benfiquista. Não posso permitir e não vou permitir", garante.

"Vou explicar aos sócios como é que eu vou fazer, alicerçado em dois pilares fundamentais: um é o pilar financeiro. Primeiro temos de ter sustentabilidade financeira. O Benfica não pode continuar a ter uma dívida do tamanho que tem, pagar uns juros descontroláveis e depois não capitalizar em resultados desportivos. O Benfica, nos últimos, no mandato de Rui Costa, duplicou a dívida bancária. O Benfica devia 100 milhões de euros, agora deve 200 milhões de euros. Só de dívida bancária, fora a restante dívida. Isto é insustentável", aponta.

"O Benfica está claramente em perigo. Mas eu acho que os sócios estão atentos"

"Estão a ser cometidos demasiados erros, nomeadamente no que toca a receitas, no que toca à estratégia que o Benfica está a usar para os direitos televisivos, na estratégia que o Benfica está a usar para a Champions, na estratégia que o Benfica está a usar para evitar a venda dos melhores jogadores...Já para não falar agora nas últimas contratações, nos últimos projetos e nas últimas coisas que têm sido feitas. É uma loucura. É de quem não conhece as contas. O Benfica está claramente em perigo. Mas eu acho que os sócios estão atentos a isso e vão ouvir as soluções que estão em cima da mesa", refere.

As linhas mestras por que se guiará se vencer

Essa crença de que os sócios estão atentos reforçam a fé que Cristóvão tem numa vitória nas eleições de outubro. E, se ganhar, o que irá fazer?

"Há algumas coisas que devem ser ditas aos sócios com rodeios e sem franquezas e assumindo-as com toda a clareza. Uma delas é o Benfica tem um problema financeiro muito grave. Muitos benfiquistas acham que o Benfica é uma máquina de fazer dinheiro e que está tudo bem. É verdade que o Benfica é uma máquina de fazer dinheiro, mas é uma máquina muito mais forte de gastar dinheiro. Esse é um dos problemas. O Benfica não tem dinheiro para o dia-a-dia. O Benfica tem muito património, muitos ativos, mas não tem dinheiro", reforça.

"O Benfica não consegue gerar liquidez. A cada ano que começa o Benfica tem logo uma dívida para pagar de 100 milhões de euros. Por isso é que vende os jogadores. É obrigado a vender os jogadores. Vende-se porque não há dinheiro na caixa, na tesouraria para pagar ordenados. E quem se candidata a presidente do Benfica se não tiver uma solução financeira sólida, com os parceiros certos, como é que vai resolver esse problema?", questiona.

"Eu defendo o Benfica Europeu. O meu projeto é um projeto a 12 anos e em 12 anos o Benfica tem de ganhar no mínimo uma Champions"

"Depois desse problema estar resolvido, então vai-se resolver o problema desportivo. E aí, qual é o meu projeto? É um projeto que é diferente de todos os outros. Eu defendo o Benfica Europeu. O meu projeto é um projeto a 12 anos e em 12 anos o Benfica tem de ganhar no mínimo uma Champions", salienta. "Este é o objetivo. O meu projeto está preparado, quer a nível de treinador, quer a nível de diretor desportivo, quer a nível de administrador da SAD, montar uma equipa para rapidamente estar preparada para todos os anos estarmos a jogar quartos-finais e meias-finais da Champions".

"A partir daí até à final, vai ser um ano que vamos lá e esse ano temos de ganhar. Temos de acabar definitivamente com aquela maldade que Bela Guttman não nos fez", conclui. "O meu projeto é um projeto europeu. Montar uma equipa europeia. Porque o Benfica em Portugal tem de ser esmagador, face à grandeza do clube. Em Portugal nós temos de ganhar três títulos em cada quatro."

Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica
Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica

"Temos de ambicionar estar ali. E se nós tivermos isto num projeto de 12 anos, é perfeitamente possível. E a cada quatro anos. Os sócios decidem se eu estou a fazer bem ou se eu estou a fazer mal. Qualquer projeto que se venda no Benfica tem de ser um projeto de 12 anos.
Ninguém pensa em projetos a quatro anos. Portanto, muito me estranha que os outros candidatos apresentem projetos a quatro anos. Qualquer dia apresenta um projeto num fim de semana.", aponta.

