O Euro 2024 está mais perto do fim do que do princípio e já deu para tirar bastantes ilações sobre as seleções e os respetivos jogadores, numa altura em que só sobram as oito melhores seleções. À porta dos quartos de final, que se iniciam já esta sexta-feira, com um escaldante Espanha-Alemanha (17 horas), confira os destaques  - pela positiva e pela negativa - escolhidos pela equipa do SAPO Desporto.

Neste momento, ainda estão em competição Alemanha, Espanha, Portugal, França, Países Baixos, Turquia, Inglaterra e Suíça, sendo que algumas já estávamos à espera que chegassem a esta fase, outras são ausência de peso e ainda há as que provaram ser muito melhores do que o expectável.

Seleções - as desilusões

Croácia

Inevitavelmente, a primeira a entrar nesta categoria é a Croácia. Depois de ter chegado aos oitavos de final do Euro 2020 e do honroso terceiro lugar no Mundial 2022, a seleção orientada por Zlatko Dalic deixou muito a desejar nesta participação.

Embora seja preciso dizer que esteve a meros segundos de passar aos oitavos de final, não fosse o maldito golo de Zaccagni no último minuto, em termos de prestação ficou muito aquém dos pergaminhos recentes. Baseada nos pilares envelhecidos da geração dourada, a Croácia ressentiu-se do nível mais baixo a que Modric, Kovacic, Brozovic e Perisic se apresentaram e nem as ascensões de Gvardiol ou Livakovic compensaram.

Sempre com um futebol de maior sofrimento do que espetacularidade, a derrota inaugural com a Espanha (3-0) foi demasiado difícil de digerir. Seguiram-se os empates com Albânia (2-2) e Itália (1-1) e a eliminação que põe fim á era dourada croata, que agora certamente precisará de alguns anos para juntar na mesma seleção tanto talento de classe mundial.

Hungria

Após uma qualificação de respeito, em que suplantou todos os adversários do Grupo G, a formação magiar chegou a esta competição com um plantel de respeito, com jogadores altamente capacitados e um grupo já com alguma experiência acumulada.

No último Europeu não passou da fase de grupos, mas a evolução dos seus principais intervenientes e o facto de complicar muito a vida aos adversários devido à sua organização, fazia prever uma prestação melhor.

Teve o azar de calhar no grupo da anfitriã Alemanha e de uma super Suíça, tendo apenas batido a Escócia para garantir o terceiro lugar do Grupo A deste Campeonato da Europa. Gulacsi, Orban, Kerkez, Sallai e Szoboszlai era os estandartes de uma das gerações mais preparadas da Hungria, mas acabou por não ter andamento quando as coisas se complicaram.

Foram para casa após a fase de grupos e agora é hora de refletir sobre a melhor forma de potenciar todo o talento disponível.

Inglaterra

Embora possa ser polémico introduzir aqui a equipa dos 'Três Leões', uma vez que passaram aos quartos de final, o que é certo é que as prestações da equipa de Gareth Southgate deixaram muito a desejar, tanto que até até os adeptos já manifestaram o seu desagrado.

Os ingleses até ficaram no primeiro lugar do Grupo C, com 5 pontos, mas apenas venceram a Sérvia (1-0), tendo empatado com Dinamarca (1-1) e Eslovénia (0-0). As escolhas do selecionador, seja em termos de posicionamento dos jogadores, ou de substituições, têm estado no centro da discordância e o futebol apresentado é pobre para tanta qualidade individual.

A prova disso é o sofrimento que Inglaterra passou para ultrapassar uma muito mais frágil seleção da Eslováquia, onde embora tenha controlado o jogo a certa altura, não se coibiu de baixar o bloco e abdicar de jogar mal se viu em vantagem. Embora estratégias sejam como as cabeças, pois cada um tem a sua, a postura adotada pelos pupilos de Southgate não se coaduna com a de uma seleção favorita a ganhar o Europeu e até ao momento ainda tem muito a provar.

