'Quem vai à guerra, dá e leva'. Este ditado português bem pode ser empregue a seleção da Alemanha de futebol, humilhada na noite desta terça-feira pela Espanha, ao ser goleada por 6-0. Os alemães, peritos em bater nos outros sem dó nem piedade, (7-1 ao Brasil no Mundial2014, Bayern 8-2 ao Barcelona na Champions 2020 em Lisboa), sentiram bem a 'dor' que costumam infligir nos adversários.

Ferrán Torres, que conseguiu um ‘hat-trick’, aos 33, 55 e 71 minutos, Álvaro Morata, aos 17, Rodri, aos 38, e Mikel Oyarzabal, aos 89, marcaram os golos dos espanhóis, que precisavam de ganhar para garantir um lugar na 'final four' da Liga das Nações, onde já está a França, vencedora do Grupo de Portugal.

A formação de Luis Enrique venceu o Grupo 4 com 11 pontos, contra nove da Alemanha. A Ucrânia soma seis e a Suíça três, ambas com menos um jogo, que era para ser realizado na terça-feira, mas foi cancelado devido a vários casos de covid-19 nos ucranianos.

Curiosamente, este jogo aconteceu, precisamente 10 anos após a goleada de Portugal a Espanha, num particular que teve lugar no Estádio da Luz e que serviria de promoção de uma possível candidatura ibérica ao Mundial 2018/2022. Candidatura essa que nunca chegou a ser feita.

Nesse 17 de novembro de 2010, as duas seleções viviam momentos distintos. A Espanha ainda estava em festa pela conquista do seu primeiro e único Mundial de Futebol, na África do Sul, numa caminhada onde eliminaram Portugal com um golo de David Villa, em fora de jogo, que o árbitro não viu (se na altura houvesse VAR...). Havia confiança, numa seleção formada maioritariamente por jogadores do Barcelona, a melhor equipa do mundo naquele momento.

Já Portugal passava por um momento de transição. Queiroz tinha sido afastado, entrou Paulo Bento para revitalizar uma Seleção com a confiança em baixo.

E que bela resposta deram os jogadores lusos. Carlos Martins viu Piquè negar-lhe o primeiro em cima da linha de golo mas, antes do intervalo, o médio marcou mesmo, aos 45 minutos. Logo no quarto minuto do segundo tempo, Hélder Postiga marcou de calcanhar e embalou Portugal para uma exibição memorável. Aos 70, o mesmo jogador fez o 3-0, antes de Hugo Almeida, lançado no segundo tempo, fechar a contagem já nos descontos. Portugal humilhava os campeões do Mundo e da Europa na Luz, numa exibição memorável.

Cristiano Ronaldo foi titular neste jogo e deu imenso trabalho à Espanha. E marcou um dos mais belos golos da carreira, erradamente anulado pela equipa de arbitragem, graças a intervenção desastrosa de Nani.

Ainda com o jogo sem golos, Carlos Martins lançou o avançado pela direita. Cristiano Ronaldo colou a bola no pé direito, correu para a área em velocidade. Piquè veio disparado para o corte, de carrinho. Ronaldo esperou pelo momento certo, 'sentou-o' numa poltrona VIP. Veio depois Xabi Alonso em socorro do central. Também ele ficou a ver navios: Ronaldo simulou rematar e depois encenou o seu melhor golo na seleção e um dos melhores da carreira. À saída de Iker Casillas, picou a bola com conta, peso e medida, fazendo-a passar por cima do gigante guardião espanhol e de Puyol. Um golaço! Ou quase.

Quando CR7 já preparava festa rija com aquela maldade exatamente frente a melhor seleção do Mundo, aquele momento de inspiração contra o país onde jogava, apareceu Nani para lhe estragar a 'pintura', ao tocar na bola, já dentro da baliza. O golo foi anulado pelo árbitro francês Antony Gautier (Portugal e os árbitros franceses… Ainda se lembram de Marc Batta naquele Alemanha-Portugal, de 1997...? Rui Costa nem deve querer lembrar) mas não devia, por dois motivos: primeiro, Nani não está posição irregular quando toca na bola, já que Piquè estava a coloca-lo em jogo; segundo, quando Nani toca na bola, esta já estava toda dentro da baliza, logo, devia ter contado à mesma. Um problema que o VAR teria resolvido após duas repetições. Se houvesse VAR...

Correu mundo aquelas imagens de Cristiano Ronaldo, exasperado, irritado, a vociferar sabe-se lá o quê. Claro que se fosse hoje e o jogo tivesse vídeo-árbitro, todos estariam a celebrar a goleada de Portugal ao campeão do Mundo e da Europa e o melhor golo da carreira de Cristiano Ronaldo na seleção.

Nesse jogo, Portugal alinhou com Eduardo; Bosingwa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves e João Pereira; Carlos Martins, João Moutinho e Raul Meireles; Cristiano Ronaldo, Nani e Hélder Postiga. Jogaram ainda Rui Patrício, Pepe, Danny, Manuel Fernandes, Paulo Machado e Hugo Almeida.

A Espanha entrou com Casillas; Puyol, Piquè, Sergio Ramos e Capdevila; Busquets, Xabi Alonso, Xavi e Iniesta; David Silva e David Villa. Jogaram ainda Arbeloa, Marchena, Fàbregas, Fernando Llorente, e Fernando Torres.

Precisamente dez anos depois de ter sido humilhada por Portugal, a Espanha consegue o melhor resultado frente aos alemães. Um 6-0 que irá ficar na história.