"Quando eu sair do Benfica vou deixá-lo infinitamente melhor do que ao momento em que eu vou encontrar", garante.

Como olha para as outras candidaturas: elogios ao benfiquismo dos adversários e a importância de haver segunda volta

Sendo assim, como olha Cristóvão Carvalho para os adversários na corrida à presidência do Benfica? E para o possível regresso de Luís Filipe Vieira?

"Um aspeto que tenho de reconhecer que merece elogios na presidência de Rui Costa é a mudança dos estatutos. Temos hoje uns melhores estatutos, que permitem não só valorizar os sócios mais jovens, que é muito importante, como permitem às restantes listas ter acesso a outros recursos e ajudarão a travar aquilo que já está a ser feito pela atual visão de Rui Costa, que é utilizar os meios do Estádio da Luz para fazer campanha eleitoral, o que é absolutamente deplorável. O Benfica tem de ser absolutamente democrático", sublinha.

"E a existência de uma segunda volta é muito importante, porque obviamente vai permitir que muitos benfiquistas possam apresentar um projeto e levá-lo a eleições. Ou seja, eu vejo esta quantidade de candidatos, contrariamente àquilo que dizem, como muito boa, porque mostra a vitalidade do Benfica", elogia.

"Os meus adversários são grandes benfiquistas. Tenho um enorme respeito por todos. Somos todos grandes, grandes benfiquistas e estamos dispostos a entregar ao clube aquilo em que acreditamos no clube. Isso é muito bom. Estas eleições vão ser paradigmáticas. As pessoas, neste momento, sabem que vai haver uma segunda volta. Ou seja, havendo uma segunda volta vai haver alguém que tem mais de 50%, que terá legitimidade. Só seria negativo, agora, se não houvesse segunda volta", explica.

"Até porque, seguramente, os projetos que não ganharem vão ter ideias muito boas e quem for para o Benfica pode aproveitar essas ideias. Eu já disse, se eu não for o vencedor, que eu não acredito que não seja, ainda que esteja a fazer um caminho um bocadinho lateral, o meu projeto é para o Benfica. Entrego-o ao Benfica e o Benfica vai aproveitar aquilo que acharem interessante, como os outros, seguramente, o irão fazer", garante.

Cristóvão Carvalho não vê, ainda assim, possibilidades de se unir a outro candidato antes da primeira volta das eleições.

"Acho difícil haver alguma união de candidaturas porque o meu projeto é muito diferente dos outros. Ou seja, eu tenho um projeto quer o Benfica Europeu, quero o Benfica a ganhar a Champions, quero o Benfica com contas certas. Esse é o meu mindset. Nenhum dos outros projetos tem esta dimensão nem esta ousadia. São Benficas pequenos, são Benficas normais. São Benfica dentro daquilo que temos. Eu não, eu penso o Benfica de futuro é um Benfica enorme", resume.

"Será muito difícil haver aqui uma união, a não ser que haja outros projetos que em determinado momento se queiram juntar ao meu projeto e tragam alguma coisa a acrescentar. Isso no futuro se dirá. Neste momento, não é uma coisa que esteja claramente em cima da mesa", assegura.

"Luís Filipe Vieira, não sendo candidato ainda porque nada disse sobre isso, está claramente a usar o Benfica em seu proveito próprio"

"Sobre o ex-presidente, o Luís Felipe Vieira, eu sou direto e digo o que penso. Aquilo que me parece é que neste momento o Luís Filipe Vieira, não sendo candidato ainda porque nada disse sobre isso, está claramente a usar o Benfica em seu proveito próprio. E isto não é bonito", acusa.

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"O Luís Filipe Vieira não está a fazer bem ao Benfica. O Benfica é uma instituição que merece respeito e credibilidade e isso não está a ser feito pelo seu ex-presidente.  E está a fazer mal ao clube porquê? Porque está a criar instabilidade. Se ele quer ser presidente do Benfica novamente, tem de dizê-lo claramente", sublinha.

