O antropólogo Daniel Seabra lança no sábado o livro “Claques de Futebol: O Teatro das Nossas Realidades”, uma versão da tese de doutoramento sobre “as pessoas que estão nas claques”.
Nesta “versão mais resumida da tese” de doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, o investigador foca-se no “percurso de investigação nas claques de futebol desde 1992”, que começou ainda na licenciatura e continuou para o mestrado e o doutoramento, trabalhando com quatro grupos da zona do Porto – Super Dragões, Alma Salgueirista, Coletivo Ultras 95 e Panteras Negras –, ainda que o livro tenha “uma abrangência nacional”.
“Muitos dos princípios explicativos estão presentes em todas as claques. É um trabalho sobre claques, mas também sobre as pessoas que estão nas claques”, contou à Lusa, sobre a obra editada pela Edições Afrontamento.
Assim, o livro que será apresentado no Auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, no sábado, foca-se na “classe social” dos integrantes destes grupos, mas também “que atitude têm face ao trabalho, à escola, o que pensam da religião, da política, e quais são os seus consumos de lazer”, num trabalho “muito focado nas pessoas” e que inclui “algumas narrativas autobiográficas”.
“Foi também uma janela de auscultação da cidade do Porto, porque muito do que acontece nas claques é também o que acontece na cidade, sobretudo na questão dos bairros sociais”, esclareceu.
Um dado que salta à vista é a “heterogeneidade”, mas também “a questão da extrema direita e a sua influência”, e que “é mais ténue do que se pensa”, uma vez que há também a prevalência “dos partidos de esquerda”, sendo que os partidos posicionados mais afastados do centro, para um lado ou outro, acabam por ter mais peso.
Com grande parte do livro dedicado a ouvir os intervenientes, não se fala “só sobre violência e roubos, embora também toque nisso, mas mostra que esse assunto, em si, não é pacífico, há muita gente contra isso”.
Analisando o contexto histórico em que surgem as claques em Portugal, bem como o fenómeno do hooliganismo transposto de Inglaterra, a hierarquia da organização e vários estereótipos são confrontados na tese.
No final, há um confronto dos dados recolhidos com a teoria social, em várias dimensões, nomeadamente a “dimensão urbana, geracional, associada à juventude, e a dimensão classista”, na qual há “uma prevalência evidente da classe trabalhadora”.
Com prefácios de Luís Freitas Lobo, Vítor Baía e do orientador, José Manuel Sobral, “Claques de Futebol: O Teatro das Nossas Realidades” denota o fenómeno “como um palco de protesto, pela posição desfavorecida em que se encontram na sociedade”, mas também a “sociedade alternativa e sentimento de pertença e identidade” na perspetiva geracional.
Por outro lado, a dimensão urbana mostra a influência da formação e educação para a “reposição de um conjunto de ligações sociais” dentro da estrutura das claques, como na “reprodução de alguns padrões de delinquência”, além do contexto do futebol em si.
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