Especialistas em corrupção referiram hoje, no âmbito da Sport Integrity Week 2021, que o desporto é uma das áreas mais afetadas por este fenómeno e que devem ser os governos nacionais a legislar sobre a sua criminalização.
Numa conferência subordinada ao tema “The name of the game: follow the money”, Emanuel Macedo de Medeiros, CEO da SIGA, afirmou que “o desporto tem vulnerabilidades que foram já identificadas por várias autoridades”, ao longo dos últimos dez anos, e “que frequentemente envolvem atividades criminosas organizadas”.
Emanuel Macedo de Medeiros realçou que “com a pandemia estas vulnerabilidades aumentaram”, que o desporto tem ele próprio de “assumir um papel no combate a este fenómeno”, mas pediu que os governos nacionais não se coloquem à margem do problema.
“Os meios são limitados e por isso necessitamos da ação dos governos para combater estas redes de crime organizado e a sua opacidade. Mesmo com boa vontade, o desporto não pode fazê-lo sozinho e tem de ser um trabalho de equipa”, sublinhou o CEO da SIGA, que elogiou o envolvimento do G20 nesta questão e a sua sensibilidade para o tema, mas reforçou que até agora os resultados são escassos.
“Temos de por o dedo na ferida, e esse é o primeiro passo para a curar”, concluiu o especialista.
Emily Devlin, diretora da FIFA para a área legal e de conformidade, revelou que, no legado de Gianni Infantino, presidente da instituição, o organismo reforçou os meios para controlar para onde vai o dinheiro disponibilizado às federações nacionais.
“Esse fluxo é organizado e supervisionado num programa que instituímos, com processos que enraizaram uma mudança cultural e instituíram uma política de responsabilidade. Estamos numa curva de aprendizagem em que pretendemos sempre melhorar”, garantiu a diretora da FIFA.
Sobre a temática da combinação de resultados no desporto, Roberto Ribaudo, diretor da policia criminal Guardia di Finanza, de Itália, constatou que com os últimos escândalos, nomeadamente o FIFA Gate, houve uma mudança geográfica do fenómeno para paragens mais “discretas”.
“Houve uma mudança de interesse, que passou dos grandes jogos para eventos menos importantes, noutras regiões, como Ásia ou África, ou em ligas mais pequenas na Europa. Os montantes envolvidos não diminuíram, mas assistimos a essa deslocalização para outros territórios”, divulgou o italiano.
Drago Kos, CEO do Grupo de Suborno da OCDE, mostrou a sua incredulidade perante os lentos avanços que têm sido feitos no combate à corrupção no desporto, um problema que “é conhecido há muitos anos”.
“No desporto, nomeadamente no futebol, falamos de somas milionárias, o que é um terreno fértil para a corrupção. Há muitas organizações empenhadas neste combate, mas a verdade é que há falta de uma ferramenta eficaz que ponho fim a este problema. E essa vontade e organização tem de nascer a nível político. Os ministros do desporto com quem falo mostram-se muito receptivos a medidas que mitiguem este problema, mas quando o tema chega aos seus colegas da Justiça é quando o processo encontra maiores dificuldades”, constatou Drago, que concluiu que é precisamente essa independência que o desporto quer ter dos governos nacionais que os corruptores exploram nas suas atividades ilícitas.
A terminar, Emanuel Macedo de Medeiros, anunciou que a 8 e 9 de dezembro a SIGA vai promover o 2.º Congresso Internacional sobre Liderança e Anticorrupção, deixando o desejo de que possa ser “um golo a favor da integridade no desporto”.
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