"Estamos aqui para falar de Benfica não estamos aqui para achincalhar o nome do Benfica e isso eu não desculpo. Eu acho que ele está a fazer mal ao Benfica e vai ser penalizado pelos sócios por causa disso", termina, não se querendo alongar mais sobre este assunto.

Futuro treinador: a conversa que vai ter com Bruno Lage e o objetivo imediato de interromper o ciclo do rival

Quando for conhecido o resultado das eleições, a temporada 25/26 já estará bem em andamento e o vencedor encontrará, à partida, Bruno Lage ao leme da equipa principal de futebol. Cristóvão Carvalho não tem problemas em afirmar que o técnico não se enquadra propriamente no perfil que deseja, mas lembra que os contratos são para cumprir, pelo que conversará com o treinador e lembra que o objetivo imediato terá sempre de ser a conquista do título.

"A contratação de Bruno Lage e a manutenção de Bruno Lage é responsabilidade única exclusiva do presidente Rui Costa. Ele é que o escolheu viu as características ou alguém o aconselhou e a responsabilidade é dele não é minha. O meu perfil de treinador não é Bruno Lage,  independentemente de nada ter contra a pessoa nem contra o seu currículo ou profissionalismo, até porque nos deu títulos", lembra.

"No entanto, não é a pessoa adequada que eu quero para o meu projeto. O meu projeto tem de ter um treinador que tenha jogado a Champions com regularidade. É esse é o meu perfil de treinador, tal como o do diretor de desportivo. Tem de ser um diretor de desportivo com experiência europeia profunda, internacional, que monte um departamento de scouting capaz, algo que se perdeu nos últimos tempos no Benfica", explica.

"Quando lá chegar, analisarei a situação. Mas o Benfica cumpre os seus contratos, obviamente. Quando eu lá chegar, já encontro as coisas feitas. Vou encontrar um treinador com contrato, jogadores com contrato, equipas técnicas. Vou encontrar tudo feito. Ou seja, são loucos os que dizem que chegam lá e desmontam isso tudo. E eu de louco não tenho nada. Terei uma conversa com Bruno Lage assim que chegar. Ele sabe o que eu penso. Portanto vou ter uma conversa com ele, vamos analisar o momento desportivo do Benfica, mas vou lhe dizer claramente que ele não é o meu perfil de treinador", garante.

"O meu foco na próxima época é só sermos campeões nacionais. Temos de interromper o ciclo do nosso rival. É fundamental"

"Temos de fazer as transições com juízo, com critério e com rigor. É fundamental para o Benfica, na próxima época, ser campeão nacional. E o meu foco na próxima época é só sermos campeões nacionais. Temos de interromper o ciclo do nosso rival. É fundamental. O meu foco na primeira época está em conter os danos. E conter os danos é sermos campeões nacionais", reforça.

A centralização dos direitos de transmissão e a importância de vincar a grandeza do Benfica

Uma pasta importante que cairá de imediato no 'colo' de quem assumir a presidência do Benfica em outrubro/novembro será a da centralização dos direitos de transmissão, que Cristóvão Carvalho diz ter sido mal gerida pela direção de Rui Costa, mas sublinha que as águias terão sempre de "fazer valer a sua grandeza" para não saírem prejudicadas.

Cristóvão Carvalho critica Rui Costa por saída do Benfica da centralização dos direitos televisivos
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"A centralização é uma das principais polos de receitas do Benfica. E o Benfica sobre essa matéria tem uma palavra a dizer extremamente importante. O Benfica não pode aceitar a premissa que estava em cima da mesa que era receber menos que aquilo que agora recebe. Não se começa uma negociação por aí, mas nesta matéria a atual direção também demonstrou a sua manifesta incompetência. E agora claramente demonstrou ainda mais incompetência ao sair do processo", aponta.