Seleções - as revelações

Suíça

Os helvéticos foram a maior surpresa até ao momento. Já há muito se sabia que a organização era ao nível dos famosos relógios suíços, mas nesta competição provaram que também têm talento para dar e vender. Triunfaram justamente no primeiro jogo com a Hungria (3-1) e depois seguiram-se dois empates, com Escócia (1-1) e Alemanha (1-1), sendo que neste último os germânicos tiveram um pouco de sorte na ponta final do desafio.

Após isso ainda eliminaram a Itália (2-0) numa clara demonstração de força e de que querem fazer história e chegar o mais longe possível. Além duma impressionante qualidade coletiva, esta prova tem permitido ver os talentos individuais que têm despontado no país.

Pelo que já mostraram, dominam todos os aspetos do jogo e não há nenhuma evidente falha no seu jogo que os adversários possam considerar como "porta de entrada" para os abater. A experiência de jogadores como Sommer, Akanji ou Xhaka, tem sido complementada pela irreverência Ndoye, Rieder ou Vargas e tem dado gosto de ver jogar esta seleção.

Áustria

Outra das seleções que mostraram algo que não estávamos à espera foi a Áustria. A equipa liderada por Ralph Rangnick (sim, o mesmo do Manchester United), conseguiu o que se pensava impossível e ficou no primeiro lugar de um grupo onde constavam França, Alemanha e Polónia, mesmo depois de ter perdido o jogo inaugural contra os franceses (1-0).

Com jogadores de nível médio-alto, sem grandes superestrelas e com a principal figura, David Alaba, ausente, não se esperava muito dos austríacos, mas fizeram-nos engolir as palavras. Com capacidade para fazer golos, somando sete nos quatro jogos realizados, foram das seleções que mais entusiasmaram na competição e nem o facto de terem sido eliminados pela Turquia (2-1) nos oitavos de final lhes tira o brilho.

Demonstrando um entrosamento fantástico, a equipa apresentava argumentos para lidar com as várias fases dos jogos e conseguiram mesmo bons golos e até reviravoltas. Para trás, deixam na memória as brilhantes prestações que, não fosse a defesa brilhante de Gunok nos últimos segundos do embate com os turcos e a história podia ser outra.

Geórgia

Entrou em prova como 'outsider'  e esta até foi a primeira participação em Campeonatos da Europa, mas o que é certo é que impressionou. Calhou num grupo complicado, tendo Portugal, Turquia e Chéquia como rivais, mas desde cedo se percebeu que podia chegar mais longe.

Perdeu logo na primeira jornada, frente aos turcos, empatou a Chéquia e, na derradeira jornada, derrotou Portugal para garantir lugar entre os melhores terceiros classificados e seguir para os oitavos.

Sem muito brilho, a impressionante solidez defensiva permitia a Mikautadze e Kvaratshkelia soltarem-se na frente e aproveitarem as transições para fazer mossa. Chegaram a assustar a Espanha nos 'oitavos', mas acabaram cilindrados pelo rolo compressor espanhol. Ainda assim tiveram uma estreia mais do que digna e deixam água na boca para o que aí vem.

Jogadores- as desilusões

Phil Foden (Inglaterra)

O melhor jogador da Premier League em 2023/24 chegou a esta competição como uma das figuras de cartaz, mas ainda não provou toda a qualidade que lhe é reconhecida.

Ainda sem golos e sem assistências ao fim de quatro jogos disputados, o criativo, de 24 anos, tem sido muito prejudicado pelo selecionador que o encostou ao lado esquerdo do ataque, onde claramente não é capaz de render tanto por perder a possibilidade de fletir para o meio com o seu pé mais forte.

Sem chama e longe da capacidade de decisão que mostrou ao longo da Premier League da temporada transata, Foden parece apagado, talvez também devido aos problemas pessoais que o fizeram abandonar o estágio e regressar a Inglaterra após o final da fase de grupos.

Ainda vai mais do que a tempo de brilhar, mas tem de acordar!

