Acredito que a frase do título reflita muito sobre aquilo que foi o jogo do Benfica de Bruno Lage frente ao Bayern de Munique de Kompany. Um jogo jogado em apenas meio-campo defensivo do Benfica.
Bruno Lage, ao contrário de Roger Schmidt, apresenta sérias preocupações com a análise do adversário e, neste sentido, seria expectável que ajustasse a sua equipa em função do Bayern, porém não me passou pela cabeça que mudasse a sua equipa de forma tão acentuada.
Face à ausência de Bah e sabendo que Kaboré apresenta alguns problemas defensivos, Bruno Lage optou por jogar com uma linha defensiva de 5 jogadores, mais precisamente em 5-3-2. António Silva voltou aos titulares, mas a grande novidade seria a titularidade de Renato Sanches em detrimento de Florentino Luís, por exemplo.
Esta surpresa destaca-se ainda sobretudo pela estratégia aplicada por Lage: um bloco baixo, a aguentar em organização defensiva o ataque continuado do Bayern de Munique, procurando momentos de transição ofensiva onde houvesse espaço para atacar o adversário - daí a preferência por jogadores como Akturkoglu e Amdouni de modo a garantirem maior frescura física para momentos de pressão e para momentos rápidos de transição.
Existiu coragem para deixar Di Maria no banco de suplentes mas, apesar de ganhar defensivamente com os dois avançados escolhidos, perdeu alguma tomada de decisão sem Di Maria, para além da capacidade de receber bolas de costas para o jogo, sem Pavlidis ou Arthur Cabral.
Bruno Lage não abdicou da sua estratégia para o jogo que correu bem, se o objetivo era o empate, até ao minuto 67' quando Musiala fez o 1-0 para os alemães. A grande questão é que o Benfica parecia estar a jogar evidentemente para o empate, uma vez que raramente encontrou ou procurou sequer soluções para apresentar um jogo mais ofensivo e tentar chegar a zonas mais avançadas.
A troca de jogadores não mudou o sistema, não mudou a estratégia, apenas mudou os intervenientes. Acrescentou tomada de decisão com Di Maria, mas não apresentou movimentos de rotura com Pavlidis ou com todos os restantes jogadores a jogar predominantemente em bloco baixo, incapazes de procurar transições ofensivas.
Quando jogas 80 minutos com uma estratégia bem definida, é difícil mudares rapidamente para uma estratégia mais ofensiva - algo que o Benfica tentou depois de sofrer golo, mas sem grande sucesso. No final, ficou o registo de um remate efetuado pelo Benfica, zero remates à baliza e sem qualquer canto convertido. Escusado será dizer que também não marcou.
Se o Benfica tivesse aguentado o 0-0 até aos 90 minutos, a grande maioria dos adeptos e da imprensa diria que foi uma estratégia muito bem planeada. Maior seria a euforia se o Benfica tivesse rematado à baliza e marcado algum golo, saindo do jogo com uma vitória. Lage seria ovacionado se trouxesse pontos de Munique, algo que nunca aconteceu, mas não trouxe.
Se jogas para não ganhar, muito dificilmente vais ganhar. Se não jogas para marcar, frente a uma equipa como o Bayern de Munique, a jogar fora de casa, então as probabilidades de perder são altíssimas. Poderemos discutir o facto do Benfica ter "lutado" (com muitas aspas) até ao fim pela conquista de pontos, mas também podemos discutir a falta de identidade que apresentou só porque jogou frente ao Bayern de Munique (com o todo o respeito que merece).
Todos queremos pontos, o problema é quando não olhamos a meios para os obter. Acabas por te afastar do processo, das tuas rotinas e fugir do ADN da tua equipa, do teu próprio modelo de jogo. Este artigo não saíria se o Benfica conseguisse pontos, mas as probabilidades de o escrever eram altas face à estratégia de Bruno Lage.
Não se trata de perder, trata-se da forma como se perde. Não se pode criticar uma abordagem super defensiva de um clube "mais pequeno" no Campeonato Português e depois elogiar uma estratégia exatamente igual na Liga dos Campeões. Os meios não justificam os fins e, principalmente num clube como o Benfica, o processo e a forma como se praticam futebol interessam muito.
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