"É absolutamente inexplicável como é que o Benfica tem de liderar um processo desse e vem-se embora. Eu vou querer perguntar em debate obviamente ao presidente Rui Costa como é que se defende os interesses de alguém estando fora do processo. Vai ter de me explicar porque eu não entendo", questiona.

"Não é o decreto de lei que vai obrigar o Benfica a cumprir o que a Benfica não quer cumprir"

"O que eu sei é que quando for presidente tomarei a liderança desse processo. Existe um projeto de lei aprovado, mas que neste momento todos percebemos que já perdeu espaço durante estes anos e o que foi feito de nada serve. Não é o decreto de lei que vai obrigar o Benfica a cumprir o que a Benfica não quer cumprir nem os outros clubes, nem é isso que irá regular esta matéria tão complexa. Até porque nestes
quatro anos só uma coisa que se pode ver é que nas outras ligas esse processo está mais avançado e não está a ocorrer bem. O número que foi colocado em cima da mesa pela nossa Liga não tem qualquer razoabilidade", sublinha.

"Portanto temos de começar de novo. Se calhar ainda bem que temos de começar de novo porque eu quero liderar muito este processo. E quero liderar este processo,  porque a Benfica vai defender os seus interesses. Nessa perspetiva, aquilo que eu defendo é que o Benfica tem de receber em função da sua grandeza e em função das suas audiências e do seu peso em toda aquela estrutura. Isso é o que o Benfica tem de receber. E disso não abdicamos", frisa.

"Se não conseguimos encontrar uma solução com base nesta perspectiva que o Benfica receber em função da sua grandeza, das suas audiências e do seu peso, o Benfica sai e arranja uma solução própria. E eu quero ver quem é que obriga o Benfica a aceitar uma solução diferente desta", termina.

Futuro das infraestruturas e o projeto "megalómano" de Rui Costa

Também na ordem do dia no Benfica está o futuro e a renovação das infraestruturas do clube, sobretudo depois da apresentação por parte do Rui Costa do apelidado 'Benfica District'. Um projeto ao qual Cristóvão Carvalho não poupa críticas.

"Foi o primeiro ato eleitoral do presidente Rui Costa. Feito com os serviços do Benfica. No próprio Estádio da Luz, convidando as edilidades, o presidente da Câmara, o governo, a FIFA...Só por aí foi absolutamente condenável", começa por apontar.

"Quanto ao projeto em si, é só uma coisa absolutamente megalómana, que tem sido absolutamente destruído por todos os entendidos na matéria", lembra.

"A loucura, que eu chamo-lhe a loucura, é que ainda se disse, como se fosse uma coisa insignificante, que a cidade desportiva também vai avançar"

"Ninguém acredita no seu bom senso que 200 milhões, ou 210, ou 220 milhões de euros possam fazer um projeto megalómano daqueles. Provavelmente nem três vezes esse valor. A loucura, que eu chamo-lhe a loucura, é que ainda se disse, como se fosse uma coisa insignificante, que a cidade desportiva também vai avançar. Mas a cidade desportiva não avançou porque custava 400 milhões de euros. Estou a dizer que este provavelmente custava 600. Estamos a falar do investimento do Benfica de um bilião, assim, de um momento para o outro. Está tudo louco?", questiona.

"Aquele projeto não está licenciado, nem sequer deu entrada, não está financiado, não tem projeto, não há dinheiro, não se sabe o quanto custa e o Benfica não suporta isto. Mostra uma coisa clara: o presidente do Rui Costa, não tem a mínima noção das contas do clube. Ou então isto é uma loucura insana e os benfiquistas não podem permitir isto", atira.

Cristóvão Carvalho aponta o dedo a Rui Costa: "Benfica District é um projeto eleitoralista"
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"A zona envolvente do Estádio da Luz e o próprio estádio precisam, obviamente, de uma renovação por duas razões fundamentais. A primeira é porque já acusa os anos e necessita de ser modernizado. A segunda é porque existe uma área enorme perdida à volta do estádio que tem de ser reaproveitada. Isto é fundamental. Mas para quê? Para gerar receita. Isto é fundamental para gerar receita. Temos de ter uma fonte adicional de receita. Eu tenho um projeto, mas é um projeto que não está pensado a três anos, que isso é absolutamente inviável", explica. "O meu projeto está pensado a 12 anos".