Kevin De Bruyne (Bélgica)

Parece perseguição ao Manchester City, mas não é. Indiscutivelmente um dos melhores médios que passou pela Premier League, De Bruyne não conseguiu carregar a Bélgica a mais umas meias-finais, como aconteceu no Mundial 2018.

Lento, sem mostrar a capacidade de passe que o distingue e incapaz de lidera o que resta de uma geração que já foi considerada das melhores de sempre no país belga, o centro-campista pareceu sempre demasiado distante e incapaz de ser a cola que unia a defesa e o ataque.

É óbvio que os colegas não lhe deram o apoio devido, mas esperávamos muito mais do jogador que já esteve ( e talvez ainda esteja) entre os melhores do Mundo. Foi eliminado pela França nos oitavos de final e sai de prova com apenas um golo marcado, contra a Roménia. Curto para quem poderá ter tido a última oportunidade num Campeonato da Europa.

Cristiano Ronaldo (Portugal)

De um dos melhores jogadores de sempre esperamos sempre mais. Obviamente que temos de ter em consideração os 39 anos, mas o nosso capitão não tem demonstrado a veia goleadora que teve na Arábia Saudita, onde marcou 50 golos e fez 13 assistências.

Tendo em consideração que não acrescenta muito no processo defensivo, obviamente por estratégia, a Ronaldo pedem-se golos e ainda nem um tem, não tendo aproveitado a grande penalidade com a Eslovénia para inaugurar a conta pessoal.

Sem a velocidade, capacidade de explosão ou mesmo de salto de outrora, também não tem impressionado ao nível da criação e apenas tem uma assistência, para Bruno Fernandes. Ainda vai mais do que a tempo de mostrar o que sabemos que vale mas precisamos dele ao mais alto nível para sonhar em repetir o feito de 2016.

Jogadores - As revelações

Lamine Yamal (Espanha)

O jovem prodígio, de apenas 16 anos, é como o algodão, não engana. A personalidade que mostra em tão tenra idade é algo de inédito e o facto de ser titular de uma seleção que está tão forte como é o caso da Espanha ilustra o talento que tem.

Ainda não marcou, é certo, mas a qualidade revelada no um contra um e nas decisões no último terço fazem prever um futuro brilhante ao jovem extremo. Tem sido dos mais influentes da sua seleção e já leva duas assistências na competição.

Agora resta esperar, desfrutar e vê-lo a brilhar nos próximos anos, caso não seja traído por lesões.

Xavi Simons (Países Baixos)

O criativo neerlandês já é conhecido desde criança, quando nos aparecia nas redes sociais a brilhar na La Masia. Cresceu, mudou-se para o PSG e tem evoluído nos últimos dois anos ao serviço de PSV e Leipzig.

Hoje em dia, é titular da seleção neerlandesa e é um dos fantasistas da equipa. É dele que partem as principais iniciativas individuais e tem um perfume que faz lembrar os magos de outros tempos.

Ainda só tem duas assistências, mas a equipa também não o tem ajudado a brilhar. Ainda tem muito tempo para crescer e, aos 21 anos, certamente será um talento geracional, assim que adicione um pouco mais de golo ao seu jogo. Qualidade não lhe falta, vamos ver se ganha a consistência necessária para se tornar um afigura de proa dos Países Baixos.

Diogo Costa (Portugal)

Se é que alguém ainda tivesse dúvidas das suas qualidades por jogar na I Liga, o guarda-redes do FC Porto provou que também brilha nos palcos maiores.

Após exibições sem mácula na fase de grupos, adicionou uma pitada de brilhantismo nos oitavos de final contra a Eslovénia, realizando uma defesa decisiva no prolongamento e depois defendendo três grandes penalidades.

Aos 24 anos, é seguramente um dos melhores guarda-redes do Mundo e depressa dará o salto para outros voos. Tornou-se o primeiro guardião não sofrer golos numa partida que ficou decidida nos penáltis e entrou para a história dos Campeonatos da Europa. Agora resta guardar bem o cofre, para no fim trazer o troféu na mala.