A presença da seleção portuguesa de futebol de sub-21 entre quinta-feira e hoje na fase de grupos do Europeu da categoria, na Eslovénia, revestiu-se de medidas restritivas exaustivas em pleno combate à pandemia de covid-19.
Alojada em Ljubljana desde 23 de março, a comitiva lusa, formada por 23 jogadores e 17 elementos de ‘staff’, foi submetida a cada três dias a testes de despistagem ao novo coronavírus, que provoca a covid-19, sem nunca ter registado qualquer caso de infeção.
Portugal cumpriu cinco treinos no Estádio de Atletismo e Futebol de Kodeljevo, na zona leste da capital eslovena, onde dezenas de populares acorreram para contemplar à distância os pupilos de Rui Jorge, mas sem direito aos habituais autógrafos e fotografias.
Se a equipa técnica e restante ‘staff’ das ‘quinas’ foram adotando as regras universais de distanciamento social, tendo mesmo acompanhado os futebolistas convocados em dois autocarros distintos, a comunidade eslovena desvalorizou o uso massivo de máscara.
Numa nação com a vacinação concluída em quase 11% dos 2,1 milhões de habitantes, o boletim diário de infetados (214.891) e mortos (4.047) por covid-19 continuou em ritmo crescente e fez travar o desconfinamento gradual sentido desde meados de fevereiro.
Com a proximidade do fim de semana da Páscoa, o Governo de Janez Jansa decidiu retomar o isolamento social de quinta-feira a 11 de abril, condicionando a circulação entre regiões e a reunião de pessoas e encerrando as escolas e o comércio não essencial.
O uso de máscara passará a ser obrigatório na via pública, até porque a Eslovénia é classificada hoje pelo portal Our World in Data como o quinto país do mundo com mais casos de infeção (102.959) e o sétimo com mais óbitos (1.943) por milhão de habitantes.
Volvidos 12 meses da deteção do primeiro infetado em Ljubljana, o relaxamento da população contrasta com a minúcia da UEFA na organização do Campeonato da Europa de sub-21, albergado por Hungria e Eslovénia e dividido em duas fases da temporada.
A primeira fase final do principal torneio europeu de seleções no escalão de esperanças com 16 equipas registou uma inédita ausência de público nos estádios, seguindo a tendência das provas desportivas ocorridas nos últimos meses em contexto pandémico.
O protocolo nos oito recintos de quatro cidades húngaras (Budapeste, Székesfehérvár, Szombathely e Gyor) e outras tantas eslovenas (Ljubljana, Celje, Maribor e Koper) determinava a medição de temperatura corporal logo à chegada de cada interveniente.
O acesso à zona técnica englobava apenas as pessoas indispensáveis à logística dos 24 jogos da fase de grupos, todos dependentes da realização de um teste negativo à covid-19, sempre munidos de máscara e com distanciamento físico de metro e meio entre si.
Os apanha-bolas tinham de desinfetar as mãos antes, ao intervalo e no final do jogo e higienizar cada esférico, enquanto os jogadores suplentes assistiam ao desafio sentados numa das bancadas, com duas cadeiras de distância e afastados da equipa técnica.
Idêntico retrato constava na tribuna presidencial, na qual Fernando Gomes e o esloveno Aleksander Ceferin, presidentes da Federação Portuguesa de Futebol e da UEFA, respetivamente, presenciaram a estreia vitoriosa dos lusos frente à Croácia (1-0).
Quando entraram em campo na quinta-feira, no Estádio Bonifika, em Koper, junto às margens do mar Adriático, as duas seleções e o trio de arbitragem perfilaram-se no relvado sem cumprimentos antes do apito inicial, regra esbatida no final da partida.
Os dispensadores de álcool gel também foram uma constante no Estádio Stozice, em Ljubljana, onde Portugal venceu no domingo a Inglaterra (2-0) e hoje encerra a fase de grupos frente à Suíça, necessitando de apenas um empate para rumar à ronda eliminatória, aprazada de 31 de maio a 06 de junho, também na Hungria e Eslovénia.
Já a tribuna de imprensa esteve pouco concorrida durante a primeira fase do torneio, devendo cada profissional da comunicação social preencher uma declaração pessoal à entrada do recinto e cumprir trajetos díspares do percurso dos agentes desportivos.
Na ausência de zonas mistas, somente as estações com direitos de transmissão da competição tiveram permissão para realizar entrevistas rápidas, ao passo que as conferências de imprensa de antevisão e de rescaldo cingiram-se aos meios digitais.
A agência Lusa nunca vislumbrou adeptos com as cores nacionais durante os 10 dias de estadia na Eslovénia, mas encontrou um voluntário esloveno residente há quatro meses no Funchal a auxiliar a organização dos três jogos do grupo D disputados em Koper.
“Viajei de propósito, porque gosto de futebol e de torneios desta dimensão. Primeiro, sou adepto da Eslovénia. Em segundo, claro que sou de Portugal. Têm uma equipa boa e podem ganhar o troféu. Gosto muito do Pedro Gonçalves e do Tiago Tomás, porque a família da minha namorada apoia o Sporting”, partilhou Robi Ferjancic, de 26 anos.
Natural de Vipava, no oeste da Eslovénia, a quase 50 quilómetros de Ljubljana, este produtor de conteúdos audiovisuais em regime ‘freelance’ foi viver para a Madeira por causa da paixão de nacionalidade portuguesa e assume-se como fã do Portimonense.
“Outra metade da minha família é adepta do Benfica. Como não queria ficar dividido, resolvi passar a gostar do Portimonense. Foi um dos últimos colocados da época passada na I Liga, chegaram a descer à II Liga no relvado e pensei que precisavam de alguns adeptos. Até tenho aqui uma máscara com o símbolo e as cores do clube”, patenteou.
Robi Ferjancic também foi voluntário no Eurobasket2013 e no Euro2018 de futsal, este último conquistado por Portugal, dois eventos com finais realizadas na Arena Stozice, localizada ao lado do palco da final do Campeonato da Europa de futebol de sub-21.
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