"O Benfica não é daquelas pessoas, o Benfica é dos sócios. E os sócios têm de perceber os projetos desta dimensão. Tem de ser explicado e detalhado aos sócios. Isso é fundamental e o Presidente do Rui Costa teve uma atitude absolutamente irracional, quando tem uma Assembleia Geral, quando aprova um orçamento, não dá uma palavra sobre isto no orçamento. Um projeto desta dimensão não tem de ser falado no orçamento. Um ex-vice-presidente do clube, que tinha a tutela desta área, disse que saiu em Janeiro e nunca ouviu falar nisto. Isto é uma vergonha para o Presidente do Rui Costa...", termina.

"Demonstra desespero, demonstra medo. Ele está com medo de eleições. Quando eu chegar ao Benfica, sei que vou encontrar o Benfica numa situação financeira muito pior do que pensava. E isto assusta-me", acrescenta ainda.

O que projeta para as modalidades: profissionalismo e sinergias

Não só de futebol vive um clube como o Benfica e Cristóvão Carvalho também nos falou do que pretende fazer com as restantes modalidades, as de pavilhão e não só, explicando-nos também o porquê de não avançar com o regresso do ciclismo, apesar de ser uma modalidade de que tanto gosta.

"No que toca às modalidades, o meu projeto é muito claro: o Benfica é um clube que tem responsabilidades perante os benfiquistas e perante os
portugueses. O Benfica também é um clube de utilidade pública. Como tal, é sua responsabilidade tirar os meninos e as meninas do sofá e vê-los fazer praticar desporto. Vamos tirá-los ao sofá para praticar desporto. O Benfica tem de assumir isso. Eu gosto muito disso", começa por dizer.

"Temos de assumir isso, mesmo que tenha um custo para o Benfica. Estamos a fazer o que é correto. E o Benfica também é isso. O Benfica tem de respeitar a sua história, tem de respeitar o seu ADN. E isso vai ser feito e vai ser assumido. E vão ser melhoradas as condições que existem agora porque agora, neste momento, o Benfica não tem as condições ideais para isso acontecer. Tem pavilhões espalhados por todo lado, as piscinas não têm essa qualidade...", critica.

"O Benfica tem condição para o fazer muito melhor"

"Outra coisa são as equipas profissionais. E essas equipas profissionais têm de dar um salto. Comigo, haverá um agrupamento onde será aproveitado o que cada uma tem de melhor, incluindo o futebol, criando sinergias do suporte mútuo, que têm a ver com experiência desportiva, scouting, equipas médicas, qualidade de treino ou nível de treino. Tudo isso pode ser otimizado dentro de uma estrutura. Mas para isso temos de ter as pessoas no lugar certo", sublinha. "Outra coisa que podemos e devemos fazer é o patrocinador comum tem de patrocinar as modalidades e tem de ter uma verba própria para as modalidades."

"Vamos aproximar a estrutura dessas modalidades com a estrutura do futebol no aproveitamento de toda esta energia que existe e todo este conhecimento que é muito mais profundo na área do futebol e que pode ser também partilhado pelas modalidades. E a partir daí termos aí entidades perfeitamente autónomas, perfeitamente definidas, muito bem geridas e determinadas, criando uma otimização para não haver, obviamente, um gasto de dinheiro absolutamente excessivo nessa matéria", salienta.

"Eu gosto muito de ciclismo. Mas julgo que o Benfica, neste momento, não há condições nem é o momento certo para voltar. Não pelo Benfica em si, mas porque eu acho que o ciclismo, neste momento, não é algo que se enquadra dentro do perfil e dos princípios que devem ser praticados dentro do nosso clube. O ciclismo não nos dá essa garantia. Não é que eu não gostasse, gostaria. E, além disso, o investimento seria enorme para termos uma equipa competitiva, porque quando o Benfica, quando entra em qualquer coisa, entra para ganhar", explica.

