O antigo guarda-redes de Benfica e Sporting analisou as estreias na Liga dos Campeões de José Sá e Mile Svilar, e comentou os erros dos jovens guardiões frente a Leipzig e Manchester United.
Em entrevista ao SAPO Desporto, António Fidalgo aplaudiu a coragem de Sérgio Conceição e de Rui Vitória na aposta em dois jovens guarda-redes num jogo da Liga dos Campeões, mas frisou também que a posição de guarda-redes é das mais injustas no futebol, porque um erro pode 'manchar' uma exibição globalmente positiva.
"São erros característicos de jovens que estão a começar e se [os erros] vão afectar ou não [as suas carreiras] só depende deles. Depende da forma como vão reagir. Foi uma coisa que aconteceu, que já não pode ser mudada, agora, muito mais importante que aquilo que já aconteceu é a forma como eles vão reagir em função daquilo que aconteceu", começou por dizer António Fidalgo sobre o possível impacto de um erro na carreira de um guarda-redes, mas acrescentou também que esta deve ser uma das posições mais injustiçadas no futebol, pelo menos no que diz respeito à crítica.
"Não sei bem se a posição do guarda-redes é a mais solitária, mas que é uma função claramente muito específica e há uma grande diferença entre os possíveis erros do guarda-redes e os possíveis erros de um jogador de campo, disso não tenho dúvidas. Normalmente, e vou colocar as coisas nos extremos, os avançados podem perder quatro ou cinco ocasiões de golo durante um jogo e depois marcando um golo tudo fica dissipado, pelo menos na grande parte das ocasiões fica assim. Já no caso dos guarda-redes acontece exatamente o contrário, faz uma excelente exibição, faz defesa incríveis, e depois no último minuto sofre um golo e é ele o responsável pela derrota. Isso não é justo, mas é assim que acontece até pela especificidade do lugar que ocupa e quando se é guarda-redes tem de se ter a consciência plena de que as coisas são assim", disse António Fidalgo.
Questionado sobre o posicionamento adiantado de Mile Svilar durante o jogo com o Manchester United, António Fidalgo considerou que tal aconteceu na sequência da própria estratégia global da equipa e que é sempre bom assistir a um guardião que jogue no risco.
"É uma forma de jogar, não só dele se posicionar em campo mas também, certamente, o resultado da forma como tem treinado face às características da equipa do Benfica. Um guarda-redes pode jogar um pouco mais atrasado ou um pouco mais adiantado face às características da própria equipa. Hoje, um guarda-redes tem que necessariamente estar englobado no treino tático da equipa, antigamente, no meu tempo, não era bem assim, as equipas treinavam taticamente e os guarda-redes ficavam à parte. Hoje os guarda-redes são englobados em todo o trabalho em especial nos processos defensivos, e até nos processos ofensivos já que o guarda-redes é o último defesa, mas é também muitas vezes o primeiro atacante", começou por analisar António Fidalgo.
"Englobado nesses processos, certamente que neste caso específico o treinador de guarda-redes e o Rui Vitória, assim como a estrutura técnica, lhe terá solicitado [a Svilar] para se posicionar assim pensando que os resultados seriam melhores. Eu, pessoalmente digo, e aí concordo com o José Mourinho, que gosto mais que um guarda-redes arrisque a sair, sabendo que corre riscos mas que cobre um ângulo muito maior, do que ficar sempre dentro da baliza, porque assim não será responsabilizado. Um guarda-redes que fique dentro da baliza e há um cabeceamento à entrada da pequena área ao ângulo e é golo, ele não é responsabilizado. Se sair e falhar, pode ser responsabilizado. Mas se sair e acertar evita o golo. Hoje em dia, vejo muitos guarda-redes a permitirem que os jogadores cabeceiem na pequena área, ou nas suas imediações, e muitas vezes em lances provenientes de cruzamentos longos. O que a mim me custa muito a compreender", finalizou António Fidalgo.
Já em relação à diferença de tratamento de Rui Vitória ao caso de Bruno Varela e agora ao de Mile Svilar, António Fidalgo entende que o técnico do Benfica deveria ter mantido Varela após a derrota no Bessa, mas aplaude a decisão de manter Svilar a titular após a derrota com o Manchester United.
"O Rui Vitória vai assumir as suas opções, as suas escolhas, tal como fez com o Varela. Na altura disse-o publicamente em vários órgãos de comunicação social, antes do Varela sair, que achava que o Varela deveria continuar depois daquele erro no Bessa. Teria de jogar porque senão seria demasiado penalizador para o guarda-redes, inclusive, poderia perder-se um guarda-redes. Não para sempre, mas para um período de tempo mais longo. Rui Vitória achou que devia jogar o Júlio César, as opções do treinador são essas e os técnicos correm riscos ao tomar opções. Nada contra a opção de Rui Vitória, eu preferiria que Varela tivesse jogado depois daquele erro. Embora não tenha sido uma forma consciente ou direta, mas Rui Vitória acabou por culpabilizar indiretamente Bruno Varela pelo que aconteceu no Bessa. Ora isso quereria dizer que agora teria de fazer o mesmo, mas ele já disse que não o vai fazer e aplaudo-o por isso", considerou António Fidalgo sobre a diferença entre os casos de Bruno Varela e Mile Svilar.
Questionado sobre os gestos de solidariedade de Lukaku e de outros jogadores para Svilar após o jogo com o Manchester United, António Fidalgo frisou que é nestes exemplos que acenta a formação de um jogador.
"O futebol é uma escola de solidariedade, e notou-se claramente no final do jogo entre Benfica e Manchester United. Fiquei muito agradado com o gesto do Lukaku, que percebo perfeitamente, e acho que foi bom para o miúdo. É bom para o Svilar sentir esse apoio e confiança que Rui Vitória lhe transmitiu dizendo que no próximo jogo será ele o titular outra vez", atirou António Fidalgo.
No caso da estreia de José Sá a titular no FC Porto num jogo da Liga dos Campeões, António Fidalgo considera que o jovem internacional sub-21 português tem muita qualidade e que a opção de Sérgio Conceição em deixar no banco Casillas é legítima.
"Para mim é um pouco difícil falar sobre as opções dos técnicos porque não assisto aos treinos. Agora, claramente, que sei que se o Sérgio Conceição colocou o José Sá no jogo com aquelas características é porque certamente confiava plenamente no José Sá, e poderá continuar a confiar, porque já deu provas no Marítimo e nas seleções mais jovens que tem capacidade. Se cometeu um erro? Cometeu, mas o Casillas não cometeu erros nos últimos jogos? Cometeu também. Em relação ao Sérgio Conceição, o que é que ele vai fazer? Vai continuar com o José Sá ou vai colocar novamente o Iker Casillas? Eu não sei porque é que optou pelo José Sá, dizendo apenas que era opção técnica, mas é legítimo. Agora, o futuro é que poderá tornar as coisas mais claras. Em relação a José Sá acho que ele vai reagir. Tem força mental para reagir apesar de ter demonstrado alguma ansiedade no jogo com o Leipzig. Nos primeiros lances do José Sá, ele não transmitia confiança à equipa, não só no golo, mas a seguir numa bola fácil em que podia ter agarrado e socou, onde os níveis de ansiedade estavam um bocadinho elevados", sentenciou António Fidalgo.
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