O novo regulamento dos agentes de futebol, que foi aprovado pela FIFA e entrou em janeiro em vigor esteve em debate na conferência 'Regulamento dos Agentes de Futebol – Da Teoria à Prática', organizada pela Abreu Advogados em Lisboa e que contou ainda com a presença de Luís Villas-Boas Pires (Head of Agents da FIFA) e Carlos Gonçalves (diretor da Proeleven), num painel moderado por Sérgio Krithinas, diretor adjunto de Record.

Foram discutidos os princípios basilares do novo acordo, onde se destacam a limitação de comissões para evitar práticas excessivas e abusivas para proteger o bom funcionamento do sistema de transferências e a representação múltipla para evitar conflitos de interesses.

Joaquim Evangelista, presidente dos Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, deu o aval às mudanças introduzidas: "Alguma coisa tinha que ser feita para eliminar os danos colaterais que prejudicam o futebol, no centro da discussão deve estar o jogador e não o agente", atirou.

Já Fernando Veiga Gomes, da Abreu Advogados, salientou que "há afinações a fazer no regulamento", de forma a defender todos os envolvidos, sublinhando que o novo regime dá espaço para que os grandes empresários do setor dominem ainda mais o mercado de transferências.

"É possível contactar um jogador com contrato nos últimos dois meses do final do mesmo. Algum agente pode contactar o jogador e ele muda de agente. Os pequenos agentes que acompanham os jogadores desde o início da carreira são afastados quando chega a altura das grandes transferências, quando aparecem os agentes poderosos", apontou o especialista.

Fernando Veiga Gomes realçou ainda que a regulamentação portuguesa relativa aos empresários desportivos "não encaixa" na nova regulamentação da FIFA, pelo que tem de ser aprovada a transposição do novo regime.

"A lei portuguesa é mais restritiva. Por exemplo, o contrato com o agente pode durar no máximo dois anos", exemplificou.

Carlos Gonçalves, da Pro Eleven, revelou que os agentes não foram "tidos nem achados" no novo documento que foi implementado pela FIFA. "Estarmos a colocar o problema só nos agentes. (...) Mas foram os agentes que contribuíram muito para a massa salarial dos jogadores e de uma indústria ligada ao mercado de transferências", sublinhou.

Luís Villas-Boas Pires contrapôs referindo que "as comissões cresceram 20 vezes mais do que os salários" dos jogadores.

Joaquim Evangelista lembrou que a nova regulamentação vai trazer "maior idoneidade" às transferências e permitir uma melhor preparação dos agentes: "Muitos jogadores não estão preparados para tomar decisões fundamentadas na sua vida. Há o problema da literacia financeira. Há a cultura de fuga aos impostos no futebol português e o sistema está corrompido", atirou.

Nuno Gomes, antigo internacional português que representou Boavista, Benfica, Sporting de Braga, entre outros, seguiu atentamente o debate a partir da plateia e, no final, acabou por dar a sua visão sobre o papel dos agentes na indústria do futebol.

"Os agentes inflacionam o produto. É como o vendedor de uma casa. Também diz três ou quatro preços da mesma casa. Há bons e há maus. Há muitos agentes que fazem muito pelos jogadores e outros que fazem o que lhes convém fazer, com olho na comissão. É assim em todo o lado", comentou Nuno Gomes, considerando positivo que seja reforçada a regulamentação, para que "os bons [agentes] não paguem por aquilo que muitos maus andam a praticar".

O novo regulamento dos agentes de futebol da FIFA, que impõe a redução das comissões máximas recebidas, a proibição de dupla representação ou o regresso a um sistema de licenciamento à escala global, foi aprovado em 16 de dezembro de 2022, tendo entrado em vigor em 09 de janeiro, iniciando-se o processo de obtenção de licenças.

A partir de 01 de outubro, vai existir a obrigação dos clientes contratarem somente agentes licenciados.

*notícia atualizada