O diretor desportivo José Taira acompanhou os cinco anos do percurso ascendente do Belenenses desde a última divisão distrital de Lisboa até ao ansiado regresso aos campeonatos profissionais de futebol, com bastantes dificuldades no caminho.
“Foi, e está a ser, um percurso muito difícil. Desde o início, nós sabíamos que, em cada divisão, não tínhamos uma fase de maturação, ou seja, era entrar na divisão e termos de corresponder às exigências e objetivos, que era subir de divisão. Não conhecíamos adversários ou campos, subimos porque temos essa obrigatoriedade de subir e porque temos de ser mais fortes”, explicou à Lusa José Taira, no cargo desde a época 2018/19.
O clube lisboeta, habituado numa história centenária a figurar entre a elite e cuja glória assenta no campeonato conquistado em 1945/46, foi até ao último degrau do futebol português, devido à cisão com a SAD, somando cinco subidas de divisão em cinco anos.
“Aqui a exigência é grande, pois a massa associativa e a história do clube assim exigem. Os jogadores que vêm para cá são conhecedores disso desde o primeiro momento. Por outro lado, percebemos que o trabalho, ao longo destes cinco anos, foi bem feito. É um orgulho muito grande e uma honra ter acompanhado todo este processo e culminar no sábado passado com a subida aos campeonatos profissionais”, expressou o dirigente.
Salientando a visão “completamente correta” do presidente Patrick Morais de Carvalho na decisão tomada há cinco anos, José Taira frisou que a estrutura ainda está a “deixar assentar a poeira” relativamente a alguns assuntos, embora as dificuldades continuem.
“Temos de continuar a ser criativos do ponto de vista orçamental e a ser assertivos nos jogadores que para cá vêm. Uma das vantagens que eventualmente podemos ter é que a nossa massa adepta, conjuntamente com mais três ou quatro que poderão estar na II Liga, é diferente, pois é exigente. Estamos a falar de 104 anos de história do clube. Tem de ser respeitado, sobretudo pelos intervenientes, que são os jogadores. O Belenenses, independentemente de tudo, tem de ser igual a jogar em casa ou fora”, apontou ainda.
Em causa, do ponto de vista orçamental, está a necessidade de gastar cerca de 500 mil euros no sistema de iluminação para o licenciamento do Estádio do Restelo, o que leva o Belenenses a iniciar “em desvantagem”, embora “orçamentos não ditem o sucesso”.
“Os êxitos também são feitos com homens de caráter. O objetivo que temos é ir buscar bons jogadores, complementar com os que cá continuarão, e dar a esse cunho pessoal o caráter, personalidade e o ADN do Belenenses, que deve ser cada vez mais vincado”, apontou, lembrando que superaram a Liga 3 sem dispor do orçamento dos adversários.
Foi essa qualidade humana do grupo de trabalho que fez a diferença na fase final desta época, considerou José Taira, que recordou períodos complicados e um triunfo na casa do Sporting B que acabou por servir como “catalisador para a equipa continuar ligada”.
“O percurso desta época teve a ver com qualidade de trabalho, qualidade técnica ou a qualidade de jogadores, mas, acima de tudo, muita qualidade humana neste grupo de trabalho. Foi a ‘chave’. Não fomos uma equipa que tivesse oscilado muito, do ponto de vista exibicional e nos resultados. Sempre confiámos, fomos seguros e continuámos a trabalhar, mesmo tendo resultados adversos em certos momentos, e funcionámos com constância e a certeza de que as coisas poderiam pender para o nosso lado”, ressalvou.
O foco encontra-se ainda na final da Liga 3, frente à União de Leiria, mas o Belenenses já tem, há várias semanas, um dossier de preparação e análise da próxima temporada, com várias possibilidades, embora José Taira não queira desviar o foco do último duelo.
“Se o clube merece subir de divisão, estes jogadores merecem subir e ser campeões. É o coroar de tudo o que fizeram esta época. O clube faz um apelo enorme para que haja um ‘mar azul’ brutal e que consiga viver esse momento de festa, porque o Belenenses também necessita disso. Foram cinco anos a passar por muitas angústias e ansiedades e esse é o nosso foco. Depois, decidiremos qual vai ser o trajeto. Temos de deixar tudo preparado em relação à próxima época”, disse o ex-médio, uma vez internacional luso.
O Belenenses e a União de Leiria, as duas equipas que confirmaram a subida à II Liga na liderança das duas séries da fase de subida, discutem o troféu de campeão da Liga 3 no próximo dia 20 de maio, pelas 16:15, no ‘mítico’ Estádio Nacional, em Oeiras.
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