"E, há uns dias, deram-me uma explicação que eu acho que é também muito interessante: pode parecer absurdo, mas no ciclismo não é fácil ao Benfica encontrar um patrocinador, porque dificilmente a equipa seria chamada com o nome desse patrocinador, como por norma acontece no ciclismo, e não apenas de Benfica. Por tudo isso, claro que gostaria de ter ciclismo, mas não, pelo menos para já", conclui.

As ideias para a formação: jogadores da casa pagos como merecem

E sobre a formação e a Academia do Seixal. Qual a visão do candidato Cristóvão Carvalho para o Benfica?

"No que toca ao Seixal, obviamente, a nossa academia foi uma academia precursora e hoje continua a ser uma excelente academia, mas não é a academia de excelência que precisamos ter. E temos de ter ali uma academia de excelência, independentemente de ter já gerado grandes campeões", começa por nos dizer.

"Falta ali alguma coisa. Nomeadamente, duas coisas: tem de ser municiada de mais atletas, abrir-se a outros mercados, porque o Benfica sabe fazer e sabe formar muito bem. E, depois, tem de haver uma cultura, que não existe essa cultura dentro do Seixal desde o início, de que os melhores dos melhores vão chegar à equipa principal e aí terão de 'entregar' no mínimo dois a três anos à equipa antes de saírem. Claro que o Benfica vai-lhes pagar-lhes o que merecem, em função da qualidade que tiverem e em função daquilo que trazerem à equipa", diz.

"O Benfica tem de manter uma espinha dorçal muito forte com esses jogadores, alicerçada na formação, porque essa é a mística do Benfica"

"O que aconteceu com o João Neves não pode voltar a acontecer. E, quando houver essa cultura dentro do Benfica, com os melhores dos melhores a terem garantido um lugar no plantel principal sendo pagos como merecem, de forma justa, aí vamos conseguir manter os jogadores. O Benfica tem de manter uma espinha dorsal muito forte com esses jogadores, alicerçada na formação, porque essa é a mística do Benfica", lembra.

"O Benfica tem de ter isso. Isso vem dos nossos atletas. Depois, é completar isso com um ou outro jogador de referência mundial, mas isto tem de acontecer. E é esta cultura que tem de ser implementada, que ela foi perdida no Benfica. Os jovens já sabem que não vão ficar na equipa principal. E, portanto, quando chegam ali a uma determinada idade, começam a pensar em alternativas e desfocam-se. Isso não pode acontecer", frisa.

"Eles têm de querer, têm de querer muito, e eles querem muito ir para a equipa principal. E nós temos de dar essas condições e dizer-lhes que só têm de ficar dois a três anos aqui na equipa", reforça.

"Mas, atenção, sendo remunerados em função daquilo que oferecem. Um jogador que é como o João Neves, que era absolutamente titular no Benfica, que era uma pedra fundamental no Benfica, que era o motor do Benfica, nem uma proposta fazemos de renovação. Isto,
para mim, só tem uma palavra. Tem uma palavra e uma justificação. A palavra é vergonhoso. E a justificação é falta de conhecimento do Benfica e da história do Benfica. Isso comigo não vai acontecer", garante.

O Benfica de Cristóvão Carvalho daqui a cinco anos: esmagador a nível nacional e a caminho de ser campeão europeu

A fechar, convidámos Cristóvão Carvalho a dizer-nos onde vê o Benfica daqui a cinco anos, se for ele o vencedor do sufrágio que se aproxima.

"Digo-o com toda a clareza, daqui a dez anos, vejo o Benfica campeão europeu"

"Daqui a cinco, vejo o Benfica já muito melhor, muito mais forte e completamente esmagador a nível nacional. E é isso que irá acontecer em cinco anos. E, digo-o com toda a clareza, daqui a dez anos, vejo o Benfica campeão europeu", garante.

"Não tenho dúvidas nenhumas disso. O Benfica será campeão europeu. E eu estarei lá", assegura, antes de se despedir.

Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica
Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica