Entre contas e mais contas, trocas de posições constantes na tabela, de 1.º para 2.º, de 2.º para 4.º e eliminado e de novo apurado em 3.º, Portugal viveu de tudo frente a França, na derradeira jornada do Euro2020. No entanto, o importante foi conseguido: o apuramento para os oitavos de final do Euro2020, embora como terceira do Grupo F, tal como aconteceu em 2016.
Só que desta vez, o caminho é mais tortuoso até a final: a Bélgica é o adversário que se segue e, se passar, Portugal poderá apanhar a Itália, uma das melhores equipas da prova, nos 'quartos'. Mas isso fica para depois.
Agora é descansar e arranjar formas de eliminar os Diabos Vermelhos, no domingo em Sevilha. Há Lukaku, há de Bruyne, há Hazard..., enfim, eles são todos bons. Mas nós somos os campeões da Europa.
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O jogo: sofrer até ao pacto de não agressão
Aqueles momentos finais do jogo, com Fernando Santos a mandar a equipa subir no terreno e atacar para chegar ao 3-2 quando os campeões da Europa e os campeões do Mundo já tinham 'assinado' o pacto de não agressão foi mais uma faceta de Portugal, na terceira jornada do Grupo F do Euro2020. Passámos de aguentar o 2-2 porque em Munique a Alemanha perdia com a Hungria, para querer o 3-2 e assim terminar em primeiro, porque o jogo na Alemanha já tinha terminado e com um empate entre magiares e germânicos.
Antes disso, sofrimento. Bem à moda portuguesa. E muitas contas porque, cada um dos oito golos marcados nos dois desafios obrigava a novos cálculos, novo ordenamento da tabela, novos calafrios.
Fernando Santos começou por ter um meio-campo mais sólido e estável com bola, com as entradas de João Moutinho e Renato Sanches, o homem que devia ter sido titular frente a Alemanha. Com uma França que não pressiona tanto como os germânicos e não é tão elaborada em ataque organizado, Portugal não passou pelos calafrios que teve com a Alemanha na segunda-ronda quando perdeu por 4-2.
E quando Cristiano Ronaldo abriu o ativo aos 30 minutos, numa grande penalidade a castigar falta de Lloris sobre Danilo, foram os campeões do Mundo quem ficaram nervosos. Algumas entradas duras, cartões amarelos, passes falhados e frustração.
O nervosismo da França era bom sinal mas era preciso ter cuidado porque de Munique as notícias eram confusas. A Hungria vencia a Alemanha e isso era bom e mau ao mesmo tempo. Bom porque Portugal só tinha de empatar com a França para seguir em frente; mau porque se os húngaros vencessem e Portugal perdesse com a França, os campeões europeus seriam eliminados por acabarem em último do grupo. Já uma vitória alemã e uma possível derrota lusa dava para passar desde que os comandados de Fernando Santos não perdessem por mais de dois golos de diferença.
E quando Benzema empatou, também de grande penalidade, no segundo minuto de descontos do primeiro tempo, Portugal agarrou com mais força na calculadora.
No penálti, Mateu Lahoz considerou que Nelson Semedo fez falta sobre Mbappé na área lusa.
Era preciso continuar a não dar espaço à França, principalmente a Mbappé e Benzema, jogadores ágeis a atacar o espaço nas costas da defesa. Nelson Semedo contou sempre com a ajuda de Pepe e foi travando as investidas do avançado do PSG na primeira parte e, com isso, parte do ataque da França estava anulado.
Faltava o resto: vigiar de perto Pogba para evitar que lançasse os homens da frente, coisa que falhou no segundo minuto da segunda parte. O médio que milita no Manchester City descobriu o avançado do Real Madrid descaído pela direita, fez um passe fantástico entre Raphael Guerreiro e os centrais para Benzema atirar de primeira para a reviravolta. O golo começou por ser anulado pelo árbitro auxiliar por fora de jogo, mas o VAR confirmou a posição regular de Benzema.
Pânico! Aquele golo colocaria Portugal no último lugar do Grupo F e fora do Euro até porque, do outro lado, a Alemanha continuava a perder e não encontrava formas de furar a defensiva húngara.
Caiu do céu o empate aos 60 minutos, num lance também muito contestado pelos franceses. Ronaldo insistiu pela direita, centrou, a bola bateu em Koundé, voltou para CR7 que centrou de novo. A bola bateu nas mãos do central (jogou a lateral direito), o Antonio Mateu Lahoz apontou para a grande penalidade que Ronaldo converteu. Um golo histórico já que foi o 109.º com a camisola das quinas, o que permitiu a Cristiano Ronaldo igualar o iraniano Ali Daei como melhor marcador mundial de sempre em seleções.
Da Alemanha chegavam boas e más notícias, intervaladas por dois minutos. A Alemanha empatou aos 64, o que até era bom para Portugal, mas a Hungria voltou a ganhar vantagem aos 66, o que era bom e mau para os campeões europeus: bom porque Portugal, com o 2-2, passava como segundo classificado e a Hungria como uma das melhores terceiras, má porque um golo da França atiraria os lusos para fora do Euro.
Do banco veio a reação de Fernando Santo, que apostou num 4-4-2, com Diogo Jota e Ronaldo na frente e quatro médios: Palhinha que entrou no posto de Danilo ao intervalo, Rúben Neves que rendeu Moutinho e Bruno Fernandes que ocupou o posto de Bernardo Silva. Quatro médios para conter a França, que não resultava muito porque Portugal afundava muito a sua linha defensiva e colocava muita gente dentro da área, deixando a zona à entrada da área desprotegida.
Bigodes e cornos, cerveja, sorrisos e beijos: o ambiente antes do Portugal-França
Tirando uma dupla defesa de Rui Patrício, o jogo teve poucos motivos de interesse nos minutos finais. A França tinha garantido o primeiro lugar, Portugal o seu apuramento, o calor era muito e ninguém queria estar a correr atrás da bola sem necessidade. Os húngaros presentes no Púskas Arena é que não gostaram e assobiaram muito os passes sem progressão das duas equipas. E quando a Alemanha empatou 84 em Munique, pior devem ter ficado.
Destaque ainda para a estreia de Diogo Dalot na Seleção A: foi vice-campeão da Europa em sub-21, foi de férias mas teve de sair a meio para integrar os AA de Portugal após Cancelo ter testado positivo para a COVID-19.
Não vencendo, Portugal conseguiu o tão desejado ponto que lhe garantiu o apuramento como o melhor dos quatro terceiro colocados. A Bélgica é o adversário que se segue, no próximo domingo em Sevilha.
Momento-chave: Patrício, o Salvador
Com o jogo empatado a duas bolas e Portugal a passar por um mau bocado, foi preciso Rui Patrício para manter os campeões europeus de pé, tal como aconteceu na final do Euro2016 em Paris frente a esta França. Pogba teve muito espaço à entrada da área, rematou ao canto para aquilo que seria um golaço. Rui Patrício 'ganhou asas', voou e desviou a bola com a ponta dos dedos para a barra. Na recarga, Griezmann atirou para golo mas Patrício voltou a brilhar.
Polémicas: Três penáltis e pedido de mais um
Não foi um jogo fácil para o árbitro espanhol Mateu Lahoz. O penalti marcado por soco de Lloris na cara de Danilo quando tentava chegar à bola foi contestado pelos franceses, tal como o penálti de Nelson Semedo sobre Mbappé que deu o empate. Era um lance muito difícil e, na repetição, fica a ideia que foi o francês quem chocou contra o lateral luso.
Também os franceses contestaram o segundo penálti de Ronaldo mas Koundé tem os braços abertos no centro de CR7, embora estivesse muito perto do avançado. Nos descontos, pedido de penálti da França em lance entre Coman e Bruno Fernandes mas o árbitro mandou seguir, mesmo após escutar o VAR.
Os Melhores: Ronaldo e Benzema nos golos, Patrício na salvação e Renato em todo o lado
Cristiano Ronaldo marcou dois golos e isolou-se na lista dos melhores marcadores deste Euro2020 com cinco tentos. Fez o seu primeiro golo à França e igualou o recorde de Ali Daei. Benzema também fez os tentos da França e destacou-se na parte da eficácia.
Rui Patrício mostrou segurança e foi decisivo no jogo com aquela defesa aos 68 minutos. E Renato Sanches mostrou porque devia ter sido titular frente a Alemanha: forte dos duelos, bom na condução de bola, a comer metros rumo à baliza adversária e incansável na pressão.
Noite menos boa: Diogo Jota
Num jogo positivo de ambas as equipas, Diogo Jota foi dos que menos brilhou. Foi egoísta nalguns lances, trapalhão noutros, e não mostrou a eficácia de outros tempos nas suas ações.
Reações
Rúben Neves: "Somos campeões europeus, sabíamos que podíamos fazer melhor"
Diogo Dalot: "É uma noite perfeita para mim"
João Palhinha: "Dei tudo o que tinha de mim, foi o que o mister me pediu"
Fernando Santos: "Os jogadores perceberam o que tinham de fazer"
Rui Patrício: "O mais importante era passar a fase de grupos e conseguimos"
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