Um golo de Talisca e outro de Gaitán deram a segunda vitória ao Benfica em solo russo e colocaram os “encarnados” nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, o que acontece pela quarta vez desde que a prova foi remodelada. Hulk fez o tento dos russos mas não chegou. O Benfica de Rui Vitória está nos oito melhores da Europa e lidera a Liga Portuguesa. Quem diria que tal seria possível no início de época?
Se a 25 de outubro de 2015 alguém dissesse a um benfiquista que em março de 2016 estaria a liderar a I Liga, depois de derrotar o Sporting de Jesus em Alvalade e que estaria também nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, provavelmente soltaria uma enorme gargalhada. O sexto lugar ocupado pela equipa na Liga à 8ª jornada e as três derrotas em oito jogos não augurava nada de bom. Para piorar ainda mais o cenário, um conjunto de lesões tomou conta de algumas peças fundamentais da equipa, colocando a crença em títulos a num nível muito baixo.
Rui Vitória é que não se importou. Sempre com o mesmo discurso, fiel a si próprio, com confiança nas suas ideias e nos seus jogadores, foi vendo a equipa crescer com o passar dos jogos, vencendo partida atrás de partida até a liderança. A vitória esta quarta-feira na Rússia, a segunda na história do Benfica, colocou os "encarnados" entre os oito melhores da Europa, quatro dias depois de tomar de assalto à liderança da I Liga com vitória em casa do rival Sporting.
Se é verdade que este Benfica não deslumbra nos jogos grandes, é preciso elogiar o querer, a garra, a vontade com que se tem batido face às adversidades. A passagem aos quartos-de-final da Liga dos Campeões em casa do Zenit teve isso tudo. A equipa soube aguentar o ímpeto atacante do adversário, foi para o intervalo com a eliminatória a seu favor, aguentou a pressão contrária, não se deixou ir abaixo após sofrer o golo que deixava a eliminatória empatada e ainda teve forças para dar a volta e vencer.
Dirão uns que será sorte mas sorte procura-se. E o Benfica procurou-o desde o início. Entrou no estádio Petrovski com um guarda-redes de 22 anos que fazia o seu primeiro jogo na Champions, uma defesa remendada, atuando com um miúdo que jogava na equipa B há três meses, ao lado de um médio adaptado a central. Lutou com o que tinha, soube sofrer mas sempre com humildade até a estocada final.
É verdade que o Zenit não foi o que se esperava. Os russos também têm os seus problemas. Sem os castigados Criscito e Javi Garcia e sem o lesionado Garay na defesa, a equipa de André Villas-Boas viveu os dois jogos da eliminatória quase sempre ao sabor dos rasgos individuais de Hulk e Danny. A falta de ritmo, devido a paragem de inverno do campeonato russo, teve os seus efeitos negativos como já se previa. É verdade que a turma de São Petersburgo teve várias oportunidades para marcar mas foi muito perdulária. O Zenit teve sete soberanas oportunidades de golo mas só concretizou um. Mérito para Ederson que fez uma grande exibição e demérito para a pontaria pouco afinada dos russos.
Uma palavra para Rui Vitória. Para quem se dizia que não tinha mãos para este "Ferrari" chamado Benfica, o antigo treinador do Vitória de Guimarães até tem mostrado "mãozinhas" para um carro com tanta potência. Tem potenciado o que há de melhor no Seixal, lançado jovens na equipa principal, não se tem queixado de lesões e, com a sua humildade, lá vai levando "água ao seu moinho": é o treinador do Benfica com mais vitórias (5) numa só edição da Liga dos Campeões, igualou o registo de Jimmy Hagan (1972/73) como treinador do Benfica com mais vitórias fora (10) de forma consecutiva numa época e tem a melhor média de golos de sempre dos "encarnados" na Liga dos Campeões.
Os melhores do Benfica
Ederson voltou a mostrar segurança e, por agora, ninguém se lembra de Júlio César. Negou o golo a Dzyuba em duas ocasiões e outro a Smolnikov.
Lindelof terá feito o seu melhor jogo peloo Benfica, mesmo sabendo que teve de marcar um "pinheiro" de 1,96 metros. Samaris fez bem o seu papel na defesa, Fesja segurou o meio-campo, Renato Sanches levou a equipa para a frente quando era preciso, com as suas arrancadas. Gaitán deu profundidade quando era preciso e ainda fez um golo e uma assistência. Talisca e Jimenez saltaram do banco para serem eficazes e felizes. O primeiro fez o 2-1 nos descontos, o segundo fez o remate do meio da rua aos 85 minutos que Lodygin defendeu para a barra antes da recarga vitoriosa de Gaitan.
Os melhores do Zenit
Hulk fez o golo que empatou a eliminatória mas mesmo assim mostrou estar longe do que fez dele um jogador temível. Danny tentou levar a equipa para a frente mas nem sempre teve ajuda certa. Dzyuba apareceu nos momentos certos, criando e finalizando mas o último toque, a definição, foi sempre mal. E isso paga-se caro na Liga dos Campeões.
Reações:
Rui Vitória: "Estou orgulhoso pelos jogadores que tenho e pelo clube que represento"
Talisca: "A qualificação foi merecida"
Ederson: "Soubemos segurar o Zenit"
Jiménez: "Hoje calhou a mim ajudar com meio golo"
Samaris: "Champions? Não há limites"
Villas-Boas: "Sou portista, não me interessa até onde o Benfica pode chegar"
André Villas-Boas: "O resultado foi traçoeiro e um pouco injusto"
Comentários