O antigo internacional português e agora embaixador da Liga Portugal esteve na Thnking Football Summit onde abordou o racismo no futebol e partilhou a sua experiência pessoal com o tema. Uma das histórias mais cativantes que contou está relacionada com o seu pai.

"Estamos num país onde, durante muitos anos, um dos craques de toda uma geração era o Eusébio. Só por isso, qualquer africano que jogasse queria ser como ele, e isso faz diferença. O meu pai foi tratado como um escravo, e a família também, porque saíram de Cabo Verde para São Tomé para trabalharem na roça. Mas, mesmo na roça, tiveram a oportunidade de estudar e de jogar futebol. O meu pai veio para Portugal e passou o sonho para os filhos. Transformámos o racismo em superação. A nossa história é de superação, desde o meu avô até nós, na Amadora. É um contexto difícil. Nos anos 80, era muito complicado, havia muitas barracas à volta de Lisboa, e, naquela altura, o sonho era seguir o exemplo de Eusébio. Tive a sorte de ter um pai que me incentivava a melhorar sempre que saía de casa. Todos os dias enfrentamos desafios. Todos temos de melhorar. Além disso, comparo o racismo à ignorância. Quem não está integrado é quem se comporta de forma errada com aqueles que são diferentes. O racismo não pode ser tolerado", contou o antigo defesa central.

De seguida partiu para uma reflexão sobre o luxo de ser futebolista profissional, algo que não está ao alcance de muitos. "Sou um privilegiado. Conseguimos atingir um patamar, e certas coisas passam-nos um pouco ao lado. Adota-se o racismo como uma raiva no momento em que o clube joga. Trabalhamos na Liga para que os mais jovens tenham noção das culturas africanas, asiáticas... falta cultura, e hoje temos os meios para chegar a toda a gente de forma muito rápida" explicou.
Por fim, Jorge Andrade abordou a morte de Neno, que foi guarda-redes e era uma pessoa muito querida por várias pessoas ligadas ao futebol nacional. "Era uma pessoa especial, de cor transparente. Era um anjo. Sempre que saía de casa, tinha uma palavra amiga. Como jogador e embaixador da Liga, era uma pessoa que adoro, mesmo não estando fisicamente entre nós. Transmitia alegria. Quando temos de mudar mentalidades, temos de encarar as situações com um sorriso. Devemos preparar mentalidades, e a educação deve começar desde cedo", concluiu.