Miller Gomes contestou a calendarização das provas de futebol em Angola. O treinador do Recreativo do Libolo defende que o Girabola deveria começar mais cedo, para que as equipas que participem nas Afrotaças entrem já com alguns jogos nas “pernas”.
Um dos problemas das equipas de Angola nas provas da CAF prende-se com o início tardio do Girabola, o que faz com que os primeiros jogos nas Afrotaças aconteça numa altura em que as equipas ainda estão na pré-época, a tentar afinar estratégias, longe ainda da forma que se exige para a importância das competições da Confederação Africana de Futebol.
"O início tardio do campeonato tem de ser repensada. Saímos da pré-época e entramos numa competição tão importante como a Liga dos Campeões Africanos. Por norma, antes de entramos na fase de grupos é preciso passar algumas eliminatórias e qualquer deslize é uma hecatombe. Temos de equacionar, rever a situação. Essas coisas não se resolvem da noite para o dia, tem de se regulamentar, validar, fazer estudos para implementar uma nova linha orientadora da competição. Mas este é um mal que padece o nosso campeonato porque condiciona as equipas que participam nas competições africanas", destacou o técnico angolano, que espera ver a FAF dar passos no sentido de resolver a questão. Algo que está longe de acontecer.
"No ano passado houve uma reunião para se apresentar ideias e opiniões para isso mas penso que as coisas não se tratam com meras ideias. Não sinto nem vejo um passo no sentido de alterar este quadro nos tempos mais próximos", sublinha.
Com a participação nas provas da CAF, as equipas angolanas acabam por sofrer enorme desgaste, que se reflete nas provas internas. Miller Gomes dá o exemplo das deslocações para os vários pontos de África, que muitas vezes têm de serem feitas com escala na Europa, duplicando ou triplicando o tempo de viagens.
"Há nuances que devem ser entendidas e refletidas porque as competições internacionais em África são muito desgastantes. As viagens levam entre quatro a cinco dias, para se ir de uma ponta a outra, as ligações são muito complicadas, temos de fazer, às vezes, viagens duplas. Para se ir ao Norte de África, por exemplo, temos de ir para a Europa para voltar para a África outra vez. Tudo isto condiciona e é muito desgastante, coloca as competições internas sobrepostas em termos de calendário. Temos de saber conviver com ela, gerir e precaver e tomar as melhores decisões para minimizar a situação", explicou.
Outra melhoria que Miller Gomes gostaria de ver no Girabola é o aumento de técnicos angolanos com mais formação. O treinador do Recreativo do Libolo sublinha os ganhos obtidos com os técnicos estrangeiros mas clama por uma maior aposta na formação dos técnicos angolanos.
"Temos de reconhecer essa brecha que existe no nosso futebol, que é a insuficiência de técnicos qualificados. Isso obriga ao recrutamento de treinadores no exterior. Mas essa luta temos todos de a travar no sentido de formar e valorizar o quadro nacional. Em qualquer parte do mundo os estrangeiros ajudam e aqui também contribuem para o desenvolvimento do nosso futebol mas falta de técnicos nacionais com qualificação para aquilo que se precisa para a alta competição", alertou o técnico angolano, em entrevista ao SAPO Desporto.
Com o título já assegurado, Miller Gomes já está a trabalhar com o presidente Rui Campos na definição do plantel para a próxima época. O técnico sublinha que é preciso reforçar todos os sectores para atacar todas as provas em 2015.
"Estamos a olhar para o plantel na sua profundidade, desde a baliza até ao último sector. Estamos atentos, já fizemos algumas investidas, sei que iremos ter alguma informação brevemente sobre jogadores que vão reforçar o plantel na próxima época. Há outros jogadores que podemos identificar no final do Girabola. Como faltam ainda duas jornadas para terminar e ainda há jogadores a representar os seus clubes, não vamos avançar", sublinhou Miller Gomes.
O Recreativo do Libolo sagrou-se vencedor do Girabola2014. Foi o terceiro título de campeão angolano nos últimos quatro anos.
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